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Em depoimento, Siqueira afirma ter sido questionado por Taques sobre grampos

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Em depoimento, Siqueira afirma ter sido questionado por Taques sobre grampos

GcomMT

 coronel Airton Benedito Siqueira Júnior

Taques e Siqueira: conversa tensa em 2015

Em depoimento prestado na quarta-feira (5) no quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em Cuiabá, o secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Benedito Siqueira Júnior, narrou dois episódios carregados de tensão ocorridos em outubro de 2015, nos bastidores do escândalo dos grampos ilegais. À época, ele era chefe da Casa Militar.

Primeiro, Siqueira relatou um encontro com o promotor Mauro Zaque, então secretário de Segurança Pública, em que teria sido acusado de fazer escutas telefônicas irregulares e pressionado a pedir demissão. Depois, descreveu uma conversa com o governador Pedro Taques (PSDB), que questionou se ele estaria envolvido no esquema e teria ameaçado demiti-lo. 

Siqueira prestou o depoimento acompanhado de seu advogado, Paulo Taques, que deixou o cargo de secretário-chefe da Casa Civil dias antes da denúncia do caso dos grampos vir à tona. 

“Você sabe que é meu amigo e amigo quando a gente quer falar alguma coisa, a gente traz em casa. Vocês fizeram m*** no governo. Vocês interceptaram deputados, jornalistas e advogados e o governador está muito aborrecido e irá exonerar você, o coronel Zaqueu, Paulo Taques e o coronel Lesco”

Casa, cadeia ou buraco
Na versão de Siqueira, em outubro de 2015, ele recebeu uma ligação de Mauro Zaque e foi até o edifício onde o promotor morava. Conversaram numa área térrea do prédio, perto de arbustos, no escuro. O militar afirma que suspeitou que houvesse uma escuta no local.

“Você sabe que é meu amigo e amigo quando a gente quer falar alguma coisa, a gente traz em casa. Vocês fizeram m*** no governo. Vocês interceptaram deputados, jornalistas e advogados e o governador está muito aborrecido e irá exonerar você, o coronel Zaqueu, Paulo Taques e o coronel Lesco”, teria dito Mauro Zaque.

Siqueira relata que negou as acusações. Em seguida, chegou ao local o coronel Zaqueu Barbosa, então comandante-geral da Polícia Militar. Mauro Zaque teria recomendado aos dois – Siqueira e Zaqueu – que pedissem demissão. O então chefe da Casa Militar relata então que respondeu que havia acabado de ser agraciado com o último posto da carreira e só sairia dali para “ir para casa, para a cadeia ou para o buraco”. Também diz que pediu para ser investigado e sustentou que não sairia pelas “portas do fundo” do Palácio Paiaguás.

Taques e demissão
Segundo Siqueira, dias depois desse encontro, o governador Pedro Taques o chamou ao gabinete. “Vocês fizeram m**** e eu não posso manter vocês no cargo”, teria afirmado Taques a ele no encontro. Questionado sobre a origem da denúncia, o governador teria respondido apenas que as informações eram da Polícia Federal. 

Siqueira foi ouvido pelo coronel Jorge Catarino, responsável em conduzir o inquérito instaurado pela Polícia Militar para investigar o caso. O secretário também disse que teve conhecimento, por meio de fontes do gabinete de Taques, que o governador havia tido conversas com o ex-secretário de Estado de Justiça de Segurança Pública, o promotor de Justiça Mauro Zaque, a respeito dos grampos. Ele foi o responsável em denunciar as interceptações ilegais, em reportagem veiculada pelo programa Fantástico no dia 14 de maio.

Segundo Zaque, o governador não tomou as devidas providências diante da denúncia e por essa razão pediu exoneração da Sesp. Já Siqueira relata que soube que Taques determinou a Zaque que formalizasse as denúncias e desse início à apuração dos fatos.

Remanejado
Em janeiro deste ano, Siqueira foi remanejado do comando da Casa Militar para a Sejudh. Até o momento, encontram-se presos Zaqueu, o cabo Gerson Luiz Golveia Júnior, o chefe da Casa Militar, coronel Evandro Lesco, o secretário-adjunto, coronel Ronelson Jorge de Barros, e mais quatro militares.

O governador nega ter conhecimento de qualquer esquema de grampos em seu governo e enfatiza que que nunca pediu que fossem realizadas escutas ilegais. Taques chegou a fazer uma representação contra Zaque no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), apontando que o ex-secretário fraudou o documento com as denúncias sobre a existência de possíveis escutas ilegais.

A Associação Mato-Grossense do Ministério Público (AMMP) saiu em defesa de Zaque, repudiando qualquer tipo de invasão da intimidade dos mato-grossenses, além de comentar sobre a existência de “forças paralelas” que fragilizam as instituições democráticas.

A denúncia apresentada por Zaque e levada à Procuradoria Geral da República (PGR) – que investiga o caso – dá conta de que ao menos 80 pessoas teriam sido grampeadas ilegalmente com autorização judicial por meio do esquema denominado “barriga de aluguel” – quando contatos de pessoas não investigadas são inseridos em pedidos de quebra de sigilo.

 

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