Entre as milhares de pessoas que cruzaram o caminho de Léo Heck durante a febre pelos garimpos em Castelo dos Sonhos estava o ex-governador Silval Barbosa, preso por acusações de corrupção na concessão de incentivos fiscais e em contratos no Estado.

Clique aqui e aqui para ler as outras duas reportagens da série sobre Léo Heck

Silval começou a carreira política em Matupá, distante cerca de 230 quilômetros de Castelo. Foi eleito prefeito do município em 1993 e, cinco anos depois, tornou-se deputado estadual, sendo reeleito em 2002. Ganhou fama de garimpeiro quando frequentou o Vale da Esperança, onde os negócios de Heck estavam instalados.

“Ele nunca trabalhou em garimpo. Fazia picaretagem, queria vender coisas. Mas, trabalhar mesmo, ele nunca trabalhou”, diz Onça Branca. Nas palavras dele, Silval fazia “rolo” vendendo itens de primeira necessidade aos garimpeiros. “Qualquer coisa que precisava ele trazia, até roupas. Ele ficava muito por aqui. Agora, dizer que ele era garimpeiro, isso não”, relata.

“Ele nunca trabalhou em garimpo. Fazia picaretagem, queria vender coisas. Mas, trabalhar mesmo, ele nunca trabalhou

O ex-garimpeiro conta que nunca soube ao certo a profissão de Silval. “Ele se virava, pegava um ourinho aqui mais barato e vendia em São Paulo por um valor melhor, sempre ganhava o dinheiro dele, mas, profissão, não tinha nenhuma”.

Pergunto se ele se considera amigo de Silval. “Eu conhecia todo mundo né? A gente se dava. Não tinha amizade grande com ele. Todos que chegavam precisavam vir aqui falar comigo, pegar autorização”. Onça Branca diz ainda que, naquela época, nunca soube de má conduta por parte do ex-governador de Mato Grosso. “Ele não me passava muita confiança, mas, nunca me fez mal”, esclareceu.

Ao final da conversa sobre o ex-governador, conto que Silval segue preso em razão dos possíveis crimes financeiros contra o Estado e pergunto se ele lamenta o fato de o velho conhecido estar atrás das grades. “Talvez hoje ele esteja pagando pelo o que ele fez”, opina, sem hesitar. “Cada um geralmente tem o que merece né? Se hoje eu não tenho nenhum inimigo é porque eu nunca fiz mal, nunca tirei uma grama de ouro de ninguém.”

Arquivo pessoal

 Onça Branca durante almoço na escola que leva seu nome e ajudou a construir

Educação e saúde
Entre as obras que Onça Branca construiu no distrito que criou estão duas instituições de ensino, a Creche Irene Heck e a Escola Léo Heck. Segundo ele, tudo feito com recursos da família. “Já que tomei a decisão de construir Castelo, era minha responsabilidade promover saúde, educação e segurança”, justifica. A merenda, os materiais e os salários dos professores saíam do bolso dele, afirma.

“Colocava em prática o que aprendi em livrinhos do
Instituto Universal Brasileiro”

Onça Branca diz ter feito de tudo um pouco para atender aqueles que ali moravam: foi médico, dentista e até parteiro. Quando a malária chegou na região, conta que instalou 30 redes numa área em sua casa para tratar os doentes e que buscava carregamentos de remédios no Norte de Mato Grosso. 

Sem formação na área de saúde, o desbravador se viu diante de diversas situações em que, segundo ele, sua única opção era “botar a mão na massa”, tratando garimpeiros baleados e esfaqueados. “Colocava em prática o que aprendi em livrinhos do Instituto Universal Brasileiro” conta. “Um dos casos mais graves que atendi foi de um homem que abriu o peito num acidente com uma motosserra. Ele se recuperou.”

 Onça Branca tenta fechar o ferimento no peito do trabalhador causado por uma motosserra, um dos casos mais graves que já atendeu

Heck enumera outras obras e realizações: igreja, clube recreativo, concurso de miss, festivais de pesca e festas cívicas. Todo ano, mandava aviões buscar prefeitos da região e até policiais de outros Estados para desfilar em 7 de setembro.

Na corrida pelo ouro, não faltaram shows nacionais como Gretchen, Meire Rose e Márcia Ferreira. Quem também esteve em Castelo dos Sonhos foi o cantor Walter Basso, interprete da música que deu nome ao povoado.

Viúvo, Onça Branca hoje evita grandes festas e diz que sente falta da companheira de uma vida inteira. Festa mesmo ele vai fazer quando o distrito que criou for emancipado, garante. “Esse é meu sonho, mas ele foi vetado duas vezes por Dilma Rousseff.”

Casal Heck sempre sonhou com a emancipação de Castelo, vetada duas vezes pela ex-presidente Dilma

Confira as outras duas reportagens da série sobre Léo Heck:
O temido Onça Branca: entre a fama e a história
Onça Branca: ouro, poder e traição

 

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