Se minha vida tivesse um tema, não tenho dúvida de qual seria: recomeço.
Na minha caminhada, tive grandes recomeços, em diversos momentos. Aqui, não falo de pequenas mudanças. Falo de pequenas revoluções. Daquelas transformações em que praticamente nascemos de novo. Quando, ao olhar para trás, parece mesmo que vivia outra vida.
Vou explicar minhas grandes reviravoltas.
Aos 13 anos, vivia uma vida que parecia perfeita. Era jovem, despreocupada, tinha família e amigos ao meu lado e o futuro parecia que seria uma eterna manhã de verão. O mundo era meu, pensava. Um acidente que tirou a vida do meu namorado de adolescência eliminou a certeza de que a vida era feita só de alegrias. Aprendi, cedo, que lágrimas e dor também habitam os dias dos menores de idade. Foi o primeiro — e talvez maior — golpe de todos.
Aos 16, saí da casa dos meus pais para estudar em outra cidade. Nunca mais voltei. Tive que aprender a resolver tudo sozinha. Desde administrar o horário do despertador, até cuidar da alimentação e saber como dividir meu tempo para cumprir todas as obrigações. Foi quando comecei a cuidar de mim e das minhas coisas sem a ajuda de ninguém.
Aos 22, outra grande mudança. Não mais dentro do Brasil, mas para outro país. Sozinha em terra estrangeira, rompi as barreiras da cultura, da língua, dos valores. Revi tudo o que sabia ou achava que sabia. Vivi situações hilárias, apavorantes e maravilhosas. Fui para ficar seis meses e fiquei quase nove anos. Fui sozinha e voltei com filho e marido. Fui uma jovem adulta e voltei uma mulher. Fui com a cabeça cheia de certezas e voltei de mãos dadas com as incertezas.
Aos 32, outra virada de 180 graus: a volta para o Brasil. Outro baque. Dizem que quem fica muito tempo fora do país de origem nunca mais se sente em casa quando retorna. Sou a prova viva disso. Até hoje, quase dez anos depois, ainda me sinto uma estrangeira dentro da própria pátria. Sinto falta de algumas comidas, alguns hábitos, algumas perspectivas que só tinha quando morava fora. Já me conformei que pertenço a dois mundos, dois lugares totalmente diferentes. Serei sempre incompleta de alguma forma, porque parte de mim está aqui e parte gostaria de estar lá. E tudo bem.
Aos 42, um novo recomeço. Com meu filho prestes a entrar na faculdade, decidi que era hora de estudar também. Chegou a hora de começar outra faculdade, porque nunca é tarde para ser aprendiz da escola e da vida. Inicio um novo capítulo de minha caminhada, em minha eterna busca pelo conhecimento. Se antes eu tinha medo de grandes mudanças, hoje as procuro e celebro cada oportunidade que elas trazem. Afinal, recomeços são oportunidades que temos para reescrever nossa história. Existe algo mais libertador?

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