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Investigação aponta relação entre Emanuel, Célio e Gilmar Cardoso em esquema de corrupção

Naco e Deccor coletaram conversas em que o prefeito é citado como chefe de supostas articulações de desvio e propina

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Investigação aponta relação entre Emanuel, Célio e Gilmar Cardoso em esquema de corrupção
(Foto: Reprodução/Luiz Alves/ Prefeitura de Cuiabá)

A investigação do Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco) e da Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) apontam que o prefeito Emanuel Pinheiro manteria relação direta com o ex-secretário Célio Rodrigues da Silva e o ex-adjunto Gilmar de Souza Cardoso. 

Eles fariam a triangulação do esquema de corrupção, que usava empresas para desviar dinheiro da Saúde e pagar de mensalinhos a servidores por suposta participação nos crimes investigados. 

As informações estão no relatório de quase 90 páginas elaborado pelo Naco e pela Deccor protocolado na Justiça, junto com o pedido de afastamento do prefeito Emanuel Pinheiro. 

Os investigadores elencam uma série de dados com prints de conversas via celular de Gilmar de Souza Cardoso com servidores, que, pelo contexto, tinham alguma informação sobre os esquemas corruptos. 

Cobrança de ex-secretária 

Está protocolado no documento uma longa conversa com a ex-secretária de Saúde Suelen Alliend, morta em 2023. Ela cobra de Gilmar Cardoso supostos pagamentos atrasados, que o prefeito Emanuel Pinheiro não teria autorizado. 

O Naco e a Deccor afirmam que a suspeita seria de que os pagamentos não eram de direito trabalhista, como salário rescisão de contrato. Mas de supostos mensalinhos para não denunciar o esquema. 

Os prints mostram que Suelen cobrou diversas vezes os pagamentos, e numa certa altura, preocupada com dívidas domésticas, disse que iria procurar ajudar de políticos para quem já teria trabalhado. O anúncio foi interpretado por Gilmar Cardoso como ameaça de exposição. 

Emanuel Pinheiro e Célio Rodrigues são citados ao longo da conversa várias vezes, nominalmente ou alusão. Gilmar diz, por exemplo, que “o Célio pega 3,5 milhões das empresas que atendem o HMC (Hospital Municipal de Cuiabá)”. 

“Certamente está falando de Célio Rodrigues da Silva, ex-secretário de Saúde de Cuiabá e ex-diretor da Empresa Cuiabana de Saúde Pública (ECSP), e essa devolução à qual Gilmar Cardoso se refere, possivelmente indica pagamento de valores indevidos a agentes públicos ou recebimento de empresas detentoras de contratos públicos”, diz o relatório. 

Emanuel Pinheiro é citado como o interlocutor de ao menos duas reuniões em que os pagamentos atrasados ou a acomodação servidores investigados em outros cargos foram mencionados como assuntos discutidos. 

O “agente mais apontado”  

O ex-secretário Célio Rodrigues da Silva é citado como “o articulador empresarial” dos esquemas em contratos da Prefeitura de Cuiabá com empresas. Segundo o relatório do Naco e da Deccor, Célio teria tido influência nos negócios da Secretaria de Saúde e da Empresa Cuiabana mesmo após a saída do cargo por ordem judicial e uma prisão como suspeito. 

A interferência teria corrido ainda no começo do ano passado, quando ele pediu o pagamento para uma empresa contratada. Os investigadores citam uma gravação ambiente feita em novembro de 2022 pela servidora Mhayanne Escobar de Gilmar Cardoso. Ela investigada pela Polícia Federal e, segundo o relatório, teria procurado trabalho om integrantes do suposto esquema. 

(Foto: Luiz Alves/ Prefeitura de Cuiabá)

Na situação, Gilmar Cardoso teria reclamado de “segurar a bronca”, enquanto Célio Rodrigues teria uma situação melhor. 

“Nessa conversa, Gilmar demonstra insatisfação ao relatar que, enquanto ele ‘segura a bronca’, Célio ‘está com fazenda em Sinop cheio de gado… Tem uma cervejaria, esbanja no Rio de Janeiro com a mulher e com as namoradas todo o mês’”, diz trecho do relatório. 

O parágrafo seguinte diz: “Ainda, na referida gravação ambiental, Gilmar explica que ‘o prefeito tá preocupado e o prefeito cobra isso do Célio, era para o Célio colocar você [Mhayanne Escobar] em uma situação, dar um salário por essas empresas aí, e até você resolver sua situação jurídica, porque uma hora vai ter que resolver. Ele tem obrigação de resolver isso’. Cabe ressaltar novamente que, após ter sido alvo de uma das operações da polícia federal, Mhayanne e seu marido se encontravam desempregados”. 

Conclusão de relatório 

A análise dos dados pela investigação aponta que conversas com esse teor criam indícios de que o prefeito Emanuel Pinheiro tinha relação próxima os investigados nas operações policiais na Secretaria de Saúde e na Empresa Cuiabana de Saúde Pública. 

O “alinhamento” com Célio Rodrigues da Silva existiria desde o início do mandato do prefeito, tempo em que “Célio e a esposa frequentavam” a casa de Emanuel Pinheiro.  

“É provável que os direcionamentos nas licitações e escolhas de empresas eram orquestrados por Emanuel Pinheiro”, diz a conclusão do relatório. A versão tem um trecho do depoimento de Mhayanne Escobar, em que ela cita a suposta relação entre Emanuel e Célio. “Era comum Célio mencionar que o prefeito queria que os contratos fossem regularizados, visando que saíssem dos pagamentos indenizatórios”, disse a servidora. 

Célio Rodrigues da Silva foi preso em 2021 e 2023 por suspeita de participar de esquemas de corrupção na Empresa Cuiabana e na Secretaria de Saúde. Contudo, segundo a investigação, no início de 2023, ele ainda tinha influência na área. 

Ele teria ligado na época para o então secretário Guilherme Salomão com interferência no pagamento de notas fiscais. Guilherme Salomão tinha sido anunciado por Emanuel Pinheiro no fim de 2022 como novo secretário de Saúde. A Justiça autorizou a intervenção no mesmo dia. 

Célio Rodrigues foi preso pela segunda vez no dia 9 de fevereiro de 2023 na Operação Hypnos. O esquema do qual ele supostamente participou estaria instalado na Saúde de Cuiabá desde 2021.

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