O descompasso entre medidas de autoridades no Brasil sobre o novo coronavírus vem do desconhecimento, até o momento, da evolução e da letalidade do contágio por faixa etária.
O que vem sendo mais adotado segue orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde, de isolamento total como a medida segura para a prevenção à doença.
Contudo, essa medida não é consenso e vinculada mais ao posicionamento político do que à confiança do que está sendo estabelecido como regime de saúde.
O médico Alessandro Loiola, que atua há 20 anos na área, diz que passou a maioria desse tempo no atendimento de urgência e emergência e vê desinformação no serviço prestados pelas entidades de saúde.
Ele segue a linha pragmática do tratamento médico, acolhendo as informações de estudos já divulgadas sobre o comportamento dos vários tipos de vírus e as reações que eles causam no organismo humano.
“Influenza e covid-19 são vírus bem ‘aparentados’, possuindo vias de transmissão similares e sintomas bastante parecidos. Então, muitos especialistas acreditam ser razoável fazer paralelos entre as medidas que empregamos para conter a influenza, extrapolando-as para a covid”, diz o médico.
O coronavírus é conhecido há décadas por pesquisadores da saúde, que conseguiram rastrear a ação de parte deles no organismo, haja vista as vacinas de imunização contra as gripes.
O novo coronavírus
O “novo” que a espécie de agora carrega inclui o caminho que ele percorrerá no contágio e o índice de letalidade. Mas, para o especialista, não há motivo para medidas extremas, como o isolamento total.
O que vem sendo adotado por alguns países, como o Brasil, está, afirma o médico, mais baseado no achismo do que no histórico do coronavírus.
“Não existem dados mostrando que fechamento de escolas é eficaz para reduzir a transmissão do vírus da gripe comum, ou retardar o pico da epidemia. Mas fechar escolas certamente possui grandes impactos sociais e grande custo econômico. Por isso, o fechamento de escolas deveria ser uma medida adotada apenas se a pandemia estivesse muito, muito severa, e ainda assim deveriam permanecer fechadas pelo menor tempo possível”, comenta.
“Quarentena vertical” e “quarentena horizontal”
O médico Alessandro Loiola diz que o conflito nas diferentes visões pode ser ilustrado pelo que ele chama de quarentena vertical e quarentena horizontal.
Na primeira versão, a qual ele mesmo adota, as medidas sociais de restrição devem ser adotadas conforme a evolução da doença. Inicialmente, somente as pessoas no grupo de risco devem participar da quarentena.
Caso o quadro se modifique e seja identificado o contágio de pessoas fora desse grupo, as medidas devem ser expandidas para aumentar o controle.
“O primeiro caso de covid-19 foi diagnosticado em 8 de dezembro de 2019, na China. Desde então, transcorridos 113 dias até a data de hoje (30/03/20), tivemos cerca de 35 mil mortes por coronavirose – ou uma média de 12 mortes por dia. Curiosamente, a covid-19 não causou sequer um óbito entre crianças com menos de 9 anos de idade”, afirma.
A quarentena horizontal a é que vem sendo indicada por organizações oficiais de saúde. O problema está falta de prática da medida – o que a torna uma “farsa”.
Se não vale para todos, diz ele, então não é “horizontal”.
“Se é para todo mundo parar, quem vai atender as pessoas nos hospitais, quem vai para hidrelétricas mandar fornecimento de energia para sua casa? E se o profissional da saúde vai trabalhar de ônibus, quem vai dirigir se não tem motorista?”.
O exemplo alemão
O médico usa como amostra de sua posição o plano adotado pelo governo alemão e que tem surtido efeito, deixando o país com baixo índice de contágio, em uma região de países em situação bem adversas, como a Itália e a Espanha.
“Alguns supermercados na Alemanha, por exemplo, controlam o número de pessoas que entram, permitindo que as distâncias entre elas sejam mantidas com conforto. Isso permite que a economia gire e que a escassez seja evitada, sem colocar ainda mais vidas em risco”, afirma.
Para o médico, medidas educativas, como evitar grandes aglomerações, minimizar o contato, manter distância de 1 metro entre uma pessoa e outra, e evitar ao máximo o contato com a população de risco são suficientes para o quadro momentâneo do contágio no Brasil.
“Pessoas doentes e sintomáticas devem ser mantidos em casa. O mesmo vale para idosos que ainda trabalham, pelo menos até que o número de casos e o risco diminuam”.