Comportamento

Uma noite no swing em Cuiabá – vivemos essa experiência

Na casa de swing não há mentiras ou traições; e dizem que quem vai ao swing uma vez sempre volta, pode até demorar, mas o retorno é certo

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Uma noite no swing em Cuiabá – vivemos essa experiência
(Foto: reprodução)

Um sobrado alto em um bairro nobre da cidade, que até poderia passar desapercebido, se não fosse por três coisas: um segurança na porta, um estacionamento na lateral e as luzes vermelhas nos andares de cima, que denunciam que algo diferente acontece ali.

Percebam que escrevi “diferente” – e não “suspeito”, pois não há nada de errado em uma casa de swing, não há traição nem mentiras: os casais ali sabem o que estão fazendo e vão se divertir juntos. Em poucos casos também vão solteiros, mas, bem, essa não foi a nossa experiência, não dessa vez.

Chegamos ao famoso e conhecido – ou nem tanto – Swing Cuiabá Bar Liberal, por volta das 22h40, um pouco cedo, mas não sabíamos disso. Junto a nós chegava um casal mais velho, um homem começando a ficar grisalho, vestido de social e uma mulher extremamente produzida, de salto alto e vestido curto – que depois viríamos a descobrir ser o traje mais comum na casa.

Um segurança de terno preto abre o portão e nos dá as boas-vindas. Já dentro da casa vemos que a ela foi acrescentado um contêiner. Uma jovem e sorridente mulher nos recebe. Após o casal que havia chegado conosco pagar sua entrada, chega a nossa vez.

“É a primeira vez de vocês aqui?”. “Sim”. “Não pode usar celular, ta?”, finalizou ela com um sorriso.

Entramos. Para ser sincera, nesse momento minhas pernas bambearam, mas é como diz aquele ditado “se está na chuva é para se molhar”, então começava aqui a nossa noite no swing em Cuiabá.

A casa

Assim que entramos resolvemos explorar o local. Após o corredor de entrada há várias mesas redondas com forros vermelhos e cadeiras de fio da cor de madeira, ao lado de uma piscina de tamanho médio – que também tem uma mesa dentro, na parte rasa, no calor de Cuiabá isso parece uma ótima ideia.

Quando entramos tinha somente um casal sentado em uma dessas mesas, nos olharam, nós retribuímos o olhar, mas ninguém disse nenhuma palavra.

Em frente à piscina há uma porta de correr que leva ao interior da casa. Desde a entrada já era possível ouvir o som que vinha lá de dentro, naquele momento tocava música eletrônica.

Curiosos, passamos pela porta. O local era iluminado somente por luzes negras. No lado direito um bar, onde uma bela morena de cabelos cacheados nos recebeu com um sorriso. À esquerda uma escada que leva aos andares superiores. E à frente uma pista de dança, com direito a pole dance e sofás encostados nas paredes.

Pouco depois do bar havia um casal jovem, o rapaz sentado e a moça em pé, ambos ao redor de uma mesa alta. Junto a eles havia uma outra jovem, que usava uma pulseira laranja no braço indicando que ela era uma das disputadas solteiras da noite. Ambas morenas, com roupas curtas e provocantes, além de saltos altos, claro. O rapaz vestido de social, traje indicado no site da casa.

Ao lado deles um banheiro, que durante a noite, a cada vez que era aberto, dava a oportunidade de ver um pouco mais dos casais com a luz comum.

Voltamos ao bar, pedimos uma cerveja. Perguntamos sobre o que tinha nos andares superiores e se poderíamos subir para conhecer.

“São quartos, hoje estou sozinha no bar, senão levava vocês para conhecer. Eles são liberados à 1h para que os casais subam, alguns são privativos, em que podem ficar dois casais, os outros são coletivos. Mas tem o container que já está aberto desde agora para os casais que quiserem começar, lá é para todo mundo junto”, explicou a moça.

Primeiro passamos pela pista de dança e vimos a porta que levava ao container, um lugar gelado, bem gelado, com dois equipamentos de ferro com um pequeno estofado – que nunca tínhamos visto e não sabíamos para o que servia – e um sofá ao final. Não tinha ninguém lá dentro.

Voltamos e resolvemos subir as escadas. No 1º andar entramos no primeiro quarto, era um dos coletivos, tinha mais um daqueles equipamentos e um sofá. Na porta um papel avisando que o quarto era coletivo e a porta não podia ser fechada.

Ao lado um quarto privado, que tinha uma cama de casal. À frente mais um quarto coletivo, nesse nem mesmo tinha porta, apenas uma cama de casal e um sofá. Ainda havia um banheiro no andar.

Subimos mais dois lances de escada e chegamos ao 2º andar. Outro quarto privativo e um banheiro. Todos os quartos tinham luzes e lençóis vermelhos, a cor da paixão. Sugestivo, não?

Retornamos ao térreo e fomos à beira da piscina. Reparamos que aos fundos tinha mais alguns cômodos. Primeiro um banheiro e à frente um quarto, cuja um papel na porta indicava que era somente para ménage à trois (relação de três pessoas). Dentro dele – o menor da casa – uma cama, também com um lençol vermelho.

Ao lado dos dois cômodos, um corredor. Como estava tudo desligado, resolvemos não entrar. Aliás, o escuro é algo comum no local, os únicos cômodos com luzes comuns são os banheiros, no restante, ou pequenos freixos de luz, ou lâmpadas verdes, vermelhas, ou de luz negra.

Os casais

Sentamos em uma das mesas do “quintal” e ficamos atentos à chegada dos casais, que começaram a chegar com certa rapidez.

Uma coisa posso dizer com toda certeza, no swing – ao menos de Cuiabá – tem pessoas para todos os gostos.

Casais jovens, casais de meia idade, loiros, morenos, brancos, negros, gordos, magros, malhados. Mulheres sempre com roupas curtas, em maioria vestidos justos e com decote, e salto alto. Homens 100% com camisas sociais.

Uma curiosidade, muitos dos casais pareciam formados por homens mais velhos e mulheres mais jovens.

Alguns homens solteiros também chegavam, não vimos mulheres solteiras entrar, embora saibamos que são tão bem-vindas que até não pagam entrada. Dizem que o dono da casa não permite “casais de mentira”, sempre os percebe e os retira. Nessa sexta-feira (27) ele não estava presente.

Voltando aos casais, eles foram chegando pouco a pouco e, de repente, já tinha mais de 20 na casa e todas as mesas estavam ocupadas.

Eram pessoas comuns, dessas que você vê andando na rua todos os dias, nada erotizado – mesmo com as roupas curtas das mulheres. Como todos os cômodos são escuros, não dá para ver muito bem os rostos, acho que as escolhas ficam mais pelo corpo, afinal mesmo na luz negra os contornos continuam bem visíveis.

Um dos casais estourou um espumante. Incrível, mas logo depois as pessoas começaram se dirigir ao interior da casa. Se não fosse uma simples coincidência, eu diria que o estouro do champanhe brindou o começo real da noite.

O início

Já devia ser por volta das 23h30 – não temos como precisar, visto que os celulares são proibidos e estávamos sem relógio – quando percebemos que os casais estavam se dirigindo para dentro, resolvemos ir também.

Nesse momento tocava funk. A moça morena, que já estava quando chegamos, dançava junto ao namorado, que seguia sentado. Ela se esfregava no rapaz no ritmo da música, uma cena bonita de ver.

Agora também tinham casais ao redor do bar e alguns sentados no sofá. Resolvemos nos sentar também. Pouco depois um casal sentou ao nosso lado.

Embora ainda tivesse muito espaço no sofá, o homem, grisalho e de camisa branca, resolveu ficar bem perto, tão perto que sua perna ficou completamente encostada nesta que vos escreve.

Fui me mexendo e consegui desencostar. Fiquei pensando se era uma forma do casal tentar algum contato conosco.

Um casal jovem, um dos mais bonitos da noite, começou uma “pegação” um pouco mais quente. Eles chamavam a atenção e não pareciam se importar nem um pouco com isso.

De repente os casais começam a se direcionar ao container. Fomos atrás. Alguns se beijavam, outros passavam a mão, mas até o momento nada além disso.

Retornamos à pista de dança, assim como vários casais. Pouco depois, quando o som abaixou, um gemido alto, vindo de dentro do container, chamou atenção de todos que estavam na pista. Foi questão de segundos para que todos corressem para lá, esse som foi a deixa para que as coisas começassem a esquentar.

Muitas pessoas se aglomeravam em cima da mulher que gemia, não conseguimos chegar perto. Mas ela conseguiu despertar todo mundo. A moça que antes dançava no namorado na pista, agora estava ajoelhada em frente a ele no container.

Dois casais se olharam e sem uma única palavra trocaram as mulheres. O local, que quando chegamos parecia um frigorifico, agora estava quente, cheio de estalos e gemidos.

Lembram daquele equipamento de ferro que não sabíamos para o que servia? Foi a hora de descobrir. Um homem deitou a mulher na parte estofada e se ajoelhou em meio às pernas dela, segurando nas bases de ferro laterais.

Aos poucos os casais voltaram a se dissipar, mas não por muito tempo. Outra vez um gemido lá dentro, dessa vez tão alto que a música nem precisou ser abaixada para ser ouvido. No container um casal e outros três homens ao redor.

Na pista vários casais dançavam, agora sertanejo, mostrando que nem mesmo na música há preconceito no swing – que exemplo. Alguns se mexiam de forma um pouco mais quente, alguns até um tanto exibicionistas.

Conversas entre os casais começam a ser vistas. Um casal convida o outro para algo e tem como resposta que depois, lá em cima, se referindo aos quartos.

Poucos minutos depois os quartos são liberados e alguns casais começam a “sumir”. Resolvemos que já é a hora de ir embora e vamos pagar a conta.

“Vocês ganharam entrada livre para amanhã. E sempre que algum casal paga R$ 150 ganha entrada para outro dia, até para os de shows”. “Amanhã tem show?”. “Não, esse final de semana não tem, é que teremos uma grande festa de halloween dia 01, para comemorar o aniversário da casa”. “Legal, quantos anos a casa tem?”. “Cinco anos”.

Próximo à piscina, um casal conversa com duas solteiras. No corredor de entrada dois casais conversam. Quando estávamos na porta, duas pessoas entravam e nos olharam fixamente.

Fomos embora repletos de histórias para contar, essa é apenas uma parte. Deixo aqui o convite para quem também quiser experimentar, mas junto a ele uma dica: Dizem que quem vai ao swing uma vez sempre volta, pode até demorar, mas o retorno é certo.

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