Era 17 de janeiro quando os policiais militares Weberth Batista Ribeiro e Ezio Sousa Dias, ambos com 30 anos, encontraram Elizangela Moraes e Osvaldo Pereira Gomes Neto, na Avenida Tangará, em Sorriso (400 km de Cuiabá). E apenas pelo fato de o casal ter cruzado o caminho dos dois, eles decidiram matá-los.
No início deste mês, o Ministério Público Estadual pediu a condenação e a perda dos cargos dos militares. Agora, eles responderão por tentativa de homicídio praticada por motivo fútil, mediante recurso que dificultou a defesa da vítima e com a utilização de meio cruel.
Além disso, o MP pediu o afastamento dos réus da função de policial militar e que, ao fim da ação criminal, ambos ainda sejam processados na esfera cível por ato de improbidade administrativa.
Dia de fúria
Segundo a denúncia do Ministério Público, no dia 17 de janeiro deste ano, Weberth e Ezio causaram um tumulto em um estabelecimento.
Descontente com a situação, o dono do local pediu que eles parassem e acabou ameaçado pelos dois. Os policiais deram semanas para o homem sair da cidade, caso contrário, voltariam para matá-lo.
Fora de si, naquela noite os dois policiais saíram sem rumo pelas ruas de Sorriso como se fossem donos da cidade. Agrediam quem quer que passasse pelo caminho deles.
“Tudo valendo-se do cargo público que exerciam – policiais militares”, diz trecho da ação movida pelo MP.
Neste mesmo dia, Elizangela e o namorado, Osvaldo, tinham saído para passear. Na voltar para casa, pediram um veículo por aplicativo e colocaram como ponto de espera um ponto de ônibus na Rua Tangará.
Enquanto aguardavam, porém, Weberth e Ezio apareceram armados. De acordo com o MP, sem que o casal fizesse absolutamente nada contra eles, os dois policiais fizeram deles um alvo.
Vítimas no caminho
Imagens de câmeras de segurança foram utilizadas pela Polícia Civil para embasar o inquérito. Elas mostraram, segundo a denúncia do MP, que Elizangela e Osvaldo estavam sentados no ponto de ônibus, encostados em uma parede, quando foram encurralados.
O casal não teve nenhuma chance de defesa. A dupla chegou efetuando o primeiro disparo “simplesmente porque estavam em seu caminho”.
Em seguida, passaram a agredir o casal com tapas e socos. Ezio chegou a se afastar um pouco, mas Weberth continuou as agressões.
Ezio retornou segundos depois e mirou a arma, mais uma vez, contra as vítimas. Mais um tiro foi disparado.
Insatisfeito, o policial armado se aproximou ainda mais. Foi quando Elizangela suplicou pela vida: “Pelo amor de Deus, não dispara”. Não adiantou. Ezio atirou e atingiu o rosto da mulher, que caiu no chão, sangrando.
Segundo o MP, Osvaldo viu Ezio tentar atirar mais vários vezes. O tiro só falhou porque já não havia munição na arma.
Socorro
O tiro no rosto de Elizangela lhe causou hemorragia e multifraturas em sua mandíbula. A bala ficou presa na região cervical posterior.
Ela só não morreu, segundo o MP, porque as balas da arma de Ezio acabaram. Além disso, foi socorrida rapidamente pelo Corpo de Bombeiros de Sorriso, que a levou para um hospital.
A família fez uma arrecadação coletiva no site “Vakinha” para arcar com os gastos em medicamentos e moradia de Elizangela, enquanto ela está em recuperação. Quem quiser ajudar, pode clicar AQUI.
Agravantes
Naquela noite, assim que foi acionada, a Polícia Militar já recebeu a informação de que os suspeitos eram dois de seus agentes e iniciou buscas.
Weberth foi encontrado na casa de sua mãe. Ezio, no alojamento do 12º Batalhão da Polícia Militar. Com ele, embaixo de um travesseiro, estava o revólver com seis munições deflagradas.
A arma não estava no nome de Ezio e ele não possuía autorização para estar com ela ou qualquer outra quando não estivesse de serviço – o que não era o caso no dia.
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O MP entendeu, pela investigação dos fatos que, claramente, os policiais dificultaram a defesa das vítimas, que ficaram vulneráveis, encurraladas contra a parede e com um arma apontada para elas, enquanto apanhavam.
O motivo das duas tentativas de homicídio também foi qualificado como fútil. A todo momento na denúncia, o MP destaca que Ezio e Weberth tentaram matar o casal por simplesmente estar em seus caminhos, “tudo em razão do cargo público que exerciam”.
Por fim, foi acrescentado o agravante de utilização de meio cruel, já que as vítimas foram expostas a sofrimento desnecessário a todo momento, apanhando mesmo após Elizangela ter sido baleada.
Afastamento do cargo
O Ministério Público Estadual pediu à Justiça o imediato afastamento dos dois policiais de seus cargos, justificando que eles não merecem permanecerem em suas funções.
“Ainda mais em se tratando de servidor da Polícia Militar, que carrega grande parte da responsabilidade pelo sentimento de (in)segurança da população”, diz trecho da ação.
O MP alegou ainda que Ezio e Weberth poderiam tentar novamente utilizar o cargo para cometer atos que colocassem em risco a credibilidade da Polícia Militar de Mato Grosso, em especial em Sorriso.
Ao fim da ação, pediu também que os policiais respondam por ato de improbidade administrativa.