Ednilson Aguiar/Olivre
Apesar de alguns moradores ameaçarem resistir, cerca de 16 famílias já saíram voluntariamente do local
Os moradores da comunidade Coxipó-Mirim, fundada há doze anos por pequenos produtores rurais, amanheceram assustados na manhã de segunda-feira (11). Por ordem da Justiça, uma operação foi montada pela Polícia Militar para retirar as 120 famílias dos mais de 250 hectares onde vivem irregularmente.
Na entrada da comunidade, caminhões de frete faziam fila para levar os pertences dos produtores. E um toldo foi montado para abrigar os policiais que aguardavam a saída voluntária dos moradores. Parte deles, no entanto, ameaça resistir à decisão judicial e à ação da polícia.
Apesar de oficialmente o responsável pelo processo ser o espólio de Flávio Inacio da Costa Monteiro, os moradores do Coxipó-Mirim dizem que o principal interessado nas terras seria o empresário Jorge Pires de Miranda, dono da Construtora Concremax.
Flávio Inácio foi vizinho da comunidade e reclamou as terras dois anos depois de ela ser ocupada, em 2008. Mas, segundo os moradores, o antigo proprietário não teria condições financeiras de arcar com o valor da ação judicial. A partir daí, Pires teria entrado no negócio bancando os custos do processo, para depois adquirir as terras. Apesar de isso não ser ilegal, os moradores se diziam revoltados.
“Eu tenho mais de dez anos aqui, a minha família e os meus filhos são dessa comunidade. Os caminhoneiros falaram que o Jorge Pires está pagando por tudo e a gente sabe que os herdeiros não têm condições de fazer uma reintegração no valor destes”, falou Fernando Pereira da Silva, um piscicultor que mora na comunidade.
Ednilson Aguiar/Olivre
Muitos moradores realizaram empréstimos de até R$ 200 mil para investir nas terras. A comunidade criou uma associação para lutar pela área e viabilizar a produção rural
Segundo informações do tenente-coronel Anderson Luiz da Silva, chefe da operação, o autor da reintegração é quem banca todos os custos da operação: como água, alimentação e abrigo para os policiais militares. Silva, no entanto, disse não saber ao certo o nome do autor.
Até o final da tarde da segunda-feira, os caminhões de frete levaram cerca de 20 famílias que saíram voluntariamente das terras, mas muitos moradores ainda resistiam e diziam que vão ficar até que o advogado da Associação de Moradores do Coxipó-Mirim consiga reverter a sentença assinada pela juíza Adriana Sant’anna Coningham, da Segunda Vara Cível Especializada em Direito Agrário.
“Nós não estamos fugindo do acordo, eles que estão fugindo disso tudo. Nós somos humilhados e massacrados, mas nós queríamos ficar nas nossas casas, nós queremos pagar, queremos o nosso direito”, comentou Maria de Fátima Pereira do Nascimento, presidente da associação de moradores.
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Paulo Marques: “Zumbi, Mandela e Luther King me ensinaram a lutar pelos meus direitos”
Segundo informações da Polícia Militar, a reintegração deve durar até a próxima terça-feira, uma vez que não será possível remover todos os moradores da área. A energia foi cortada para incentivar a saída deles. Os moradores reclamam que não é possível remover as criações das pequenas chácaras e que por isso seria impossível sair em dois dias.
“Eu estou há onze anos lutando por um pedaço de terra para trabalhar e estou sendo despejado de maneira arbitrária. Estamos sendo arrancados aqui de dentro na pressão psicológica e não sabemos onde vamos colocar as nossas coisas”, falou o produtor Paulo Marques.
Outro lado
Em contato com a reportagem do LIVRE, o empresário negou que tenha custeado a reintegração: “A área não é nossa, porque iríamos custear despesa?”, questionou ele.
