Cidades

Mães de crianças com câncer: as super-heroínas da vida real

10 minutos de leitura
Mães de crianças com câncer: as super-heroínas da vida real
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Elas se entregam, abandonam emprego, ficam meses longe de casa e tentam, a todo momento, não perder o sorriso no rosto para dar forças aos filhos. Mães de crianças com câncer são a prova de que o amor de mãe é, de longe, a força mais poderosa do mundo.

“A mãe tem uma sensibilidade maior para acompanhar o tratamento. O homem acho que não suporta, uns abandonam, outros deixam entrar outra mulher na vida. Mas a maioria das crianças são as mães que estão aí 24 horas. Sempre falo para elas que, dos 100% do tratamento, 50% é medicação e 50% é a mãe”, disse a assistente social da Associação de Amigos da Criança com Câncer (AACC), Marilce Barros.

Depois que a doença é descoberta, a criança precisará de cuidados para o resto da vida, seja na alimentação, ou no ambiente em que vive, visto que o câncer sempre pode voltar. Ou seja, essas mães são obrigadas a mudar tudo ao seu redor e isso é para sempre.

Em visita à AACC, o LIVRE conheceu várias guerreiras que dedicam suas vidas a cuidar dos filhos desde o diagnóstico da doença. Duas delas aceitaram contar suas histórias.

Neste dia das mães, o LIVRE apresenta a você leitor Rosimeire Paula de Oliveira, 35 anos, mãe da pequena Heloisa, 05 anos, e Francisca das Chagas da Silva Nunes, 40 anos, mãe do Luan, 15 anos. As duas representam parte das mães que vivem na casa de apoio e também poderiam ser chamadas de heroínas da vida real.

YouTube video

Diagnóstico

Heloisa tinha 1 ano e 8 meses quando a família descobriu um tumor em sua cabeça. Ela ficou paralisada, os pais a levaram em um neurologista, ainda em Lucas do Rio Verde, cidade natal da família, e ele imediatamente os mandou para o Hospital de Câncer de Mato Grosso.

“No Hospital de Câncer a doutora falou que o diagnóstico dela não tinha o que se fazer, que era para nós irmos para casa e aguardar chegar a hora dela”, lembrou a mãe Rosimeire.

Os pais não aceitaram o diagnóstico e foram a outro médico, uma neuropediatra, que os encaminhou para um terceiro especialista. Este tentou remover o tumor, mas não foi possível e eles, mais uma vez, foram enviados ao Hospital de Câncer.

O diagnóstico seguia sendo o mesmo, na visão dos médicos não havia cura, mas, ainda assim, pediram para que Heloisa fizesse radioterapia. Durante as sessões, eles conheceram mais uma médica, que os encaminhou para a Santa Casa de Misericórdia.

Lá, Heloisa iniciou a quimioterapia. São três anos e quatro meses de luta em busca da cura, um ano e dois meses de quimioterapia. Por várias vezes a pequena ficou debilitada e não conseguia nem se sentar.

“Chegou no fundo do poço mesmo, diagnóstico terrível, mas nunca perdemos a esperança, nunca perdemos a fé e sempre acreditamos que nada como um dia após o outro, enquanto há vida, há esperança. E ela está conosco, progredindo cada dia mais”, contou Rosimeire.

Aos cinco anos, Heloisa é vista como um milagre pelos médicos.

Já Luan, 15 anos, começou, em fevereiro deste ano, com muita dor na perna, depois na barriga, somada a vômitos e febre. A família é do Maranhão e tinha se mudado para Ipiranga do Norte há um mês.

Mãe e filho foram para Sorriso, onde os médicos realizaram um ultrassom e diagnosticaram o tumor na parte de baixo da barriga do adolescente. Imediatamente ele passou por uma cirurgia e colocaram um dreno em Luan.

Mãe de cinco filhos, Francisca largou toda sua vida para cuidar de Luan (Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

A biópsia do o tumor foi realizada em Cuiabá. E, desde o dia 20 de março, o adolescente está em tratamento. A mãe, Francisca, ao lado dele desde o começo.

“Quando ele veio deu vômito, diarreia, bastante dor na barriga. Depois da cirurgia não doeu mais até hoje, graças a Deus. Já está em tratamento, já murchou muito, até agora só vitória”, comemorou Francisca.

O momento do diagnóstico, para as duas mães, foi muito difícil. Francisca tinha esperança de não ser um câncer, visto que todos os médicos perguntavam se tinha algum caso na família, mas, a confirmação veio em poucos dias.

“Eu fiquei desesperada, porque eu nunca imaginei que ia acontecer comigo, com meu filho, porque na minha família não tem. Mas Deus está dando força para mim e para ele, estamos recuperando”, disse a mãe de Luan.

Rosimeire lembrou que quando recebeu o diagnóstico de Heloisa ficou sem chão. “Porque é uma notícia que te dói, ainda mais quando você fala de um filho. Te machuca, te dói como se tivesse arrancando um pedaço do seu coração, ou até seu coração inteiro”, afirmou.

Aos poucos ela foi ganhando forças, seja da própria filha e suas vitórias, seja de pessoas que acompanham sua luta diária. Ela contou que muitas vezes um abraço e uma palavra amiga foram capazes de te fortalecer para continuar a caminhada.

“As pessoas pensam que é só bem material que ajuda, mas não é, às vezes um simples sorriso te dá um ânimo a mais”, disse a mãe da Heloisa.

Trabalhando na AACC há dois anos, a assistente social Marilce disse que é preciso estar disponível 24 horas, porque, muitas vezes, as mães só precisam conversar.

“Nós recebemos mães em choque com a notícia, mãe que está feliz porque o filho está saindo do tratamento, mães que recebem a notícia que o filho não tem mais jeito, que é para levar para casa e aproveitar ao máximo os últimos momentos. Então temos que estar preparados para todas as situações”, afirmou Marilce.

(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Durante seus anos na AACC, ela já acompanhou três casos em que os médicos disseram que já não tinha mais o que fazer e afirmou que as mães, por unanimidade, nunca desistem. “A gente trabalha com aquela fé que a criança vai curar, faz um esforço danano”.

Uma das ações da entidade, é a campanha para arrecadar suplementos para melhor a imunidade das crianças, como o PediaSure, o Ensure, o Nutren e o Impact. E quem quiser ajudar, pode entrar em contato com a casa de apoio.

Esperança

Rosimeire e Francisca acreditam fielmente na cura dos filhos. Heloisa, que estava presente durante a entrevista da mãe, sempre diz que será curada por Jesus, irá voltar a andar e fará ballet.

“Hoje ela ainda não anda, mas devagarzinho está começando a mexer as perninhas, ela não mexia mais nada, não tinha esses movimentos. A mãozinha já está querendo pegar as coisas”, disse.

Em uma das reações ao tumor no cérebro, Heloisa teve o lado direito do corpo paralisado e a também a face esquerda. Mas, aos poucos, está se recuperando.

Mãe de outra menina de 14 anos, Rosimeire sempre foi a super-heroína da família. Há oito anos doou o rim direito para o marido, que já fazia hemodiálise há três anos. “Hoje ele está bem, graças a Deus, é meu outro lado, minha outra metade mesmo”, disse.

Por ele ser transplantado, não pode ficar em ambiente hospital e, por isso, Rosimeire que sempre acompanhou a filha. Até janeiro conseguiu se manter no emprego, mas este ano precisou sair.

“A Heloisa ficava muito tempo internada, ela ficava 30, 60 dias. Aí ela fez uma gastro, porque ela internava mais por intercorrência, por pneumonia. Ai a partir dessa gastro já tem três semanas que a gente vem, faz a quimioterapia e volta. Toda semana ela faz quimioterapia”, contou a mãe.

Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre

Assim como Rosimeire, Francisca também precisou largar tudo para acompanhar o filho. Em Mato Grosso há apenas um mês quando tudo começou, ela não volta para casa há dois meses.

Com cinco filhos, sendo que apenas uma não mora com ela, Francisca sente falta da família e lamenta ter que deixá-los cuidando uns dos outros para ajudar o pai, que faz trabalhos de serviço geral para manter a família.

“É difícil, ne? Ficar longe de casa, nunca separei dos meus filhos. Mas para Deus não é difícil, porque se eu tive que separar para cuidar do meu filho, é porque ele está precisando mais”, disse Francisca.

Em orações, ela disse sempre pedir para voltar para casa com o filho saudável. Mas, segundo os médicos, não há previsão para o retorno, a única notícia é que ainda deve demorar.

“Tem que ter fé, força e coragem, para dar coragem para eles e para a gente e seguir em frente. Porque nada pra Deus é impossível. Eu tenho fé, que meu filho vai sair dessa e já está saindo”, disse a mãe.

Rosimeire fez questão de dizer para as mães que estão começando a luta agora que não desistam e não deixem a tristeza entrar no coração, pois, enquanto há vida, há esperança.

“A fé move montanhas. Os médicos estudaram, então eles falam as palavras que tem que ser faladas naquele momento, só que a nossa esperança é maior. Quando a gente acredita, a gente consegue ir longe. Pode vim acontecer o pior amanhã, ou depois, mas eu lutei, a cada minuto e agradeço por minha filha estar comigo. Eu não desisti, eu não entreguei os pontos”, disse a mãe de Heloisa.

Ela, que não aceitou em momento algum o diagnóstico de que a filha não tinha cura, disse acreditar que tudo não passa de uma fase necessária para a fazer melhor. Segundo ela, sua maior força vem da própria filha, que nunca a deixa tirar o sorriso do rosto. Confiante, Rosimeire tem fé que no final alcançará a vitória contra a doença.

“Tudo que acontece na nossa vida é para provar as coisas sobrenaturais, a mão de Deus na vida dos nossos filhos, na nossa vida. Quanto aprendizado eu não tive com esse diagnóstico? Quantas vezes eu vi que você precisa de muito pouco para ser feliz? Às vezes a gente dá tanto valor em coisas que não vão te trazer a felicidade de estar perto de um filho. Às vezes você corre atrás de bens materiais, tem um emprego e quer outro, tem uma casa, quer outra e é preciso tão pouco para a gente ser feliz”, disse Rosimeire, com um sorriso de quem sabe a importância e a força do amor de mãe.

(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes