Ednilson Aguiar/O Livre
Casa de amparo atende pacientes da região Norte em busca de atendimento médico
Em um dos imóveis entregues pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB) à Justiça, localizado no bairro Rodoviária Parque, em Cuiabá, funciona uma casa de amparo que atende pacientes de municípios da região Norte de Mato Grosso que vêm à capital em busca de tratamento médico. O imóvel faz parte de uma lista de bens avaliada em R$ 46 milhões que o ex-governador prometeu devolver para ressarcir os cofres públicos dos desvios de dinheiro que confessou ter praticado.
O local está sob responsabilidade do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Vale do Peixoto (Cisvp), composto por cinco municípios: Guarantã do Norte, Matupá, Novo Mundo, Peixoto de Azevedo e Terra Nova do Norte.
Casa de amparo em Cuiabá é mantida por prefeituras e abriga pacientes dos municípios do interior de forma gratuita
Os pacientes são selecionados em cada cidade e viajam a Cuiabá em micro-ônibus e vans das prefeituras. Eles ficam alojados na casa de amparo durante o tempo necessário para fazer os procedimentos médicos, incluindo exames e cirurgias de média e alta complexidade não disponíveis na rede pública de saúde das cidades onde vivem. Tratamentos para câncer, nefrologia, urologia e hanseníase são os destinos de quem passa pela casa.
O imóvel está avaliado em R$ 1,2 milhão e está em nome da Tupi Comunicações Ltda, da qual o ex-governador é sócio ao lado da ex-primeira-dama Roseli Barbosa. O consórcio utiliza a casa por meio de um contrato de comodato, ou seja, não há pagamento de aluguel. As prefeituras das cidades que fazem parte do grupo ficam encarregadas de fazer a manutenção do espaço.
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Casa de amparo tem capacidade para abrigar até 100 pessoas
Seis meses hospedado
O ex-garimpeiro Antônio Ferreira Oliveira, 68 anos, sofre com um câncer no pâncreas e no intestino desde o ano passado. Antes de ser encaminhado à capital, foi atendido em Peixoto de Azevedo e fez exames em Sinop. Em abril de 2016, passou por uma cirurgia para retirada do tumor e passou a fazer quimioterapia no Hospital de Câncer de Mato Grosso. Chegou a ficar seis meses em Cuiabá, hospedado na casa de amparo.
“Em janeiro, o médico me liberou para ficar quatro meses na minha cidade, aí eu voltei no mês passado para fazer uma ressonância. Como apareceu uma mancha, ele pediu para fazer outras duas ressonâncias e estou ficando aqui por enquanto”, contou Oliveira.
Segundo a secretária administrativa do local, Rosani Calistro Cézar, os casos mais comuns são de pacientes que fazem tratamentos específicos ou de maneira intermitente em Cuiabá. “Eles chegam no domingo, fazem o tratamento, vão embora na quarta-feira, voltam na próxima semana e assim por diante”, explicou.
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Ex-garimpeiro de Peixoto de Azevedo chegou a ficar seis meses na casa de amparo
Comida para um batalhão
Os pacientes ficam alojados em quartos, divididos em uma ala masculina, uma feminina e outra ala em que são recebidos casais, em camas separadas. As instalações são simples, com apenas um ventilador de teto e um banheiro.
Além dos dormitórios, com capacidade para cerca de 100 pessoas, também há uma cozinha industrial comandada por duas funcionárias que preparam alimentos suficientes para o pequeno batalhão que passa pela Casa de Amparo diariamente: 10 kg de arroz, 8 kg de feijão e outros 15 kg de carne para o almoço. A mesma quantidade é preparada para o jantar.
Ainda trabalham no local um motorista, responsável pelo transporte dos pacientes para os hospitais, dois guardas e uma pessoa responsável pela limpeza, todos contratados pelo consórcio.
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Duas cozinheiras se revezam; para cada almoço, são usados 10 kg de arroz
Apelo à Justiça
No último dia 12, o presidente do consórcio responsável pela casa de amparo, Maurício Ferreira de Souza, respondeu a uma solicitação feita pela ex-primeira dama Roseli Barbosa, indicando que os prefeitos não iriam se opor à rescisão contratual, à desocupação do imóvel, nem à devolução do espaço para que a Justiça recupere parte dos valores desviados pelo grupo de Silval.
“Nós temos o desejo de
pleitear à Justiça de que a casa fique para o consórcio, até porque vai atender quem realmente precisa”
Souza, contudo, lamentou a possibilidade de que o centro de apoio tenha de deixar o local e pediu um aviso com 30 dias de antecedência se for necessário desocupar o imóvel.
Em entrevista ao LIVRE, ele disse que irá solicitar que a casa não seja levada a leilão judicial.
“Nós temos o desejo de pleitear junto à Justiça a possibilidade de que aquilo fique para o consórcio, até porque vai atender uma classe que realmente precisa dessa casa de apoio em Cuiabá”, disse Maurício, que é prefeito de Peixoto de Azevedo.
“Se for necessário, nós teríamos que sair de lá e alugar outro estabelecimento. Mas, como ela (a juíza Selma Arruda) tem o poder de caneta de ceder isso daí e deixar à disposição do consórcio para atender à sociedade, é um desejo que a gente tem”, continuou.
Segundo a assessoria jurídica do consórcio, uma saída seria repassar a propriedade do imóvel ao Estado de Mato Grosso, que cederia a utilização da casa ao consórcio. Caso a proposta não seja aceita, a casa de amparo teria que alugar outro espaço com as mesmas características ou realizar licitação para construção de um novo local.