As imagens dos jogos da copa, com a presença de pessoas de todas as regiões do globo, fazem-nos refletir sobre as diversas culturas que delimitam sentidos às palavras, saberes, sabores, cores, diversas formas de comportamento e expressões variadas quanto ao formato de nossas individualidades e das coletividades culturais. Uma rica trajetória da existência humana.

Ao mesmo tempo, esses sobrevoos de percepção de outras ordens sociais, inclusive pelas mídias digitais, possibilitam a constatação de que certos costumes são desafiadores à visão de uma mesma humanidade a todos aqueles viventes.

No Qatar, sabe-se que as mulheres, comumente tuteladas por figuras masculinas, são vistas como propriedades dos homens, desqualificadas por pertencerem ao gênero feminino. São tachadas de seres inferiores quando comparadas ao que se categoriza supremacia do masculino, na visão cultural do país.

Não bastasse essa hierarquização imposta, até mesmo nos casos de estupros as vítimas podem ser acusadas de sexo ilícito e, nesse caso, são condenadas à prisão e às chicotadas. A voz do feminino sequer é ouvida. No caso da constatação de adultério por parte delas, há controle existencial, com penalidades às mulheres. Tais orientações são alheias ao masculino. Os homens são comumente livres.

A situação dos trabalhadores braçais também não tem sido fácil no país. Habitualmente, os contratos são restritivos, com certa semelhança à negociação de objetos (delimitação proibitiva à autonomia).

No concernente à população LGBTQI+ ou aqueles não-cisgêneros estes são igualmente categorizados no vazio do conceito à dignificação, com possível punição a pena de morte.

Isso nos leva a questionar quanto aos limites culturais e as exigências universais dos direitos humanos.

É certo que não somos iguais. Gostos, orientações, aprendizados, padrões comportamentais, dentre tantas outras características, fazem-nos um novo ponto de partida à identidade. Isso não retira plano de significação o fato de que estamos diante de uma mesma humanidade.

Não há hierarquias existenciais entre as diversas expressões do humano. Essa orientação é a maior riqueza às convivências nas relações, sem qualquer monopólio identitário.

Ela torna o catálogo da vida, em si, uma inebriante oportunidade de aprendizados.

Ao sermos confrontados nas diferenças, alcançamos um incremento saudável ao cotejo da diversidade. O encontro com o outro, uma vez ocorrido, acresce outros patamares referenciais. Não conseguiremos voltar na escala do espaço-tempo. Há desdobramentos nessa realidade. Não se pode retirar impressões que já são parte da nossa alma, do nosso conhecimento, como personalidades viventes em um mundo múltiplo.

Diante de nós, há uma delimitação em continentes, espaços de linguagens, contextos simbólicos e temporalidade presente em um calendário narrado por gerações e gerações.

O mundo externo nos ensina a partir do outro. Contudo, as transformações internas são as mais profundas. Nisso não há isolamento. Uma dimensão interfere na outra. O externo no interno. O interno no externo. Um permanente porvir. Por isso, o interculturalismo defendido por Habermas é tão eficiente à conjuntura de uma crítica construtiva.

E isso é uma medida de esperança à superação de estigmas e de instransponíveis isolamentos que nos fazem criar barreiras à percepção da humanidade inerente em cada um de nós.

A citação do evento COPA somente nos habilita ao acréscimo reflexivo para as críticas necessárias ao conceito de culturas. Todas as expressões de vivência, ainda que desumanas, poderiam ser talhadas como expressões culturais?

As possíveis respostas podem assustar e surpreender.

O espelho está desfocado para alguns. Ainda assim, não mais é possível negar o que se refletiu diante das críticas potencializadas por movimentos dialogados (mundo externo e mundo interno).

Mudanças virão. O interculturalismo talvez seja o mais potente diálogo instrumental à revisitação das múltiplas identidades, sem decréscimo conceitual quanto a uma única humanidade, ainda que categorizada por diversidades identitárias, que pluralizam versões, sem qualquer desumanização ou hierarquias.

É preciso olhar para dentro de si, diante da visão do outro.

O espelho poderá trazer uma inacreditável nitidez ao que tanto almejamos.

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