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Nísia Trindade e a Defesa de Recomendações Científicas

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Nísia Trindade e a Defesa de Recomendações Científicas
(Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

Embora a história moderna seja repleta de controvérsias provocadas pela ciência, a desconfiança pública nela tem aumentado nos últimos anos. Alguns dos exemplos mais conhecidos são as objeções à vacinação e aos organismos geneticamente modificados (os transgênicos). Ou seja, movimentos anticientíficos têm crescido no mundo.

Muitas organizações dedicadas ao desenvolvimento da ciência têm expressado preocupação em relação ao risco de declínio da confiança na ciência enquanto uma instituição, uma preocupação que precede 2020 e a pandemia de covid-19. Cabe perguntar se a elaboração da vacina da covid em tempo recorde não teria aprofundado essa desconfiança na ciência.

Diferentemente de crenças religiosas, a compreensão da ciência requer habilidades cognitivas que não são facilmente adquiridas. Teorias científicas podem ser drasticamente contraintuitivas, pois o aprendizado delas requer um considerável treinamento científico.

As universidades podem ser divididas em áreas científicas e não científicas, embora politicamente elas evitem isso. O prestígio da ciência e os recursos atrelados a ela constituem bons motivos para evitar a separação ciência/não ciência. Na área das chamadas “ciências humanas” pouco existe de ciência. Os profissionais dessa área praticamente não possuem treinamento científico. Trabalham dentro da tradição das humanidades. Uma leitura das pesquisas da área e dos periódicos que as divulgam pode ser esclarecedora.

A nova ministra da saúde, Nísia Trindade, foi socializada dentro da tradição das humanidades (graduada em ciências sociais, mestre em ciência política e doutora em sociologia). É bolsista de produtividade do CNPq, nível 1A, o que demostra ser detentora de prestígio na pesquisa brasileira. Tem realizado investigações na especialidade denominada Pensamento Social Brasileiro, um território em que o treinamento científico não é importante. Embora tenha publicações, aquelas em que ela publica em sua área de pesquisa mostram a não importância da ciência enquanto abordagem, seja de tema do Pensamento Social Brasileiro, seja de temas na confluência entre esta área e a Sociologia Política.

A nova ministra começou sua gestão, revogando “notas técnicas, como a recomendação da cloroquina e uso da hidroxicloroquina”. Recomendações que ela considera como anticientíficas. Muitas objeções foram criadas em relação à administração desses dois medicamentos. Parte dessas objeções são extra científicas e estão mais relacionadas à defesa de certa crença na ciência e de certa defesa política do que realmente com objeções científicas.

Não é necessário que a ministra da saúde seja médica ou pesquisadora da área médica para obter êxito na gestão do ministério da saúde, mas ouvir os mais diferentes segmentos da área médica e científica parece ser uma boa estratégia para não defender crenças políticas e científicas e não sustentar revanchismos políticos que mais atrapalham do que ajudam.

Luís Benedito Canaverde é empresário e graduado em filosofia.

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