O próximo ano poderá chegar junto com mais recessão econômica mundial. A instabilidade na cadeia de produção no pós-pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia geram efeitos que estão fazendo governos colocarem o pé no freio.
O sinal mais nítido veio das medidas protetivas que o presidente norte-americano Joe Biden autorizou no começo deste ano para proteger o comércio interno da inflação e dos juros altos. Aliás, esses são fatores econômicos temidos pelos especialistas.
“A reorganização da cadeia de preocupação no pós-pandemia tem gerado pressões inflacionárias e, principalmente, o aumento da taxa de juros no mundo inteiro. Com esses movimentos, a economia mundial tende a caminhar para um comportamento recessivo, e a duração e o impacto dela ainda são imprevistos nas melhores análises”, diz o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), Gustavo de Oliveira.
Rússia X Ucrânia
Segundo o mestre em economia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Fernando Henrique Dias, os Estados Unidos e a União Europeia já registraram números da chamada recessão técnica: o PIB (Produto Interno Bruto) desses países parou de crescer por dois trimestres seguidos, ou seja, meio ano sem crescimento.
Ele diz que os sinais podem ficar mais fortes e irreversíveis nos próximos meses, quando o frio se tornar mais rigoroso no hemisfério norte. Nesta época, a demanda começa a ser maior por energia elétrica, e a dependência dos países europeus da Rússia para o serviço é a pior notícia, neste momento de guerra.
O conflito que se aproxima de 1 ano (os ataques começaram em fevereiro de 2022) colocou de um lado a Ucrânia e aliados e do outro a Rússia. O temor é que o presidente Vladimir Putin tome medidas de retaliação, no quesito econômico, contra os países que apoiam a Ucrânia.
“O mundo já está a caminho da recessão. Não haverá um momento único em que diz que entrou na recessão. Um país que parece estar com economia sólida hoje, daqui algumas semanas colapsa; isso já aconteceu em 2008. Como a economia é globalizada, todos países devem sentir algum efeito em magnitude diferente”, afirma Fernando Henrique.
O que isso tem a ver com Mato Grosso?
O especialista afirma que as recessões mais recentes ocorreram no mercado especulativo, setor da economia bem mais sensível às mudanças de humor dos políticos e dos países.
No dia a dia, as oscilações aparecem na queda do PIB, desemprego, perda de renda e ociosidade da indústria. O Brasil tem hoje ao menos duas dessas qualidades. O exemplo mais recente e vívido aqui foi a alta dos combustíveis, controlada após meses, porém, já com sinais de que pode aumentar de novo.
Segundo Fernando Henrique, Mato Grosso estaria menos exposto à situação prevista por causa da economia com peso grande do agronegócio – o capitalismo produtivo. Mesmo assim, o governador Mauro Mendes pediu cautela na revisão do Orçamento 2023 na Assembleia Legislativa.
O cálculo feito pelo governo estima orçamento de R$ 30 bilhões, mas os deputados avaliam subestimativa na casa dos R$ 5 bilhões. Contudo, o valor inicial deve ser mantido.
“A produção de alimento é algo necessário. Mesmo em recessão mundial, as pessoas continuam se alimentando, mesmo que o padrão caia. É diferente das indústrias, que dominam a economia de São Paulo, por exemplo, em que são mais fortes as retrações”, comenta.
O empresário Gustavo Oliveira aponta para o mesmo fator, mas diz que o sinal amarelo está aceso também em Mato Grosso, por causa da “volatilidade” da economia no mundo e das medidas que poderão ser tomadas daqui para frente pelos outros países para protegerem a si mesmos.
“O tempo de duração da recessão é incerto e a intensidade vai depender das medidas de estímulos que os governos possam tomar para reaquecer suas economias. Enquanto durar uma forte demanda por alimentos e energia verde, Mato Grosso segue relativamente protegido”, diz.
