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Lula chega em Curitiba para prestar depoimento ao juiz Sérgio Moro
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná estimou que 7 mil pessoas, em 130 ônibus, chegaram a Curitiba para acompanhar o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro. O depoimento começou às 14h17 desta quarta-feira (10). O ex-presidente é acusado de ter recebido R$ 3,7 milhões em propinas da OAS do caso do tríplex do Guarujá. É a primeira vez que ele e Moro ficam frente a frente.
A pasta não informou o número dos manifestantes presentes nos atos. De acordo com organizadores do ato pró-Lula, 20 mil estão reunidos em apoio ao ex-presidente. A concentração é na praça Santos Andrade.
Na manifestação favorável ao petista, estão presentes os senadores Lindbergh Farias, Vanessa Grazziotin e Gleisi Hoffman, os deputados federais José Guimarães, Paulo Rocha, Benedita da Silva e Paulo Pimenta e os governadores Tião Viana (AC) e Wellington Dias (PI). A previsão para a tarde desta quarta-feira, 10, é de que os políticos se alternem em discursos, que serão acompanhados de manifestações culturais e shows.
Ao mesmo tempo em que Lula chegava ao prédio da Justiça Federal, às 13h50, um Pixuleco, nome dado ao boneco inflável com 20 metros de altura no formato do ex-presidente em uma roupa de presidiário era erguido em frente ao Museu Oscar Niemeyer, no Centro da capital paranaense. O local, ocupado por cerca de 200 manifestantes, reúne os apoiadores da Operação Lava Jato, ou como se autointitulam, apoiadores do juiz federal Sergio Moro. Aos gritos de “Aqui é Curitiba, petista não se cria” e “Nossa bandeira jamais será vermelha”, o grupo afirmava que a ideia é permanecer no local até a noite.
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Manifestantes realizam ato contra Lula e a favor da Lava Jato em Curitiba
Próximos passos
O interrogatório de Lula marca o final da etapa de oitiva dos réus do processo. O Ministério Público Federal imputa a ele a prática de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro – cuja pena, em caso de condenação, pode chegar a 22 anos de prisão. A ampliação, reforma e decoração de um tríplex, no Guarujá (SP), e o custeio do armazenamento de bens, de 2011 a 2016, seriam “benesses” dadas ao petista, em troca de negócios na Petrobras.
Terminada a fase de interrogatórios dos réus, o juiz abre prazo de 10 dias para o Ministério Público Federal fazer as alegações finais da acusação. Depois, são mais 10 dias para as alegações finais da defesas. Superada essa etapa, Moro começa a contar o prazo para sua sentença, o que deve acontecer entre o final de junho e meados de julho, se não houver suspensão do processo.
Apartamento
A ação do tríplex foi a primeira aberta por Moro contra Lula, no dia 19 de setembro de 2016. Em três anos de investigação, a Lava Jato descobriu que partidos da base aliada – PT, PMDB e PP – comandariam diretorias da Petrobras, por meio das quais, desviavam de 1% a 3% em propinas de contratos fechados com empreiteiras cartelizadas.
No processo, Lula, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, o ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, e outras cinco pessoas são réus pelos crimes de corrupção e lavagem de R$ 80 milhões, relativos a contratos de obras em duas refinarias – R$ 3,7 milhões seriam obtidos em benefício próprio, do ex-presidente.
A defesa aposta na absolvição de Lula e nega que o apartamento seja do ex-presidente. O imóvel foi comprado em nome da ex-primeira-dama Marisa Letícia, da cooperativa habitacional dos bancários de São Paulo, a Bancoop, ligada ao PT, e depois reformado e equipado pela OAS.
O triplex foi construído inicialmente pela Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), criada pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo – entidade que era dirigida pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Netto. Em 2009, após a falência da entidade, a OAS assumiu o empreendimento e concedeu aos cooperados prazo de 30 dias para optar pelo ressarcimento dos valores até então pagos ou celebrar contrato de compromisso de compra e venda de unidade e prosseguir no pagamento do novo saldo devedor.
“Luiz Inácio Lula da Silva seria beneficiário direto das vantagens concedidas pelo Grupo OAS e, segundo a denúncia, teria conhecimento de sua origem no esquema criminoso que vitimou a Petrobras”, afirmou Moro, ao abrir o processo.
No dia 20 de abril, o empresário Léo Pinheiro foi interrogado e disse que o apartamento, apesar de estar em nome da OAS, era de Lula e foi reformado atendendo seus interesses e pedidos. Segundo ele, que tenta um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, o custo das reformas foi abatido de um acerto de R$ 15 milhões da OAS com o PT.
Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Militantes concentrados na Praça Santos Andrade, em Curitiba, à espera do fim do depoimento
(Com Agência Estado)