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O xeque-mate em finalização dos preparativos

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O xeque-mate em finalização dos preparativos
Guerra das Malvinas ou Falklands: exemplo de atrevimento ao Sul do Equador

É natural o jogador dar vários xeques antes do xeque-mate. Serve para medir as capacidades do oponente e verificar se ele possui alguma estratégia sólida de resistência, ou se é apenas reativo. Após este “teste” inicial define-se o “modus operandi” final do xeque-mate.

Nos preparativos deve-se sempre fazer uso do bispo. Correndo na velocidade do pensamento ele prepara as mentes com baixo nível de discernimento para aceitar a ideia que deseja incutir e não raro imuniza os intelectos para não entenderem a lógica do jogo. Passeando pela “Janela de Overton”, em aproximações sucessivas e pacientes, desloca as crenças para aceitar o antes inaceitável, movendo-as para o terreno onde possam coincidir com a ideia básica conveniente e preparatória para o xeque-mate. O bispo se desloca bem pela engenharia social, conhece a mentalidade infantil e egóica da estrutura psíquica humana. Apela ao coração e às vaidades. Move-se sorrateiramente.

Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud e dotado de um intelecto diferenciado que influenciou decisivamente vários setores importantes dos governos e corporações, em seu livro “Propaganda”, abre o jogo: “Se entendermos os mecanismos e as motivações da mente de grupo, é agora possível controlar e reger as massas de acordo com nossa vontade, sem seu conhecimento”.

Mas não parou aí, afirmando em outra passagem: “A manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões organizados das massas é um elemento importante na sociedade democrática. Aqueles que manipulam esse mecanismo invisível da sociedade constituem um governo invisível que é o verdadeiro poder dominante de qualquer país. Somos governados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos são formados, nossas idéias são sugeridas, em grande parte por homens dos quais nunca ouvimos falar … em quase todos os atos de nossas vidas diárias, seja na esfera da política ou dos negócios, em nossa conduta social ou em nossa vida, pensamento ético, somos dominados por um número relativamente pequeno de pessoas … que entendem os processos mentais e os padrões sociais das massas.

São eles que puxam os fios que controlam a mente do público, que aproveitam as velhas forças sociais e criam novas maneiras de ligar e guiar o mundo”. É a chamada engenharia do consentimento.

Em 1982, entre os meses de abril e junho, uma colônia teve o atrevimento de confrontar um país partícipe do Império. Refiro-me à Guerra das Malvinas ou Falklands. Exceto o Chile, em níveis diferentes, a Argentina recebeu o apoio ou a neutralidade dos demais países relevantes na América do Sul em sua guerra contra a Inglaterra e isso acendeu o sinal de alerta nos escritórios em Washington, Londres e Roma. O Brasil envolveu-se diretamente no conflito ao interceptar um bombardeiro inglês e avisar ao Presidente estadunidense Ronald Reagan, além do secretário de Estado dos EUA, Alexander Haig, que não toleraria uma invasão do território argentino no continente.

Que atrevimento deste povo ao sul do Equador! O TIAR (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca) foi solenemente ignorado pelos EUA e Chile, mostrando que os tratados somente servem para serem rasgados, se isso convêm. Com o fim da Guerra, e a vitória do grupo anglo-saxão em meados de junho de 1982, foi decidido que era hora de colocar estes “selvagens” do sul no seu lugar.

De junho a agosto de 1982 foram realizados três seminários para debater as possíveis repercussões da guerra das Malvinas, sob o patrocínio do Centro Woodrow Wilson, um centro de pensamento estratégico, com sede em Washington. Como consequência da estratégia discutida nesses seminários surgia no final de 1982 o Diálogo Interamericano, tendo entre seus participantes ilustres o Sr. Fernando Henrique Cardoso.

Discorrer neste espaço sobre a estratégia elaborada pelo Diálogo Interamericano, que objetivava retirar os militares do poder em toda a América Latina e substitui-los por civis subservientes que aplicassem uma política de enfraquecimento gradual de seus países, seria muito longo. Todavia, uma arvore se conhece pelos seus frutos e basta olhar o que aconteceu depois disso na América Latina para ver que a estratégia deu certo. Não pensem que este foi um movimento da direita “imperialista” que excluía outros atores.

Eles não têm preconceito e trabalham com quem possa ajudar no atingimento de seus objetivos. No início de 1993, na Universidade de Princeton, Lula e Fernando Henrique Cardoso firmaram um acordo, na verdade um “pacto”. Lula representava o Foro de São Paulo fundado em 1990 e FHC respondia pelo Diálogo Interamericano, fundado em 1982 e que tinha a família Clinton como mola propulsora.

Uma estratégia importante a ser implantada era que atuassem dentro do conceito da “Estratégia das Tesouras” que consiste basicamente em ter dois partidos que falsamente se antagonizam, um mais radical e outro moderado, mas que na verdade servem ao mesmo ideal. Nesta estratégia era vital que eles, com seus braços políticos PSDB e PT, ocupassem todos os espaços do debate nacional, preenchessem totalmente o espaço midiático com esta falsa confrontação, de tal maneira que a atenção do público ficasse polarizada entre os dois e não surgisse espaço para debater-se outros assuntos que pudessem prejudicar a “agenda” deles.

Observem como ao longo dos acontecimentos FHC sempre atuou para proteger seu pupilo Lula. Bem, se eu fosse lhes contar os detalhes dos planos, e sua execução, eu teria de escrever centenas, talvez milhares de páginas. Todavia, o resultado da aplicação destas estratégias está aí para dar testemunho. Ambos, FHC e Lula tornaram-se presidentes e cumpriram seu papel. Assim, o Diálogo Interamericano e o Foro de São Paulo dominaram e quase destruíram o Brasil nas últimas décadas, tornando-o extremamente vulnerável e preparando-o para o xeque-mate vindouro.

Esta semana fomos bombardeados por notícias que a Amazônia estava em chamas. Profissionais da área percebem com facilidade porque esta notícia foi propositalmente superdimensionada. Criar a sensação de que a Amazônia é um patrimônio da humanidade e que os brasileiros não têm competência para cuidar dela, e por isso devem abrir mão de sua soberania, é algo que vem sendo construído a anos, desde a década de oitenta e noventa. Alguns exemplos:
– Al Gore (1989): “Ao contrário do que os brasileiros pensam, a Amazônia não é deles, mas de todos nós”
– François Mitterrand (1989): “O Brasil precisa aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia”.
– Mikhail Gorbachev (1992): “O Brasil deve delegar parte de seus direitos sobre a Amazônia aos organismos internacionais competentes”.
– John Major (1992): “As nações desenvolvidas devem estender o domínio da lei ao que é comum de todos no mundo. As campanhas ecológicas internacionais que visam à limitação das soberanias nacionais sobre a região amazônica estão deixando a fase propagandística para dar início a uma fase operativa, que pode, definitivamente, ensejar intervenções militares diretas sobre a região”.
– Henry Kissinger (1994): “Os países industrializados não poderão viver da maneira como existiram até hoje se não tiverem à sua disposição os recursos naturais não renováveis do planeta. Terão que montar um sistema de pressões e constrangimentos garantidores da consecução de seus intentos”.

A questão é mais global e complexa e citei as notícias ambientais enfocando o Brasil nesta semana apenas como um elo sensível de uma corrente maior. Ocorre que agora chegamos ao tempo dos xeques para viabilizar o xeque-mate. A resistência de Trump em participar da jogada final tem causado embaraços, ele o faz porque teme ser igualmente vítima. Em sua retaguarda a torre está fragilizada, mas o cavalo branco galopa com desenvoltura e tem mostrado disposição para brigar, o que causa temor em seus adversários. É bem diferente das terras tupiniquins.

Sem pão e circo o povo se rebela. Lembre-se da frase famosa dita por James Carville, na campanha presidencial vencedora de Bill Clinton: “É a economia, estúpido!”. Questões ambientais, ideológicas, sociais e tantas outras são úteis para os xeques. O xeque-mate começa pela torre, pela economia. As ideias são necessárias e “fabricadas” para dar uma justificativa palatável ao movimento econômico e militar.

A asfixia vem no movimento econômico e o “abate” no movimento militar, quando necessário. As movimentações da torre precedem as do cavalo. Até mesmo a máquina de guerra precisa de recursos financeiros para se mover. Sem “dinheiro” não há “combustível” para o resto.

O comércio e a economia atual, em seu aspecto global, possuem algumas colunas. Uma delas é o sistema Swift, que é uma abreviatura para Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication (Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais). É um sistema que tem como principal missão viabilizar a troca de informações bancárias e transferências de ativos entre as instituições financeiras.

É uma espécie de cooperativa criada em 1973 que interliga aproximadamente 11 mil instituições financeiras em 200 países, sendo essencial para fazer as liquidações financeiras entre os países. Para se ter uma ideia da importância deste sistema ele é usado até como forma de pressão no jogo mundial. Em 2015 quando a Rússia invadiu a Criméia os EUA ameaçaram suspender os bancos russos do sistema SWIFT. Contra o Irã a mesma ameaça aconteceu em novembro de 2018 com o secretário do Tesouro americano, Steven Mnuchin propondo desconectar o Irã do Swift.

Um sistema tão importante como este pode ser manipulado? Ele é vulnerável? Ocorre que como todo sistema de informática ele também é vulnerável a um ataque. Em 24 de maio de 2018 um banco do Chile sofreu um ataque onde “permitiu que hachers completassem quatro transações fraudulentas no sistema SWIFT antes que o ataque fosse descoberto”.

Em março de 2016 o banco central de Bangladesh relatou o desaparecimento de US$ 100 milhões de suas reservas em moeda estrangeira, após um suposto ataque de “hackers” ocorrido em 05 de fevereiro, deixando o FED de Nova York numa situação constrangedora. Segundo a Reuters: “”As contas mantêm principalmente títulos do Tesouro dos EUA e dívidas de agências, e os pedidos de fundos chegam e são autenticados pela chamada rede SWIFT, que conecta os bancos.”.

Em outra parte, ficou o registro: “Bangladesh não concorda que o Fed não seja culpado. “Mantivemos dinheiro com o Federal Reserve Bank e as irregularidades devem estar com as pessoas que lidam com os recursos”, disse na quarta-feira o ministro das Finanças, Abul Maal Abdul Muhith. “Não pode ser que eles não tenham qualquer responsabilidade”, disse ele, incrédulo”.

Até mesmo o New York Times em junho de 2006 foi obrigado a reconhecer que o sistema é vulnerável a “interferências” noticiando que a CIA, bem como o braço-de inteligência financeira do Departamento do Tesouro dos EUA acessaram a rede SWIFT – Bank Data Is Sifted by U.S. in Secret to Block Terror.

Todo sistema pode ser violado, e ter as reservas de um país dependente do registro “seguro” de um sistema, ao invés de ativos tangíveis sob sua própria custódia, é sempre um risco gigantesco a ser enfrentado. Como já salientei em artigos anteriores o Brasil praticamente não possui ativos tangíveis, como ouro, em suas reservas e sob sua custódia. Suas reservas são quase na totalidade composta de papeis. O Brasil é relevantemente vulnerável ao sistema financeiro internacional e seus sistemas.

Todos os países sérios do mundo estão reforçando suas reservas em ouro, como mostrei nos artigos anteriores, e colocando-a onde possam “ver”, e isso não começou agora. Em dezembro de 2014 o diretor Mark O’Byrne, executivo da corretora líder mundial de compra e venda de ouro Gold Core Mark, afirmou que: “Alguns governos estão nervosos sobre isso e eles estão repatriando seu ouro de volta para seus países, porque há a preocupação de que, em caso de uma crise cambial ou uma crise monetária ou crise financeira, eles não seriam capazes de acessar suas reservas de ouro”, disse O’Byrne.

Em 2017 foi noticiado que o banco central da Alemanha, o Bundesbank, completou uma operação para trazer metade das reservas de ouro do país de volta para casa, três anos antes do cronograma. A China comprou quase 10 toneladas de ouro em julho de 2019, marcando o oitavo mês consecutivo em que o país aumentou suas reservas, que agora somam 1.945 toneladas.

Os EUA mantêm os preparativos para dias turbulentos (vide meu artigo “O xeque-mate antecipa o contra-ataque”, de 05/08/2019) sabendo que a eclosão de violência pode trazer graves consequências num país onde a população tem em seu poder cerca de 393 milhões de armas de fogo. A China também está se preparando. Estão investindo pesadamente em suas Forças Armadas e na sua capacidade de manter a segurança interna, ao mesmo tempo que as compras de commodities foi fortemente expandida em julho, tendo aumentado substancialmente as importações de trigo e soja da Rússia.

Estocam ouro e alimentos, ao mesmo tempo que investem no melhor sistema de vigilância interna do mundo. Por que será?

O que eles, EUA, China e tantos outros países, estão vendo que o Brasil não vê? Esta percepção de segurança que motiva a inércia brasileira advém de que? Um simples ataque especulativo contra a nossa moeda, a suspensão dos bancos brasileiros do Swift, o bloqueio das reservas cambiais ou um ataque cibernético a nossa infraestrutura elétrica, retirando-a de funcionamento por 36 horas, seria suficiente para levar o Brasil ao caos. Todavia, tais fatos seriam apenas um xeque, não o xeque-mate.

Se no passado (notadamente nas décadas de setenta, oitenta e início de noventa) os “patriotas” brasileiros, civis e militares, quando ainda dispunham de certa influência e algum acesso a recursos estratégicos, quando a “oposição” era muito mais fraca e não haviam tantas ORCRIM´s, ainda assim não foram capazes de detectar e conter a estratégia aplicada pelo Diálogo Interamericano que deixou o Brasil nesta situação atual, como esperam poder fazer agora, tendo em conta que os “players” em atuação estão acima, e tem muito mais poder, que os componentes do Diálogo Interamericano?

As informações que disponibilizo em meus artigos, por si só, não tem o condão de estruturar uma estratégia de proteção e reversão do cenário do Brasil sem que as pessoas envolvidas nesta ação conheçam a fundo o jogo. Conhecer significa compreender perfeitamente os objetivos, a estratégia, os componentes, o “modus operandi” e como pensam os “jogadores”. Levei 21 anos de dedicação para desenvolver este conhecimento. Tenho dado informações de fontes abertas para que alguns despertem, ainda que eu não seja particularmente otimista neste quesito.

Aparentemente o destino do Brasil foi selado. O efeito dominó começou, na medida que a cada movimento um novo dominó cai e empurra outro para a queda seguinte!

Todo jogo acaba ou muda de fase. O xeque-mate se aproxima.

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Luiz Antonio Peixoto Valle é professor e administrador de empresas.

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