Bem Estar

Abuso emocional na infância aumenta em 6 vezes o risco de depressão pós-parto em mulheres

Pesquisa inédita no Brasil analisou a relação de 5 tipos de trauma na infância e a depressão pós-parto em 253 mulheres

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Abuso emocional na infância aumenta em 6 vezes o risco de depressão pós-parto em mulheres
(Foto: Tirachardz / Freepik)

Sofrer abuso emocional na infância pode ser um forte fator de risco para a depressão pós-parto em mulheres. Esse tipo de trauma pode aumentar em até 6 vezes a chance de desenvolver a condição em puérperas.

É o que mostra estudo inédito de pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade de Rio Verde (UniRV), em Goiás, e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Os dados estão em artigo publicado na segunda-feira (13) na “Revista Latino-Americana de Enfermagem”.

O trabalho avaliou a associação entre a depressão pós-parto e 5 diferentes tipos de trauma na infância sofridos por mulheres:

  • abuso emocional
  • negligência emocional
  • abuso físico
  • negligência física
  • abuso sexual

A avaliação foi feita em 253 puérperas recrutadas em uma maternidade pública de Rio Verde, em Goiás, com filhos nascidos entre fevereiro e abril de 2022. Ela incluiu também variáveis como o tempo de gestação, status de relacionamento, histórico de diagnóstico de depressão e de abortos.

Esse é o primeiro estudo que relaciona traumas na infância e suas consequências para o puerpério realizado no Brasil, país que tem uma das maiores taxas de abuso infantil do mundo, segundo dados da Sociedade Internacional para a Prevenção do Abuso e Negligência Infantil.

Segundo os dados dos questionários aplicados, mais da metade das puérperas (53%) vivenciou pelo menos um tipo de trauma. Os mais comuns foram:

  • abuso emocional – relatado por 34% das participantes
  • negligência emocional – relatado por 27%
  • negligência física – relatado por 26%
  • abuso sexual – relatado por 23%
  • abuso físico – relatado por 18%

Os 5 tipos de abuso e negligência foram associados ao desenvolvimento de depressão pós-parto, que foi identificada em 37% das mulheres da amostra.

“Mesmo ao considerar idade de gestação, histórico de depressão e de abortos, foi possível observar uma relação direta entre as vivências do estresse precoce – principalmente as formas de trauma emocional – e o transtorno em puérperas”, analisa Elton Brás Camargo Júnior, coautor do estudo e enfermeiro e docente da Faculdade de Enfermagem da UniRV.

Abuso emocional

Nas análises, os pesquisadores constataram que as puérperas que vivenciaram abuso emocional na infância demonstraram o maior risco potencial para a depressão pós-parto. Segundo o artigo, esse tipo de abuso é caracterizado por experiências de rejeição, agressão verbal, isolamento ou provocação e pode estar mais fortemente relacionado com o desenvolvimento de depressão em mulheres no puerpério quando comparado com outros tipos de traumas na infância.

Para Edilaine Gherardi-Donato, pesquisadora da USP e coautora do trabalho, a falta de apoio para crianças e adolescentes que experenciam vivências traumáticas emocionais pode explicar o impacto desse tipo de trauma no desenvolvimento da depressão pós-parto.

“Um abuso ou negligência física é mais visível, mais fácil de identificar para que alguma ação seja tomada”, explica. “Já um trauma emocional nem sempre é reconhecido pelos adultos, podendo passar despercebido. Esse tipo de abuso pode estar relacionado com a cultura e práticas de relacionamento dos adultos com a criança, causando um trauma contínuo em uma fase muito importante para o seu desenvolvimento cerebral”.

Identificar traumas na infância, segundo o trabalho, pode ajudar profissionais de saúde a rastrear e antecipar casos de depressão pós-parto ainda durante o atendimento de gestantes no pré-natal. A pesquisadora da UFMA Maria Neyrian Fernandes, também coautora do estudo, pontua que esse tipo de informação deve ser considerado para a elaboração de ações em favor da saúde mental materna.

“O estudo sugere uma forma diferente de olhar para o atendimento pré-natal. Além da genética, deve-se considerar as experiências de vida da mulher gestante e puérpera — e como essas vivências podem transformar essa mulher e, consequentemente, seus filhos”, finaliza.

(Da Agência Bori)

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