Em um estudo recente publicado na prestigiosa revista Nature Medicine, pesquisadores destacam que a terapia genética pode representar um mecanismo crucial para evitar recaídas no consumo excessivo de álcool após momentos de abstinência.
A descoberta é um marco significativo no desenvolvimento de abordagens não medicamentosas para pacientes que enfrentam uma batalha árdua contra a dependência grave de álcool, também conhecida como transtorno do uso de álcool.
Para aqueles que lutam contra esse transtorno, é comum enfrentar ciclos repetidos de períodos sem consumo de álcool seguidos de recaídas, mesmo quando submetidos a algumas das poucas terapias medicamentosas disponíveis.
No entanto, os testes realizados em primatas apresentaram um cenário otimista para esse novo tratamento, que conseguiu evitar efetivamente o retorno ao consumo abusivo de álcool.
Entenda o processo
A terapia genética se concentra na manipulação dos genes do paciente para corrigir, substituir ou introduzir genes específicos. A ideia por trás dessa terapia é direta: modificar o material genético para tratar doenças de base genética ou alterar o funcionamento de células específicas do corpo.
Krystof Bankiewicz, um dos autores do estudo e professor de Cirurgia Neurológica na Universidade do Estado de Ohio, compartilha: “Nossas descobertas indicam que esse tratamento pode atuar como uma barreira contra recaídas, sem requerer a adesão constante do paciente a um tratamento de longo prazo.”
Mas como exatamente se forma o ciclo vicioso da dependência? O uso excessivo de bebidas alcoólicas impacta certas áreas do sistema nervoso, afetando a liberação do neurotransmissor dopamina, ligado às sensações de prazer e humor. Esses neurônios compõem o circuito de recompensa do cérebro, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento de vícios em álcool e drogas.
À medida que a dependência se aprofunda, essas alterações tornam-se mais acentuadas. Entre as transformações notáveis, destaca-se a redução nos níveis de liberação de dopamina, a diminuição da sensibilidade dos receptores de dopamina e o aumento na captação do neurotransmissor. Pesquisadores suspeitam que esse estado “hipodopaminérgico” seja o que leva a recaídas, forçando o retorno ao vício após períodos de abstinência.
Kathleen Grant, co-autora do estudo, chefe e professora de Neurociência Comportamental no Oregon National Primate Research Center, esclarece: “Até agora, não tínhamos terapias direcionadas aos circuitos cerebrais afetados pelo uso prolongado e intenso de álcool”.
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Álcool no Brasil
No cenário brasileiro, a Pesquisa Domiciliar sobre o Padrão de Consumo de Álcool e suas Características Sociodemográficas traçou um panorama interessante. A maioria dos brasileiros, abrangendo 55% da população, opta por não consumir álcool. Dos que consomem, 27% o fazem de forma moderada, conforme recomendações de saúde, enquanto 17% têm um padrão abusivo.
Os números também apontam que 75% dos consumidores com padrões abusivos acreditam que consomem álcool de maneira moderada, porém somente 13% reconhecem a necessidade de modificar seus hábitos, segundo o documento que delineia o perfil do consumo de álcool no Brasil.