A obra Dona, da escritora Luciene Carvalho, figura na relação de obras literárias exigidas para quem vai se candidatar a uma vaga na Unemat. O anúncio foi feito em uma retificação do edital do concurso vestibular 2019/2, publicada na terça-feira (2).
Ela substitui outra importante poeta, Lucinda Persona, cujo livro “Entre uma noite e outra” havia sido retirado da lista bibliográfica obrigatória, que inclui obras de Mia Couto, Manuel Antonio de Almeida, Machado de Assis, Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal. Lucinda, teve obras exigidas em outras duas edições. Luciene, será indicada também no próximo ano.
Professores e autores mato-grossenses, haviam reagido à ausência da literatura mato-grossense no novo edital. Com a nova retificação, Eduardo Mahon – que anteriormente havia feito post direcionado ao reitor Dr. Rodrigo Zanin, questionando a medida – comemorou a inclusão do nome de Luciene Carvalho.
“Foi publicado novo edital, incluindo o livro Dona, de Luciene Carvalho, de longe, o melhor e mais maduro livro da poeta mato-grossense. (…) O reitor prestigia a nossa identidade mato-grossense. Prestigia os 300 anos de Cuiabá. Prestigia o Porto. Prestigia a periferia, o hip hop e o slam. Prestigia, finalmente, a vencedora Luciene Carvalho que sublimou todas as dificuldades pela força da literatura”, parabenizou.
Luciene se surpreendeu com a notícia. “Não esperava, fico bastante contente pois esta é uma obra temática que fala da maturação da mulher e como ela se cria, com versos, como Maria, como ela se empodera. A voz feminina ecoa pela academia”, conceitua.
A obra possui cinco capítulos que condensam o multiverso feminino. “No primeiro deles, Espelho, a mulher passa a se enxergar de forma real. No segundo, Caixa de Pandora, entram em xeque todas as mazelas, inclusive, as físicas. Em Chave, ela está nas ruas. Os códigos deste universo, que ela vai descobrindo ao longo de sua trajetória, são tema do quarto, Semáforo. No último, Mandala, ela imerge em um processo de espiritualização”.
Dá para adquirir a obra na Livraria Janina [rua Antônio João, 270 no Centro], no Rua Antiga Sebo Itinerante [Rua Comandante Costa, 381] e no site da editora Carlini & Caniato: acesse aqui.
Crítica
Por Marília Valderez*
No livro DONA Luciene Carvalho ironiza e brinca com signos/conceitos que funcionam como marcas identitárias da velhice.
Ao assim fazer a poeta joga para o leitor as perguntas: qual é a ideia de corpo que permeia nossa relação com a vida, suas dores, amores e prazeres? O que significam juventude e velhice do ponto de vista do corpo considerado como capacidade de afetar e ser afetado? O que acontece quando dois ou mais corpos se encontram? Essas perguntas partem do pressuposto que os corpos não se definem do ponto de vista de sua essência e sim do ponto de vista de sua potência.
Então, a pergunta “o que pode a poesia?” como corpo textual aponta para a dimensão das forças da linguagem poética de Luciene Carvalho que é habitada por múltiplas vozes e afetos, tem sonoridades, expressa sabores, dores e odores, variações climáticas e percorre espaços-tempos diversos.
Seu texto registra a experiência de seu corpo afetado pelas forças do mundo mostrando sua abertura para novos encontros que exigem da poeta um olhar e um sentir atentos às excitações que a afetam e que cabem a ela selecionar, evitar, acolher.
Nesse livro o corpo do leitor, o corpo da poeta e o corpo que se tece na escrita transitam um no outro. Este trânsito, tecido com os fios da poesia de Luciene Carvalho, aciona o corpo vibrátil do leitor que se produz no encontro com a matéria poética da autora que faz da poesia uma forma de vida. Abra seu corpo a mais essa experiência poética de Luciene Carvalho e boa leitura!
* Professora e leitora de Filosofia
Ficha Técnica:
Dona (2018)
A obra traz a clareza da autora e de seu trabalho; consciência total de sua poética, sobrevivente das batalhas dos labirintos lúcidos da loucura, DONA de todas as puras impurezas dignas da mulheres novas, maduras, idosas.
128 páginas, 1ª edição
