O Ministério da Saúde rebateu críticas feitas por médicos que atuam em Mato Grosso contra o novo tratamento de hanseníase, chamado de multidrogaterapia única – MDT-U. Segundo a pasta, a proposta tem como base um “robusto” estudo brasileiro e outras pesquisas nacionais.
A mudança interessa principalmente a Mato Grosso, líder nacional de incidência da lepra há 30 anos. O novo tratamento prevê a redução de um ano de tratamento para seis meses, nas ocorrências mais graves da doença. Segundo o médico José Cabral, que tem 40 anos de experiência na área, a proposta fará com que enfermos voltem a sofrer “como nos tempos bíblicos”.
No entanto, para o governo, a diminuição no tempo de tratamento proporcionará maior qualidade de vida aos usuários do SUS e reduzirá o abandono do acompanhamento médico, quando os doentes deixam de comparecer às unidades de saúde. A proposta ainda será submetida à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).
A proposta é criticada inclusive pela Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) que divulgou uma carta, no dia 17 de abril, alertando contra o risco das alterações. O ex-secretário de Saúde de Cuiabá, Werley Perez, diz que o estudo brasileiro não é suficiente para que a decisão de diminuir o tempo de tratamento fosse tomada.
“Nenhum lugar do mundo trata hanseníase como o Brasil quer tratar, porque não faz sentido reduzir o tempo do tratamento usando a mesma medicação”, afirma. Para José Cabral, a única explicação para que o tratamento seja aprovado é o corte de gastos.
“Isso é um crime, eu não vou participar dessa patifaria comandada pelo governo, pelo Ministério da Saúde, que deveria mudar de nome, deveria se chamar Ministério da Doença, porque a hanseníase vai voltar, nós vamos ver pacientes sequelados”, criticou.
Veja a nota completa:
O Ministério da Saúde está discutindo a proposta de alteração do esquema de tratamento da Hanseníase para um esquema com multidrogaterapia única – MDT-U, com base em estudos internacionais e um robusto estudo brasileiro, que asseguram a eficácia na diminuição do tempo de tratamento, proporcionando maior qualidade de vida para os usuários, além de reduzir o abandono do tratamento.
A proposta de alteração do esquema de tratamento ainda será submetida à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) para análise e encaminhamentos.
A mesma já foi discutida internamente no âmbito do Ministério da Saúde, no Comitê Técnico Assessor da Hanseníase, formado por diversas entidades como as Sociedades Brasileiras de Hansenologia, de Dermatologia e de Fisioterapia, Conselho Nacional dos Secretários Estaduais e Municipais de Saúde (CONAS e CONASEMS), Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase, universidades, especialistas, entre outros. Também em oficinas com os Centros de Referência nacionais, regionais, estaduais e municipais, a primeira já realizada em Manaus.
A discussão inclui a necessidade de um protocolo de acompanhamento dos casos para orientar a conduta frente às situações que não responderem ao esquema proposto, bem como os esquemas de tratamento substitutivos.
O MDT-U consiste em um tratamento uniforme para as pessoas acometidas pela doença, independente da classificação operacional (paucibacilar ou poucas bactérias e multibacilar ou muitas bactérias), o qual propõe o uso de seis doses do medicamento, em regime ambulatorial nas unidades básicas de saúde ou, ainda, em serviços especializados.
Ministério da Saúde