À medida que o jogo avança, e algumas movimentações de suas peças tornam-se mais evidentes e necessárias, a difusão de certas “mensagens” que antecipam “códigos” aos participantes tornam-se fundamentais para balizar o direcionamento. O sigilo deixa de ser relevante, pois os movimentos são não retrógrados. A mensagem sobre economia e finanças precisava vir de Londres.

Todos que acompanham a economia mundial sabem do crescimento assombroso da dívida global, notadamente a da maior economia do planeta, os EUA. Sendo os EUA o núcleo da economia mundial, possuindo o “exuberante privilégio” de emitir a moeda de troca no comércio internacional, o mesmo encontra facilidade em “rolar” sua dívida. Por óbvio, tal “facilidade” não seria possível se o dólar deixasse de ser a moeda referencial. Este fato já foi abordado em artigos da série Xeque-mate.

A maioria dos economistas e políticos defendem que os déficits estadunidenses não importam. Mesmo com o déficit alcançando a marca de US$ 1 trilhão anual a credibilidade e capacidade de “emitir a moeda” resolvem o problema, nesta visão. Eles alegam que o percentual de comprometimento de pagamento de juros encontra-se atualmente em 12% (relação entre o valor pago versus a arrecadação de impostos), abaixo, portanto, da média do final da década de oitenta e início de noventa. Vide gráfico abaixo:

Fonte: Escritório de Administração e Orçamento e US Bureau of Economic Analysis.

Numa análise mais cuidadosa percebe-se que este índice não está relacionado somente ao montante da dívida, mas muito ligado a taxa de juros. Ao fim da década de noventa a taxa de juros era superior a 7% (sete por cento), comparada com os 2% (dois por cento) atual. Somente neste parâmetro o serviço da dívida mais que triplicaria se as taxas de juros fossem iguais. Por isso o esforço do FED em manter as taxas de juros baixas. O próprio CBO (Escritório de Administração e Orçamento do Congresso – EUA) estima que as taxas para títulos de dez anos, invertendo a tendência atual, devem dobrar entre agora e 2020.

Grande parte do motivo pelo qual as pessoas leigas têm dificuldade em compreender o tamanho da dívida é porque frequentemente ela é apresentada como um percentual do PIB, quando na verdade dívida se paga com receitas. Fica mais fácil visualizar a realidade do problema quando comparamos o tamanho total da dívida com a receita de impostos do governo estadunidense. Vide gráfico abaixo:

Em 2018 a dívida de US$ 21,4 trilhões era 10,9 vezes maior que o volume das receitas anuais de impostos, que eram de US$ 1,9 trilhão. É a pior relação de dívidas versus receitas em todos os tempos. Isso significa que os EUA necessitam basicamente de dois fatores para “rolar” sua dívida: juros baixos e “imprimir” muitos dólares.

Estes dois fatores associados não poderão ser mantidos por muito tempo, pois vão comprometer o rendimento dos fundos de pensão e gerarão inflação. Vejam mais detalhes em https://mises.org/power-market/national-debt-now-more-ten-times-annual-tax-receipts.

Uma recente reportagem (31/08/19) mostrou que os EUA não sobreviveriam sem dívida, onde lemos: “A saúde do país, medida pelo produto interno bruto per capita, mergulharia em território negativo sem depender de dinheiro emprestado, segundo dados compilados pela Bloomberg. De fato, os EUA cairiam quase no final de um ranking de 114 economias em PIB per capita. Somente Itália, Grécia e Japão se sairiam pior. Essa é uma mudança sísmica do confortável número 5 dos EUA em uma lista baseada em medidas convencionais”. Vide link https://finance.yahoo.com/news/america-wealth-hinges-ability-borrow-120000587.html.

Para aqueles que apreciam análises de ciclos econômicos podemos citar o livro The Fourth Turning. Nele os autores defendem que os EUA enfrentam, a cada 80 anos, um ciclo existencial. Segundo eles a primeira crise foi a questão constitucional (1781), após o fim da Guerra da Independência; a segunda crise foi a Guerra de Secessão (1861) e a terceira crise foi a Segunda Grande Guerra (1941). Este raciocínio aponta para o período de 2020-2021 como outro ápice do ciclo.

Como vimos a dependência do “exuberante privilégio” de emitir dólares é condição determinante para a manutenção do “status quo”. Estranhamente, como já mostrei nos outros artigos, várias nações de primeiro mundo não acreditam nesta manutenção e vem trocando suas reservas por ouro físico, de preferência sob sua custódia. Estes movimentos não são extensivamente divulgados, e, portanto, poucos o percebem. Quem lê meus artigos já o conhece.

Entretanto, como a prenunciar a próxima jogada, o chefe do Banco da Inglaterra, Mark Carney (já citado aqui em outro artigo meu) veio a público falar do tema, um movimento que já é denominado, existe algum tempo, de “desdolarização”.

Falando num Simpósio patrocinado pelo FED em Jackson Hole (Wyoming), em 23 de agosto, num discurso intitulado “Os crescentes desafios para a política monetária no atual sistema financeiro e monetário internacional” (https://www.bankofengland.co.uk/-/media/boe/files/speech/2019/the-growing-challenges-for-monetary-policy-speech-by-mark-carney.pdf?la=en&hash=01A18270247C456901D4043F59D4B79F09B6BFBC) Mark Carney, ex-banqueiro do Goldman e atual governador do BOE (Bank of England), dedicou nada menos que 23 páginas a um tema considerado “tabu” até o momento para um banqueiro central, a saber, passou a descrever o papel “desestabilizador” do dólar como reserva, afirmando que ele precisa terminar e que os bancos centrais necessitam se unir para criar sua própria moeda de reserva de reposição. Ele defendeu uma moeda “semelhante” a Libra, proposta pelo Facebook, como alternativa. Porque não o Bitcoin? Bem, este é outro assunto. O chefe do BOE chegou ao ponto de admitir que taxas de juros de equilíbrio muito baixas coincidiram no passado com guerras, crises financeiras e mudanças bruscas no sistema bancário. Ele ainda disse que “a aceitação alegre do status quo é equivocada”.

Uma característica chocante, porém, esperada, do discurso de Carney foi o senso de urgência em seu alerta e a preocupação com a extensão da turbulência social e do caos, caso os avisos sejam ignorados pelas autoridades competentes. Ele deu uma entrevista logo depois do simpósio, onde disse: “Mesmo um conhecimento passageiro da história monetária sugere que esse centro não se sustenta. Precisamos reconhecer os desafios de curto, médio e longo prazo que esse sistema cria para as estruturas institucionais e a conduta da política monetária em todo o mundo”. Em outra parte diz: “…encerrarei adicionando urgência ao desafio de Ben Bernanke. Vamos acabar com a negligência maligna do IMFS e criar um sistema digno da diversificada economia global multipolar que está surgindo”. Ele se refere à criação do IMFS (Sistema Financeiro Monetário Internacional Multipolar).

Carney observou que os problemas na economia dos EUA podem contaminar economias de mercado emergentes, que terão muita dificuldade em absorver o choque; enfatizando que uma moeda do tipo Libra poderia reduzir o impacto negativo nesses países, se o dólar mergulhar. Brandon Smith, do site Alt-Market.com, disse: “Carney não é o primeiro elitista a sugerir esse resultado. Mohamed El Erian, Christine Lagarde, Putin e Kremlin, para não mencionar o banco central chinês, TODOS sugeriram que uma nova moeda mundial está chegando para substituir o dólar. Largarde chegou a admitir que estão em andamento planos para um modelo de moeda global baseado em criptografia”.

Todavia, o que mais impressiona na dívida crescente estadunidense é constatar que ela não pode ser contida e os EUA não possuem condições de saudá-la. É claro que esse novo sistema traria o fim da hegemonia dos EUA e efetivamente encerraria o sistema financeiro global baseado em dólares. Vários tem alertado para isso e em artigo anterior eu relatei que o diretor de investimentos (CIO) da Blackrock (um dos maiores fundos de investimento do mundo), Rick Rieder, ponderou abertamente sobre o Fim da Política Monetária, dizendo: “Como se posicionar para esse fim de jogo?

Importa frisar de forma enfática que Mark Carney não é um economista do terceiro mundo, e nem um banqueiro inexpressivo, ele é simplesmente o nº 01 do Banco da Inglaterra, e representa o pensamento financeiro internacional. Todos sabem que o poder financeiro internacional se encontra na City de Londres e não em Washington.

Em 12 de setembro a Rússia noticiou que não pretende mais usar o dólar na tomada ou concessão de empréstimos. Na reportagem é dito: “A Rússia não concederá empréstimos em dólares norte-americanos durante o restante deste ano e todo o ano de 2020, voltando-se para o yuan e o euro, segundo o Ministério das Finanças”. Em outra parte diz: “Vamos emprestar outras moedas que não o dólar”, disse o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, na quinta-feira. Continua: “Este ano não temos planos de tomar empréstimos no mercado externo, cumprimos nosso programa e até o cumprimos em excesso. No próximo ano, vamos ver. Provavelmente não será apenas em euros, mas talvez em yuan chinês”, afirmou Siluanov – vide https://www.rt.com/business/468742-russia-borrow-yuan-euros/.

Anteriormente já havia sido revelado que Moscou e Pequim estão trabalhando em uma nova maneira de reduzir sua dependência do dólar, enquanto a Rússia planeja emitir seu primeiro título em yuan. “É um passo em direção à desdolarização”, disse Anton Bakhtin, estrategista de investimentos do Premier BCS. “Em segundo lugar, é uma ponte adicional entre nós e os investidores chineses”, acrescentou.

Alguns podem falar do momento das Bolsas de Ações internacionais, do comportamento do mercado. Estes certamente desconhecem que empresas ligadas a grupos vinculados a Bancos Centrais utilizam impressão de valores para recomprar suas próprias ações, impulsionando artificialmente o mercado de ações.

O gráfico abaixo mostra como o mercado de ações, de forma inusitada, desafia a lógica financeira ao aumentar, mesmo que os fundos continuem em fuga, fato que também já mostrei em outro artigo da série Xeque-mate.

O próximo gráfico mostra como isso é feito pelas empresas que possuem dinheiro do Banco Central, principalmente com juros negativos, usadas para recomprar suas próprias ações.

Isso somente é possível porque existe a Rede Global de Controle Corporativo (GNCC), que foi detectada por um trio de matemáticos, teóricos de sistemas complexos, do renomado Instituto Federal Suíço de Tecnologia de Zurique. Ela permite que através de participações reciprocas, utilizando também Fundos de Investimento, se detenha o controle de um enorme número de empresas. Este assunto será abordado em outro artigo futuro.

A economia real anda numa mão diferente das bolsas especulativas – vide https://finance.yahoo.com/news/u-manufacturing-contracts-first-time-140000169.html.

Tenho disponibilizado em meus artigos um volume significativo de evidências e testemunhos dos cenários projetados. São fatos com suas diversas fontes. O que pode ser dito está sendo revelado. É suficiente.

Este tem sido o meu papel para que no futuro as autoridades competentes não virem a público dizer que era “imprevisível”, que “não havia nenhum indício que apontasse que tal coisa aconteceria” ou outra desculpa do gênero. Caso o façam os artigos estarão aí para contradita-los.

É necessário avisar, é da regra do jogo, fazer entender não é, mas mesmo assim tenho tentado.

“Sabei que se o pai de família soubesse em que hora da noite viria o ladrão, vigiaria e não deixaria arrombar a sua casa.” Mateus 24:43

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas” – Sun Tzu em “A arte da Guerra”.

O efeito dominó começou, na medida que a cada movimento um novo dominó cai e empurra outro para a queda seguinte!

Todo jogo acaba ou muda de fase. O xeque-mate se aproxima.

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Luiz Antonio Peixoto Valle é professor e administrador de empresas.

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