Felipe Santos da Rosa/Embrapa
Tambaqui, peixe da Amazônia, é a espécie nativa mais produzida no Brasil
Pesquisa desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostra que uma ração feita com uma planta nativa da Amazônia poderá fazer com que o tambaqui tenha mais qualidade e seja mais saudável quando for consumido. O tambaqui é a espécie nativa mais produzida no Brasil.
O estudo foi desenvolvido até agora com peixes muito jovens, que ainda não servem para consumo, mas a pesquisa já mostrou resultados animadores. Animais que se alimentaram com a ração apresentaram porcentagem aproximada de 0,6% de incorporação do ômega 3, valor superior aos peixes que não se alimentaram com a ração, cuja porcentagem de ômega 3 foi de 0,2% na composição centesimal.
“A ideia é que o peixe é o que consome, por isso, buscamos ingredientes novos para dar mais qualidade ao peixe”
O ômega 3 trabalha no organismo humano na prevenção das doenças do risco cardiovascular e na prevenção de algumas enfermidades neurodegenerativas como, por exemplo, a doença de Parkinson e o Mal de Alzheimer, por exemplo.
A substância é mais encontrada em alguns peixes, principalmente os de águas geladas e profundas. Sardinha, salmão e arenque são exemplos que mais se destacam. Porém, pesquisas com peixes amazônicos têm indicado também a presença de ômega 3, mas em menor quantidade.
Ração
Os pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental utilizaram a planta amazônica Sacha Inchi (Plukenetia volubilis), rica em ácido linolênico, o ômega 3. Também chamado de óleo Inca, o óleo de Sacha Inchi é um produto nobre, valorizado no mercado por seu alto teor de ácido graxo ômega 3.
A principal proposta do estudo foi aproveitar partes residuais da planta que pudessem ser incluídas na ração e agregar valor nutricional ao peixe.
Os resultados foram obtidos por meio da pesquisa denominada Sacha Inchi na nutrição de juvenis de tambaqui, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e coordenada pelo pesquisador da Embrapa Jony Dairiki.
Jefferson Christofoletti/Embrapa
Pesquisa utilizou planta amazônica conhecida como ‘óleo Inca’
“A ideia é que o peixe é o que consome, por isso, buscamos ingredientes novos para dar mais qualidade ao peixe”, diz o pesquisador. “O tambaqui é o peixe nativo mais produzido no Brasil. Por isso, tentamos trabalhar com essa espécie”, acrescenta.
Dairiki explica que a ração é a parte mais cara da criação de peixes. No Amazonas, essa é uma questão importante porque, pelo isolamento do Estado, é necessário importar ou os ingredientes para fazer rações tradicionais, com farinha de soja, milho, farelo de trigo, entre outros, ou mesmo a própria ração, o que encarece ainda mais que em outras localidades.
“Queremos trabalhar com ingredientes hoje não convencionais para baratear e tentar sair um pouco dessa dependência de ingredientes de outros estados, que sofrem acréscimo de valor pelo frete”, diz. Os pesquisadores ainda irão realizar testes com peixes adultos já prontos para consumo, para medir o quanto conseguem absorver de ômega 3.
Consumo e produção de peixes
De acordo com o Ministério da Agricultura, o consumo de pescado no Brasil, que é de 14,4 kg por habitante/ano, superando o recomendado pela Organização Mundial da Saúde: 12 kg por habitante a cada ano.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em 2015, foram produzidas 483 mil toneladas de peixe. O tambaqui corresponde a 28,1% dessa produção, ficando atrás apenas tilápia – peixe exótico, ou seja, que não é nativo das bacias brasileiras – com 45,4%.