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 Ex-secretário de Segurança Pública, Mauro Zaque, afirma que o governador tinha conhecimento do esquema desde 2015

A nova crise enfrentada pelo governo Pedro Taques (PSDB) ganhou mais um capítulo na noite deste domingo (14). Em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, o ex-secretário de segurança pública de Mato Grosso, Mauro Zaque, afirmou que o governador sabia do esquema de escutas ilegais que funcionava dentro da Polícia Militar do estado.

O suposto esquema acontecia por meio da chamada “barriga de aluguel”, quando números de telefones de pessoas comuns, sem qualquer ligação com uma investigação, são colocados num pedido de quebra de sigilo à Justiça. Em Mato Grosso, os números teriam sido incluídos em pedidos que investigavam tráfico de drogas.

Zaque afirmou que recebeu uma denúncia anônima sobre o esquema em 2015 e que a repassou ao governador. “Aqueles números não correspondiam às pessoas que eram objeto de investigação”, contou.

Entre os telefones que apareciam na lista, consta o do advogado eleitoral José Patrocínio. Surpreso, Patrocínio disse suspeitar que isso poderia ser uma retaliação ou busca de informações sobre seus clientes.

A deputada estadual Janaina Riva (PMDB), um dos principais nomes de oposição ao governo Taques, também teve o telefone grampeado. Ela era identificada pelo apelido de “Janair”. “Já suspeitava e fui vítima de ataques também nas redes sociais”, disse. Em um trecho do relatório, Janaina é citada como criminosa. “Entre esses criminosos de alta periculosidade que vêm se destacando, podemos citar Janair”.

Em entrevista ao Fantástico, o jornalista José Marcondes, outro citado na lista, atribuiu sua inclusão entre os grampeados ao tipo de jornalismo que faz, contrário ao governo.

Na reportagem, Paulo Taques, ex-secretário-chefe da Casa Civil, negou que tenha solicitado os grampos. Ele pediu demissão na última quinta-feira (11). Apesar das especulações, Paulo Taques rechaçou que a sua saída tenha relação com as denúncias feitas por Zaque. “Minha saída estava programada há 15 dias”, garantiu.

Mauro Zaque afirmou que levou a documentação com a denúncia por escrito a Pedro Taques e que o governador viu que pessoas muito próximas a ele estavam envolvidas.

Taques reconheceu a gravidade do caso, mas negou que tivesse conhecimento do esquema. O governador alegou que o protocolo com a denúncia de Zaque não existe. “Esse número de protocolo nós já constatamos e existe o mesmo número e o mesmo código de barras para uma obra que trata de estradas”, afirmou. “Não recebi essa documentação do promotor Mauro Zaque”.

De acordo com a reportagem, todas as escutas tiveram parecer favorável da Justiça e do Ministério Público. Segundo o presidente do Tribunal de Justiça, Rui Ramos, “se houve fraude não foi atribuição da entidade”, disse. “Isso veio da fonte competente, que geralmente é o Ministério Público”.

Para o procurador-geral de Justiça, Mauro Curvo, o MP foi induzido ao erro. O caso foi encaminhado para a Procuradoria Geral da República em Brasília (DF).

Outro lado

Ednilson Aguiar/O Livre

Coletiva do governador Pedro Taques

Governador Pedro Taques durante entrevista coletiva negou que tivesse conhecimento dos grampos

Antes da matéria ir ao ar, Pedro Taques convocou uma coletiva de imprensa na última sexta-feira (12). Na ocasião, negou que tivesse conhecimento de qualquer esquema de grampos em seu governo, disse que nunca pediu que fossem realizadas escutas e chamou de fraude a denúncia feita por Mauro Zaque. O governador também afirmou que não tomou nenhuma atitude, pois não tinha conhecimento do caso. Por fim, prometeu representar Zaque, que é promotor de Justiça, junto ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

A denúncia expôs desentendimentos entre Taques e Zaque. Segundo o governador, o ex-secretário pediu que ele exonerasse o então comandante-geral da Polícia Militar, Zaqueu Barbosa, e nomeasse José Antonio Borges como procurador-geral de Justiça. Pedro Taques classificou os episódios como chantagem, mas não esclareceu quais teriam sido as ameaças recebidas.

A amizade entre os dois tem mais de 20 anos, desde os tempos em que Taques era membro do Ministério Público Federal (MPF) e, Zaque, do Ministério Público Estadual (MPE). Quando assumiu o governo, em janeiro de 2015, o governador nomeou o amigo secretário. Doze meses depois, Zaque deixava o staff.

Protocolos

De acordo com o governador, foram apresentadas duas denúncias. A primeira tratava da utilização de escutas ilegais durante uma investigação de policiais militares de Sinop supostamente envolvidos com o tráfico de drogas. Segundo Taques, esta foi recebida pelo seu chefe de gabinete, José Arlindo, e entregue a ele, que a remeteu ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) para ser investigada. A denúncia foi arquivada por falta de provas.

A segunda, de acordo com o secretário de Comunicação do governo, Kleber Lima, “agregaria informações a partir do presídio de Cáceres”. É essa situação que está sendo investigada atualmente. O ofício foi considerado “uma fraude” pelo governador, que afirma nunca ter recebido o documento em suas mãos. “Tivemos acesso ao ofício depois que o jornalista [do Fantástico] entrou em contato com a secretaria de Comunicação”, disse Taques. “Vai ser feita a perícia nesses documentos”.

Simulação 

Segundo Taques, Zaque simulou ter enviado um ofício ao governador comunicando as denúncias do presídio de Cáceres e, para isso, teria falsificado um protocolo de um ofício com mais de 200 páginas de anexos. “Esse ofício nunca chegou em minhas mãos e eu só posso tomar atitude sobre coisas de que eu tenho conhecimento”, argumentou. “Portanto, esse documento é uma fraude. O processo que Mauro Zaque disse que protocolou não existe no Palácio Paiaguás. O número que ele deu é de um processo da Secretaria de Infraestrutura pedindo obra em Juara. Pra mim, isso é uma fraude”.

Investigação

Taques determinou que o secretário de Segurança, Rogers Jarbas, investigue o caso. Jarbas informou que vai abrir processo administrativo para apurar a denúncia e determinar que a Polícia Civil faça a apuração criminal. Conforme explicou o secretário, o sistema de escuta, conhecido como Guardião, é totalmente auditável. “É possível saber como e quando foi utilizado”, concluiu.

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