O presidente Lula falou sobre a chacina em Sinop e a fila de ossinhos em Cuiabá no seu discurso na cerimônia da entrega de apartamentos populares em Rondonópolis, nesta sexta-feira (3). Sem citar nominalmente Bolsonaro, Lula usou os casos para exemplificar do que ele entende ser reflexos da gestão anterior do país.
As declarações de Lula foram em parte motivadas pela recepção com vaia da população ao governador Mauro Mendes (União Brasil) e o senador Wellington Fagundes (PL). Ele aproveitou a ocasião para tentar amenizar a resistência, com retorno às falas sobre o fim das eleições em outubro.
“Eu, quando venho a um estado, eu não quero saber se ele foi contra mim ou se o governador foi contra mim, ou favor. A eleição acabou em outubro. Eu quero saber de trabalhar junto com ele para melhorar a vida da população, seja a pessoa um amigo ou um adversário”, disse.
Lula não ultrapassou a marca de 40% dos votos em Mato Grosso, tanto no primeiro quando no segundo turno das eleições presidenciais.
Reação ao governador
Ao pegar do microfone, Mauro Mendes foi vaiado por algumas pessoas na audiência que acompanhavam a cerimônia. A mesma recepção já tinha sido dada ao senador Wellington Fagundes, ao seu nome ser anunciado – ele não falou.
Mendes relembrou as vaias que recebeu no início do primeiro mandato, em 2019, e disse que nos quatro anos seguintes “conseguiu colocar o estado em ordem”. Logo depois, também relembrou do processo eleitoral e a reação dos apoiadores de Jair Bolsonaro com a derrota.
“O que o presidente [Lula] tem dito em todos os seus discursos é o respeito à democracia. Eu fui vaiado por produtores rurais em 2019 pelas medidas que alguns consideravam duras. Mas, com a ajuda de muitos, consegui colocar o estado em ordem e fui eleito com 70%. Mas, não importa se foi eleito com 70% ou 51% [percentual da vitória de Lula], é preciso respeitar democracia”, afirmou.
As entrelinhas
A fala de Lula foi seguida a essa manifestação. Ele emendou o assunto à chacina de sete pessoas em Sinop (505 km de Cuiabá), no dia 21 de fevereiro.
“As pessoas estavam um bar jogando snooker e um cara, que perdeu a partida, do nada, sem explicação nenhuma, fez uma chacina. Nosso país entrou num estado de ódio. O ódio predominou, a mentira predominou”, disse.
Lula tentou associar discretamente à chacina com as medidas de compra e porte de arma de fogo no país durante o governo de Bolsonaro. O suspeito de matar as pessoas tem registro de CAC (colecionador, atirador esportivo e caçador) desde 2022.
O aumento de restrição na quantidade de armas compradas por civis e no porte delas está incluído no conjunto de decretos revogatórios que Lula baixou no primeiro dia de governo.
Lula também aproveitou o discurso para falar sobre as filas de ossinhos ocorridas em Mato Grosso durante a pandemia e afirmou que a situação ilustraria a volta à “estagnação econômica”.
Minha Casa, Minha Vida
O presidente ainda usou o tom político para falar da entrega dos apartamentos em Rondonópolis. O projeto faz parte do programa Minha Casa, Minha Vida que será retomado pelo governo federal.
As obras foram suspensas em 2016 após o impeachment de Dilma Russeff (PT). Segundo Lula, a conclusão da primeira etapa do residencial hoje, mais de dez anos após o lançamento, seria um efeito o impeachment.
“Se não tivessem dado um golpe da presidente Dilma, isso aqui já teria sido acabado há muito tempo. Mas, foi lançado pelo governo PT e está sendo entregue pelo governo PT”.
Durante a cerimônia, o prefeito de Rondonópolis, José Carlos do Pátio (PSB), lançou a segunda fase das obras, para a construção de outras casas. Lula que irá retorno à cidade em 2024 para fazer a entrega.
