“Bom dia, Bene. Tudo bom? E aí, já está em Londres? Fazendo o que agora?”

 

”Bom dia! Sim! Muita chuva e frio. Estou indo agora para o museu de design.”

 

“Fazer o quê??????”

 

A troca de mensagens acima ocorreu, via Whatsapp, com um amigo durante minha estadia em Londres. Oras! – deve ter pensado ele – o que raios o Bene vai fazer em um museu de design se foi lá para pesquisar sobre armas, desarmamento e criminalidade? Pois bem, meu amigo, aqui vai a sua resposta!

 

O Victoria and Albert é o maior museu de arte e design do mundo, conta com uma coleção permanente de mais de 2,3 milhões de objetos que contam a história de mais de cinco mil anos de criatividade humana e, como não poderia deixar de ser, possui um vasto acervo de armas.

 

Em 2013, o museu se envolveu em uma “polêmica” – que é como muitos jornalistas costumam noticiar algo que eles odiaram, mas não podem criticar diretamente ainda mais quando 99,9% da população terrestre não dá a mínima para aquilo – envolvendo a aquisição de alguns exemplares da pistola “Liberator”, aquela arma impressa em 3D texana. A postura dos diretores e do curador do V&A foi dura e firme, defenderam que não importa se você gosta ou não de armas, elas fazem parte do nosso cotidiano e contam, também, a história da evolução humana. Há, inclusive, um ótimo artigo no próprio site do museu e pode ser acessado aqui.

 

O prédio é imponente, gigantesco, e é simplesmente impossível ser visitado em apenas um dia. Mesmo assim pude ver, tão de perto, inseridas em contextos históricos e artísticos, armas de fogo que até então só havia visto em livros. De todas, a que mais me chamou a atenção foi um exemplar em perfeitas condições de uma Tanegashima, arma de fogo produzida no Japão. As armas de fogo, bem como todos os símbolos ocidentais foram banidos daquele país durante o século seguinte. Sua raridade e representatividade se torna ainda mais clara quando verificamos a sua descrição: “Armas de fogo foram introduzidas no Japão pelos portugueses na década de 1540. Oficinas foram rapidamente estabelecidas para produzir armas com sistema de mecha, cuja eficiência mortal trouxe mudanças fundamentais na forma como a guerra foi conduzida. Com sua decoração incrustada de símbolos cristãos, essa arma de fabricação japonesa, provavelmente pertencia a um samurai de alto escalão que adotara o cristianismo.”

 

Há dezenas de outras armas expostas e precisamente catalogadas, de várias regiões do mundo, muitas ainda apresentadas em seus contextos históricos. Várias delas são verdadeiras obras de arte, com incrustações, gravações e adornos preciosos. Quem não consegue enxergar ali a existência de um objeto que é muito mais que algo criado para atirar ainda não conseguiu sair do paleolítico, surpreende-me até que consiga ser bípede!

 

Já visitei muitos museus no Brasil, alguns de grande relevância. Via de regra as armas simplesmente não estão lá – quase sempre por problemas burocráticos da nossa legislação – e quando estão, quase sempre, se resumem a meia dúzia de garruchas cujos curadores não fazem a menor ideia do que são, de onde vieram e qual o seu valor histórico – isso quando as peças ali valem alguma… É triste, muito triste!

 

Ao mesmo tempo, nas diversas campanhas de desarmamento que ocorreram no Brasil, jogaram incontáveis armas históricas em baixo de rolos compressores e nos fornos de siderúrgicas, destruíram e derreteram parte da história do Brasil e do mundo em nome de uma “cultura de paz”. Agiram como agem os Talibãs que em nome de sua radical religião destroem obras insubstituíveis. Como Narciso, acham feio aquilo que não é reflexo de sua alma atormentada por esse pacifismo bocó e, sem dó nem piedade, não pensariam duas vezes antes de martelar até as armas de D. Pedro II.

 

Bene Barbosa é especialista em segurança, escritor, presidente do Movimento Viva Brasil, palestrante, autor do best-seller Mentiram Para Mim Sobre o Desarmamento, Instrutor de Armamento e Tiro do Curso Básico de Armamento e Tiro do Projeto Policial.

 

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