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Irregular, sim; clandestino nunca: porque os mortos da Guarita quase foram despejados

Prefeitura montou uma comissão para tentar solucionar a questão e manter as sepulturas onde estão

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Irregular, sim; clandestino nunca: porque os mortos da Guarita quase foram despejados

Os mortos enterrados no Cemitério da Guarita, em Várzea Grande, estão perto de retomarem o descanso eterno e suas famílias serem tranquilizadas. As negociações entre a prefeitura de Várzea Grande e a empresa proprietária do terreno onde estão as sepulturas estão em andamento e o Município tenta fazer uma permuta com outra área. O local é o destino pós-morte de muitas pessoas da região há mais de cem anos e, este ano, descobriu-se que o terreno tem um proprietário, que solicitou a retirada dos restos mortais para iniciar a construção de um empreendimento.

O pedido logo revoltou os moradores e o impasse ganhou as páginas dos jornais e da televisão. E em toda a exposição midiática, o que mais ofendeu os moradores foi o cemitério ser tratado como clandestino ou ilegal, o que nunca foi. A área é irregular e, segundo relato de moradores, começou a ser usada como cemitério com a autorização do governo daquela época.

José Campos é morador do local desde que se entende por gente e conta que o terreno foi doado para os moradores porque o distrito ficava longe de tudo. O acesso era precário e apenas quem era dali transitava pelo local. Depois da primeira família fazer o enterro, os demais começaram a utilizar-se do espaço.

No começo do processo, cem anos atrás, havia o compromisso de regularizar posteriormente, mas acabou que isso nunca aconteceu, tanto por ausência do Estado, como pela falta de insistência da população. Afinal de contas, na cabeça dos moradores, depois de tanto tempo, não haveria com o espaço ter dono.

Mesmo assim, dentro da história recente, dos últimos 20 anos, os moradores conseguiram formalizar dois pedidos de regularização na prefeitura, por meio da Câmara de Vereadores, que acabaram parados pela burocracia e sem chegar a um resultado.

Campos explica que não há como se alegar clandestinidade porque as pessoas que estão lá possuem todos os documentos de sepultamento. Sem contar que todos anos, pelo menos em duas ocasiões, Finados e em um festejo típico da região, a comunidade se reúne para limpar e fazer melhorias no local. Em uma das ocasiões, foi construído o muro que cerca a área.

“Quando buscamos a regularização, queríamos o apoio da prefeitura para a gestão do local. O distrito cresceu, está perto da cidade e o local passou a ser alvo de vandalismo. Por isso, o objetivo era entregar definitivamente para a prefeitura, não temos mais condições de cuidar sozinhos”, explica Campos.

O dono apareceu

Toda a comunidade ficou assustada quando o dono do terreno apareceu e uma faixa foi estendida no local pedindo a retirada dos restos mortais. Na mesma hora, houve uma mobilização dos moradores e a prefeitura foi acionada para mediar a situação.

O conflito ganhou proporção e a prefeitura da cidade criou uma comissão, com todos os envolvidos, para tentar buscar um consenso, que garantisse a manutenção das aproximadamente 30 sepulturas no local.

A área do cemitério não tem mais de 50 metros quadrados e, levando em consideração o valor imobiliário do local, custaria cerca de R$ 80 mil. O problema, contudo, vai além.

Conforme o Município, por meio da assessoria de imprensa, a empresa tem vários terrenos sequenciais e na tentativa de permuta é preciso considerar um espaço similar ao que será abdicado.

Mesmo com as complicações, a prefeitura acredita que logo haverá uma resposta definitiva à comunidade.

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