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As famílias e seu dia: como comemorar?

Colocar as famílias no centro das ações de enfrentamento da crise é a melhor estratégia

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As famílias e seu dia: como comemorar?
(Foto: Jude Beck - Unsplash)

As famílias suportam o peso da crise causada pela pandemia, minimizando os impactos sociais e econômicos da situação. Porém, falta apoio público para o desenvolvimento familiar no Brasil, realidade que se agrava com as polêmicas em torno do tema, pois contaminam o debate público.

Como parte das ações de enfrentamento à crise precisarão ter como foco a família, urge construir consensos na sociedade para reconhecer o investimento nas famílias como a melhor estratégia de proteção social.

“São as famílias que suportam o peso da crise”, reconhece a mensagem oficial da ONU para o Dia Internacional das Famílias (15 de maio), fazendo referência à pandemia. De repente a “família”, um assunto que se tornou polêmico e um pouco fora de moda, voltou a ocupar as manchetes.

A verdade é que as famílias estão minimizando os custos econômicos e sociais desta crise, trabalhando de casa em situações adversas, fazendo o possível pela educação das crianças e cuidando da saúde física e mental de seus membros. Assim, uma questão essencial se levanta: será que governo e sociedade estão garantindo o apoio necessário às famílias?

Alguns dados podem ajudar nesta reflexão. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, as famílias pobres brasileiras precisariam de 9 gerações para alcançar a renda média do país.

Aliás, a pandemia já fez com que 51% das famílias nas classes D e E perdessem metade da renda ou mais. A quarentena evidenciou o quanto as famílias estão distantes das escolas, apesar de pesquisas indicarem que a proximidade entre ambos reduz a evasão escolar e pode melhorar o aprendizado.

A solidão de muitos idosos nestes dias está causando comoção, porém é uma realidade constante, a ponto de o Reino Unido ter criado, em 2018, um Ministério da Solidão para enfrentar o problema. Sem falar nas dificuldades de pais e mães em conciliar o trabalho com a rotina familiar durante o confinamento, o que nos lembra de outra realidade: 50% das mães brasileiras estão fora do mercado de trabalho em até 24 meses após o parto.

Além do mais, a explosão da violência doméstica nesses dias é apenas uma consequência de relações familiares já fragilizadas.

Uma das poucas certezas desta crise é que as dificuldades enfrentadas pelas famílias brasileiras irão se aprofundar. Como são “base da sociedade” e formam redes de proteção social para seus membros, é fundamental reconhecer que as consequências das dificuldades sofridas pelas famílias afetam a todos.

Portanto, colocá-las no centro das ações de enfrentamento da crise pode ser a melhor estratégia para integrar as soluções propostas por governos e sociedade civil, em seus diferentes âmbitos: saúde, educação, emprego e garantia da renda. Para isso será necessário construir consensos na sociedade, pois infelizmente “falar de família” no debate público tornou-se fonte de infindáveis polêmicas.

Em um relatório publicado neste ano, o Secretário-Geral da ONU afirmou que “investir nas famílias como o ambiente natural para as crianças é frequentemente visto como a melhor estratégia de proteção social”.

Este reconhecimento é o caminho para construir um terreno comum para o debate: não há polêmica sobre a promoção de programas centrados na família para superar o ciclo da pobreza ou para equilibrar a vida profissional e familiar, por meio de licenças e maior envolvimento paterno.

Mais que qualquer setor produtivo, as famílias precisarão do apoio de governo e sociedade para proteção da renda e retomada do emprego, especialmente das mães – já injustamente discriminadas no mercado de trabalho.

Que neste Dia Internacional das Famílias consigamos dar o presente que elas merecem: reconhecimento de seu papel insubstituível por meio de apoio para superar esta crise.

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Gilberto Haddad Jabur é professor de Direito da PUC-SP e presidente da Associação de Desenvolvimento da Família (ADEF)

Rodolfo Canônico é diretor executivo de Family Talks, programa de advocacy da ADEF

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