Em janeiro deste ano escrevi aqui mesmo n’O Livre o seguinte: “Uma verdade inconveniente: a perseguição aos cristãos na História sempre foi uma realidade e nunca cessou, além de estar aumentando”. Graças às informações e levantamentos trazidos pela ACS – Aiuto Alla Chiesa Che Soffre entre 2017 e 2019 (“Perseguitati più che mai. Focus sulla persecuzione anticristiana tra il 2017 e il 2019”, divulgado em Roma no último dia 24 de outubro), pode-se afirmar que não só as perseguições aos cristãos cresceram, como estão mais fortes do que nunca antes da idade moderna.

Calcula-se que o número de cristãos em risco por perseguições religiosas ou anti-religiosas esteja na casa dos trezentos milhões de pessoas. Ou seja, um em cada sete cristãos sofre risco extremo em virtude exclusivamente de sua religião.

Se os maiores algozes dos cristãos continuam sendo os países majoritariamente muçulmanos, a situação tem se agravado em outras paragens outrora, se não mais pacíficas, ao menos com menor número de vítimas. É o caso do extremismo Hindu, na Índia e Sri Lanka, e também movimentos violentos em países cujo governo não é declaradamente islâmico, como Nigéria e Filipinas.

Vinte países são os que chamam mais a atenção nessa nova onda de perseguição com violação dos direitos naturais, humanos e civis dos cristãos: Arábia Saudita, Burkina Fasso, Camarões, China, Coréia do Norte, Egito, Eritréia, Filipinas, Índia, Indonésia, Irã, Iraque, Myanmar, Níger, Nigéria, Paquistão, República Centro-Africana, Síria, Sri Lanka e Sudão.

Alguns países causam estranheza por constarem nessa lista, como é o caso do Sri Lanka, no litoral sudeste indiano, mas que na Páscoa deste ano um atentado islâmico ceifou a vida de 258 pessoas, além de terem sido mapeamos ao menos cinco campos de treinamento da Jihad ismaelita. A Ásia Meridional se tornou uma das áreas de pressão da nova onda de fundamentalismo islâmico, segundo a ACS, como com o atentado terrorista de 27 de janeiro deste ano na Catedral de Jolo, nas Filipinas, e os atentados de 13 de maio de 2018 em três Igrejas em Surabaya, na Indonésia.

Já Iraque e Síria ainda têm grande perseguição aos cristãos, mesmo com a redução da esfera de influência do Estado Islâmico. Para se ter uma idéia, em 2003 o número de cristãos no Iraque era de 1,5 milhão de pessoas, sendo que em meados de 2019 esse número está abaixo de 150 mil pessoas.

Ou seja, em quinze anos a população cristão foi reduzida em mais de 90%. Na Síria, onde em 2011 havia também 1,5 milhão de cristãos, em 2017 esse número já havia sido reduzido para menos de 500 mil. Certamente esse grande decréscimo populacional se dá por muitos fatores: assassinatos, conversões forçadas, deportações, migrações voluntárias etc.

No Irã nada mudou: entre novembro e dezembro de 2018, foram computados 142 cristãos presos porque supostamente partidários de uma “seita sionista” que buscaria “enfraquecer o Islão e a República Islâmica”.

De qualquer sorte, grande parte das preocupações da ACS tem se dirigido à África, que é considerado uma bomba-relógio a ponto de explodir em virtude do cada vez maior número de movimentos jihadistas maometanos que dirigem sua fúria aos cristãos em cada vez mais países. Tanto é assim que entre dezoito sacerdotes e uma religiosa mortos no mundo em 2019, nada menos do que 15 foram mortos no continente africano.

É aqui que o desconhecido Burkina Fasso se destaca pela impiedade na caça aos cristãos. Nos primeiros seis meses de 2019, mais de 20 cristãos foram mortos, incluindo três sacerdotes e um pastor. Um outro sacerdote, Joel Yougbare, foi raptado em março de 2019 e o bispo de Dori denuncia: “se se continuar a não intervir nessa perseguição, o resultado será a eliminação da presença cristã nesta área e, quiçá, no futuro em todo o país”.

O caso da Nigéria é um dos mais intrincados, não apenas por ser sede do grupo islâmico Boko Haram, cuja violência para com os cristãos já é mundialmente famosa, mas que agora conta com suporte também de pastores agarenos da etnia fulânis, à qual pertence o presidente Mohammed Buhari e parece não se importar muito com a perseguição que seu grupo muçulmano empreende contra os cristãos; alguns dizem que se trata de uma ação deliberada para promover a islamização completa da região do Cinturão Médio da Nigéria.

O Níger teria em seu território uma considerável quantidade de fulânis maometanos que empregam a mesma violência às suas vítimas que na Nigéria, além de um incontável número de grupos terroristas islâmicos como Al-Qaeda, Boko Haram, Estado Islâmico entre outros lotados em suas fronteiras. Na Eritréia, antiga parcela do território da Abissínia italiana, o poder estatal tem feito de tudo para calar a Igreja Católica perseguindo-a por motivos religiosos, tendo o governo nos últimos meses confiscado 22 hospitais católicos e fechado 4 escolas igualmente católicas.

Na Arábia Saudita (berço da crença maometana), Coréia do Norte e China (os dois últimos anti-religiosos), a situação já grave pouco mudou – mas para pior. Enquanto na Arábia a aparente abertura do governo não se transmutou em liberdade religiosa aos cristãos e fim das perseguições, na Coréia do Norte calcula-se que setenta mil cristãos estão presos em campos de concentração. Já a China, com a entrada em vigor em 1º de fevereiro de 2018 da nova lei sobre questões religiosas, foi novamente limitada a liberdade de crença que atinge sobretudo cristãos.

Por fim, os nacionalistas hindus de Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, causaram mais de um mil agressões contra cristãos entre 2017 até março de 2019. No vizinho Paquistão, ainda que a absolvição da acusação de “blasfêmia” por tribunais islâmicos da cristã Asia Bibi tenha ocorrido (seu crime foi pegar água para beber antes dos muçulmanos), ainda estão mais de 25 cristãos presos igualmente por “blasfêmia” contra o Islão, dos quais 6 estão condenados à morte pelo suposto crime religioso.

Para se ter uma idéia, um cristão do vilarejo de Sialkot foi acusado de “blasfêmia” contra a fé agarena e sua casa foi imediatamente queimada por uma turba furiosa. Em casos como este  normalmente são vizinhos, “amigos” e parentes que buscam punir o “criminoso blasfemo”.

A frase do Arcebispo de Carachi, cidade mais populosa do Paquistão, define uma situação de perseguição que se aplica a todos os países supramencionados: “vivemos em um estado permanente de tensão, porque na nossa cabeça sabemos que de qualquer lugar e a qualquer momento acorrerá um novo ataque aos cristãos, ainda que não saibamos nem onde nem como”.

Já no Ocidente, diante desses dados alarmantes de perseguição aos cristãos, cabe citar novamente que o único preconceito religioso admissível no mundo moderno politicamente correto é contra cristãos, como disse G. K. Chesterton já no século passado: “o que o mundo hoje espera de um católico é que ele respeite todas as religiões, exceto a sua própria”. Ainda creio que essa frase se estenda a todos os cristãos atualmente, especialmente aos mais perseguidos.

Assim é que as batutas acerca da Santa Inquisição, os missionários cristãos na América, supostos genocídios no Novo Mundo, a “aculturação” de indígenas e aborígenes e coisas do gênero servem aos olhos do anticristão ocidental para chancelar a perseguição por sofridas em outros países atualmente, sempre ignorando as guerras de conquista empreendidas pelo Islão ao longo da História e seu jihadismo atual, ou à escravização de cristãos pelos mesmos mouros ou pelos vikings então pagãos, ou a perseguição pelos pagãos durante o Império Romano, ou à perseguição hodierna em países árabes e por aí vai… E sempre com as maiores vítimas entre mulheres e crianças.

Por isso que no Ocidente a palavra-chave de “perseguição” religiosa é empregada quase unicamente para dar sentido à falsa “islamofobia” ou voltada às religiões de matriz africana, mas nunca acerca do fato inegável que a perseguição aos cristãos está maior do que nunca, ainda que não ouçamos nem leiamos na imprensa acerca da “cristãofobia” latente no mundo.

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