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“Eu era o otário do governo”, disse Marcelo Odebrecht

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“Eu era o otário do governo”, disse Marcelo Odebrecht

Agência Estado

Marcelo Odebrecht

Marcelo Odebrecht saindo da carceragem da Polícia Federal para exame de corpo de delito no IML de Curitiba

No depoimento que prestou nesta quarta-feira (1) à Justiça Eleitoral, o empresário Marcelo Odebrecht disse que se sentia o “bobo da corte” do governo federal. Ao falar sobre a situação da empreiteira baiana que leva seu sobrenome, o ex-presidente do conglomerado demonstrou descontentamento por ser obrigado a entrar em projetos e empreendimentos que não desejava e bancar repasses às campanhas eleitorais, sem receber as contrapartidas que julgava necessárias. 

Marcelo Odebrecht declarou que mantinha contato frequente com o alto escalão do governo – como Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda do governo Dilma Rousseff, com quem disse negociar repasses a campanhas eleitorais. 

“Eu não era o dono do governo, eu era o otário do governo. Eu era o bobo da corte do governo”, afirmou Marcelo Odebrecht, segundo relatos. O empresário também se mostrou incomodado por divergências com seu pai, patriarca e presidente do Conselho de Administração do Grupo Odebrecht, Emílio Odebrecht, na forma de apoio ao governo.

No depoimento, Marcelo Odebrecht falou com “naturalidade” do caixa 2 nas campanhas eleitorais, defendeu a legalização do lobby e disse que a Odebrecht não era a única empresa a usar doações para conquistar apoios políticos. Segundo ele, o uso de dinheiro de caixa 2 em campanhas eleitorais é algo “natural”, mas que, de alguma forma, envolve também o pagamento de propinas.

Condenação
Em março do ano passado, Marcelo Odebrecht foi condenado pelo juiz federal Sérgio Moro – que conduz a Operação Lava Jato na primeira instância da Justiça – a 19 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa no esquema de desvios na Petrobras.

Primeiro escalão
No mesmo depoimento, o executivo confirmou ter se encontrado com o presidente Michel Temer durante tratativas para a campanha eleitoral de 2014, mas negou ter acertado um valor para a doação diretamente com o peemedebista.

De acordo com o empreiteiro, as tratativas para o repasse foram feitas entre o atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o executivo Cláudio Melo Filho. Ele admitiu que parte dos pagamentos pode ter sido feita via caixa 2.

Marcelo Odebrecht disse que não houve um pedido direto de valores para o PMDB pelo então vice-presidente da República. Segundo relatos, ele afirmou que o valor de R$ 10 milhões já estava acertado anteriormente e que o encontro foi apenas protocolar. 

Palácio do Jaburu
Em anexo de delação premiada que vazou em dezembro, Melo Filho, que é ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, mencionou jantar no Palácio do Jaburu, no qual, segundo ele, Temer teria pedido pessoalmente “auxílio financeiro” ao empreiteiro, que se comprometeu com R$ 10 milhões. 

Ao depor nesta quarta-feira, em Curitiba, Marcelo Odebrecht disse que Temer não mencionou a doação de R$ 10 milhões. Ele confirmou que o jantar foi feito no momento em que o grupo de Temer negociava uma doação da Odebrecht para apoiar candidatos do partido. 

O encontro no Jaburu serviria para selar o acordo de que R$ 6 milhões dos R$ 10 milhões ao grupo do PMDB de Temer seriam encaminhados para a campanha de Paulo Skaf para o governo de São Paulo, também em 2014.

De acordo com Marcelo Odebrecht, só após a saída do vice-presidente do local, ele conversou com Padilha e com Melo sobre o tema. Ainda de acordo com ele, parte dos R$ 6 milhões não chegou a ser paga.

Marcelo Odebrecht disse ainda à Justiça Eleitoral que a interlocução com o PMDB era dispersa. Os executivos da empresa tinham relação com os Estados, enquanto Melo atuava dentro do Senado, em contato com o atual presidente do partido, Romero Jucá (RR). Na Câmara, o contato era com Padilha – mas também foi mencionado o nome do deputado cassado Eduardo Cunha (RJ), que mantinha relação com o empresariado.

Em nota na última sexta-feira (24), Temer afirmou que, “quando presidente do PMDB, pediu auxílio formal e oficial” à Odebrecht. “A Odebrecht doou R$ 11,3 milhões ao PMDB em 2014. Tudo declarado na prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral”, diz a nota.

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