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Cuiabana ganha destaque no ‘carteado’ irlandês

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Cuiabana ganha destaque no ‘carteado’ irlandês

Caroline Rodrigues

Cuiabana ganha destaque no ‘carteado’ irlandês

Fichas, baralhos e cassinos fazem parte da rotina profissional de Giulliana, que veio para Europa estudar inglês e faz do pôquer profissão

É impossível não comparar os cenários. Os suntuosos cassinos da Europa estão bem distantes da sede do CPA Poker Club, onde Giulliana Oliveira, 27, começou a jogar há dois anos. Ela conta que consegue manter o saldo sempre positivo e já venceu vários campeonatos, porém ainda não sabe como explicar “para o mamãe” que pôquer é uma esporte da mente e não “jogo de apostação”.

Cuiabana de Chapa e de Cruz, a jovem veio para Europa aprender inglês e tentar uma vida nova. Diferente dos jogadores renomados, não foi vencedora de prêmios milionários, mas consegue pagar as contas com a atividade, seja na posição de competidora, seja como delear (uma espécie de juiz, responsável pelas cartas e apostas). “Estou caminhando. Ainda preciso de mais estudo e experiência”.

Devido ao seu desempenho, conseguiu integrar um evento internacional, a última edição European PokerStars, realizado em Mônaco, em um dos mais luxuosos cassinos do mundo, o Monte Carlo. Naquele momento, não ganhou o título, mas ficou entre os 65 finalistas. Um bom resultado para quem está a menos de três anos na atividade e concorreu com outros 1.400 jogadores vindos de toda parte do mundo.

Ela também jogou no Hippodrome Cassino, em Londres, na modalidade Cash Game, onde o competidor troca dinheiro por fichas e pode entrar e sair de uma mesa quando quiser. “Fui visitar a cidade com uma amiga e a família dela que é de Cuiabá. O pai dela gosta muito do esporte e nos convidou para ir ao cassino. Aproveitei a oportunidade para entrar em uma mesa na modalidade Cash Game. Tinha reservado 100 euros e em algumas horas consegui mais que dobrar o dinheiro. Cheguei a 550 pounds e sai da mesa para aproveitar a cidade”.

O pôquer tem várias modalidades e cada uma delas requer uma estratégia diferenciada, o que a jovem aprendeu com prática, estudo e contato com outros competidores.

Quando se trata de campeonato, todos os competidores entram na mesa com a mesma quantidade de fichas e normalmente o prêmio é o rateio do valor da inscrição. “Nas primeiras etapas você precisa se manter no jogo e nas últimas ser mais agressivo. É a hora do All in, no qual você aposta tudo que tem”, explica.

Já na Cash Game, você troca dinheiro por fichas e quando decide ir embora, troca as fichas que conquistou ou amarga as que perdeu.

Caroline Rodrigues

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Prazer em ser intrusa
Desde a adolescência, ela sempre esteve em meio aos jogos tipicamente de meninos. “Não gostava de exclusão. Sempre fui competitiva e fazia questão de participar das competições de videogame”.

Quando entrou na universidade, logo passou a integrar as rodadas de truco do curso de Biologia. “Eu tenho um primo que viu que eu tinha habilidade com as cartas e me ensinou xadrez. Ele foi a primeira pessoa que me apresentou o pôquer. Acho que ele pensou que eu sabia lidar com o baralho e ainda gostava da estratégia do tabuleiro”.

Após aprender algumas regras, Giulliana ficou encantada com o jogo e pediu para o namorado ir ao Shopping Popular comprar um conjunto bem simples de cartas e fichas. “Eu ficava no pé dos meus amigos para jogarem comigo, comecei a fazer exercícios em ambiente on line até que resolvi ir para um jogo de verdade no CPA Pôker Club”.

A jogadora recorda no interior do salão, que tinha estrutura bem simples, a mesa era ocupada por homens e algumas mulheres estavam no entorno. Elas assistiam os movimentos, enquanto jogavam conversa fora.

Em alguns minutos, a competição acabou para Giulliana, que mesmo assim avalia a experiência como um bom começo. “Primeiro, porque fiz amigos e segundo, porque entrei oficialmente no circuito estadual do esporte”.

Um bom ganho para um prejuízo simbólico, levando em conta que a inscrição era R$35 e dava direito a uma garrafa de cerveja long neck.

A partir daí, os pequenos eventos foram constantes até que ela chegou ao primeiro campeonato estadual, na categoria Ladys Event, na qual obteve o 5º lugar e uma premiação de R$ 200. O valor representou lucro de R$ 150, tendo em vista que a inscrição foi R$50.

Caroline Rodrigues

Cuiabana ganha destaque no ‘carteado’ irlandês

Desembarcando na Europa
Após largar a faculdade, Giulliana decidiu passar um tempo na Irlanda para aprender inglês. Ela desembarcou na ilha esmeralda sem muito conhecimento sobre a língua e com o objetivo de estudar e trabalhar.

A princípio, procurou um emprego como Au pair, uma espécie de babá que vive junto com a família enquanto faz intercâmbio e recebe por isto. “Mas não consegui nada. Meu inglês era pífio, o que dificultava ainda mais”.

Como o dinheiro estava acabando, Guilliana resolveu tentar uma última cartada e mandou currículo para os cassinos. O objetivo dela era conseguir algo na recepção ou em qualquer área que houvesse vaga.

O gerente de um dos cassinos respondeu o e-mail e após ler sobre a experiência dela no jogo, ofereceu a vaga de dealer. “Eu disse que não sabia muito sobre este tipo de trabalho, mas ele disse que ia me treinar porque precisava de profissionais com urgência”.

Para não fazer feio no primeiro dia, Giulliana comprou um baralho barato e treinou incessantemente em casa. “O ambiente do pôquer é muito amigável, então os próprios clientes me ajudavam. Eles tinham paciência comigo, pois eu não tinha rapidez para contar as fichas e passar o troco. Também foi por meio do trabalho que meu inglês deslanchou”.

De volta à mesa
Depois de trabalhar por alguns meses na posição de dealer, era a hora de voltar à mesa como jogadora. Giulliana procurou um cassino onde havia campeonatos com valor de inscrição de até R$ 50 euros. “Eu cheguei ao cassino e o campeonato tinha sido cancelado. Então, peguei o dinheiro que tinha reservado e entrei na categoria Cash Game. Não durei muito tempo e logo tive que sair da mesa”.

Naquele mesmo dia, ela estava triste com a derrota e um amigo, que costuma jogar no cassino onde ela trabalhava, se aproximou e avaliou o jogo. Em seguida, ele deu algumas dicas e assegurou que estava na hora dela retornar a mesa. “Eu não tinha mais dinheiro reservado para o jogo e falei não. Mas ele insistiu e ainda pagou algumas fichas para mim. O acordo era de que se eu perdesse não precisava pagar”.

Após aplicar todas as recomendações, a cuiabana conseguiu triplicar o dinheiro em menos de uma hora. “Entrei com 100 euros e sai com 300. Paguei os 100 e ainda tive 200 de lucro”.

A partir daquele momento, Giulliana passou a ter um amigo que nos meses seguintes passou a ser se namorado.

Caroline Rodrigues

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Segredos do jogo
A jogadora explica que o pôquer é o esporte da mente e precisa de treino constante. É preciso estudar, assistir partidas, acompanhar canais da internet e se houver uma reserva financeira, vale até contratar um coach on line.

Para quem está começando, Giulliana aconselha tentar jogos on line, onde os futuros jogadores podem entrar nas competições com alguns centavos. Ela explica que algumas pessoas chegam a ficar com várias janelas abertas e participar de várias mesas de forma simultânea.

A segunda dica da cuiabana é ter muita disciplina com relação a horários e dinheiro. “Antes de sair de casa, eu sei quanto tempo vou ficar e quanto dinheiro terei disponível para aplicar. Se estiver ganhando ou perdendo, mantenho meu plano”.

Com relação ao dinheiro, a recomendação principal é ter um fundo apenas para o jogo e para participar dos campeonatos. “O esporte não pode atingir de maneira negativa suas finanças”.

Giulliana acompanha constantemente os gastos e ganhos e assegura que se montar um gráfico, a linha será sempre crescente.

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