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Moradores pedem a volta de médico demitido por chamar a atenção de filho de paciente

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Moradores pedem a volta de médico demitido por chamar a atenção de filho de paciente

Moradores do Bairro Vila Artur, em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, realizaram um protesto na manhã desta segunda-feira (05) pedindo a volta do médico José Carlos Dias, 35 anos, à Unidade Básica de Saúde (USB) do bairro.

O médico foi demitido na última quinta-feira (1º), por telefone, no mesmo dia em que teria advertido o filho de um paciente idoso, de 65 anos, por ele ter deixado o pai ir sozinho na consulta. O idoso, de acordo com médico, não tinha a menor condição de responder às perguntas necessárias para a consulta.

A demissão causou revolta nos moradores, que dizem gostar muito do médico e afirmam que ele chegava a atender até em casa os pacientes que não tinham condições de chegar à unidade hospitalar.

A Prefeitura de Várzea Grande, porém, nega que a demissão tenha acontecido devido à advertência do médico ao filho do paciente. Segundo a assessoria, foi registrada uma denúncia de que José Carlos teria agredido o paciente idoso e, como esta seria a terceira denúncia contra o médico, que não é concursado, a prefeitura achou melhor demiti-lo.

Consulta polêmica

O caso que levou à demissão aconteceu na última quinta-feira (1º). Segundo o advogado do médico José Carlos Dias, Jônatas Peixoto, durante uma consulta com um idoso de 65 anos, o médico percebeu que o paciente estava com problemas cardiológicos e precisava de um atendimento mais adequado.

“Ele fez os exames, estava explicando para o paciente sobre os procedimentos e fazendo algumas perguntas. Só que o paciente é idoso e, além disso, não sabia responder às perguntas que o doutor José estava fazendo. Aí ele pausou o atendimento e pediu para a equipe dele chamar alguém da família”, contou o advogado.

O médico José Carlos Dias

O filho do idoso foi até a unidade de saúde. Porém, segundo o advogado, ele já teria chegado irritado por ter sido chamado e passou a ofender o médico com xingamentos.

“Quando ele chegou, o doutor José advertiu o familiar em relação aos cuidados com o paciente. Falou: ‘olha, é uma pessoa idosa, com problemas cardíacos, precisa de atenção, precisa de alguém acompanhando, ele não conseguiu responder às minhas perguntas e eu preciso passar algumas instruções’”, disse Peixoto.

Com a advertência do médico, o filho do idoso ficou ainda mais nervoso e teria ido para cima de José Carlos para agredi-lo. Temendo por sua segurança, o médico fechou a porta do consultório. E, nesse momento, o filho deu um chute na porta.

“Tudo isso gerado pela negligência do filho. Eu só orientei ele sobre não ter comparecido a uma consulta extremamente importante”, disse o médico ao LIVRE.

Pouco depois, segundo o advogado, José Carlos Dias recebeu uma ligação da Secretaria Municipal de Saúde demitindo-o, sem justa causa. Na ligação, apenas foi alegado que “não estavam mais precisando do serviço dele”.

“De antemão, foi precipitada a ação da secretaria, ainda mais dessa forma, por telefone, é bastante estranho. Mas ainda dá tempo de a gente averiguar isso e requerer o retorno dele”, disse o advogado.

Segundo Jônatas Peixoto, ele e seu cliente entraram com um pedido na Câmara Municipal pelo regresso do médico. José Carlos registrou um boletim de ocorrência alegando ter sido vítima de difamação, injúria, calúnia e desacato contra o servidor público.

Moradores protestam

José Carlos é médico da família e querido por muitos moradores. Em protesto pela demissão repentina do médico, a população se reuniu em frente à Unidade Básica de Saúde do Vila Artur pedindo seu retorno. Em faixas, eles pediam por “justiça”.

“A reivindicação é que o doutor volte a atender aqui. Porque ele é o único médico que dá atenção necessária para todo mundo. Ele atende aos quatro bairros da redondeza. Quando o paciente não pode vir, ele vai até a casa, ele dá a atenção que realmente o paciente precisa”, disse a consultora de vendas Elenice Soares, 45 anos, uma das moradoras que participou do protesto.

Segundo a moradora, o filho do paciente não teria aceitado ouvir que estava sendo negligente com o pai e, por isso, toda confusão aconteceu.

“Por conta disso, ele foi retirado daqui. Não sei se eles queriam que o filho do paciente batesse no doutor, que desse um tiro”, disse Elenilce, revoltada com a situação.

A população do bairro tem uma relação muito próxima com José Carlos, inclusive mantendo contato com o médico via WhatsApp.

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O outro lado

O LIVRE entrou em contato com a prefeitura de Várzea Grande. A assessoria informou que a demissão aconteceu porque essa é a terceira denúncia contra o médico José Carlos Dias.

Segundo a assessoria, José Carlos já teria sido denunciado pela Câmara de Vereadores por não estar cumprindo horário. À época, foi aberto um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) contra o médico, que não justificou o não cumprimento de horário e ele teve parte de seu salário descontado.

Já na última quinta-feira (1º), foi aberta uma denúncia contra o médico diretamente na ouvidoria do Sistema Único de Saúde (SUS), de que ele teria agredido fisicamente um idoso, no caso, o paciente da confusão na unidade de saúde.

Como ele não é concursado, apenas contratado, e essa era a terceira denúncia – não sendo informada qual era a outra pela assessoria da prefeitura – o médico José Carlos acabou demitido.

A assessoria ainda informou que caso a denúncia não seja comprovada, o médico poderá retornar à unidade de saúde. Questionada sobre o protesto dos moradores, a assessoria informou que assim como existem moradores contra a demissão, há também os que são a favor e que todos precisarão aguardar a investigação da denúncia.

Procedimentos futuros

Ao LIVRE, o médico José Carlos disse que, além de tentar reaver seu emprego, irá entrar com uma denúncia contra o filho do paciente no Conselho do Idoso, devido à negligência dele em não acompanhar o pai na consulta.

“Uma consulta médica de gravidade e [ele] somente apareceu após solicitado. Fui explicar a obrigação dele e aí que começaram as agressões, levando a esses crimes e ao risco de agressão física, se eu não tivesse conseguido em tempo hábil trancar a porta do consultório”, disse o médico.

Segundo José Carlos, a população está bastante consternada com sua dispensa e, além da manifestação, fez também um abaixo-assinado para que ele retorne à unidade de saúde.

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