Um novo sindicato foi fundado em Cuiabá, o sindicato dos músicos de Mato Grosso. Um tipo de grupo social, o sindicato é um grupo nominal no sentido de que se trata de um conjunto de indivíduos que partilha uma caraterística comum, no caso todos serem detentores de uma mesma ocupação: músicos. E é um grupo social latente no sentido de que defendem interesses comuns a toda a sua categoria ocupacional.

Como um grupo organizado, é dotado de mecanismos de ação coletiva para defender os interesses de seus membros. Segundo o primeiro presidente eleito, são objetivos fundamentais do sindicato dos músicos, “garantir o apoio para a produção e divulgação dos trabalhos locais e dar suporte no acesso aos recursos de incentivo à cultura disponíveis no Estado e no Governo Federal”.

Ele não menciona outros recursos fora dos aparelhos dos estado em seus diferentes níveis municipal, estadual e federal. Esses recursos existem? Podem ser maximizados com algum tipo de ação coletiva? Existem músicos que sobrevivem sem os recursos captados do estado? Já comprei cd’s de músicos em bares. É um tipo de captação de recurso?

Desde a revolução russa, o papel dos sindicatos em uma provável sociedade socialista tem sido debatido por marxistas, que são os principais aplicadores da análise social ao sindicalismo. No famoso debate sindical ocorrido em 1920-21, Trotsky, por exemplo, defendeu que os sindicatos deviam ficar formalmente subordinados ao estado enquanto outra vertente insistia em que deveriam se manter como força independente dentro da esfera econômica.

Se um sindicato é um grupo nominal que, portanto, tem como objetivo defender os interesses de seus membros, se estiver atrelado ao estado, seus interesses estarão sempre sob a influência dos interesses de partidos e da ação governamental o que, notadamente, tende a dificultar a expressão dos interesses genuínos do grupo sindical.

O governo Lula III destinou R$ 10 bilhões para a cultura. Parte desses recursos pode ser captado pelos músicos. Isso, por si só, parece ser uma grande motivação para criar um sindicato. Olhando da perspectiva dos interesses dos músicos, parece ser uma boa meta, conforme expressou seu presidente, mas a preocupação e o cuidado de ser autônomo é importante. Se é um grupo nominal, deve saber que seus interesses não se superpõem ao do estado e governo de plantão. Subordinar-se ao estado significa perder autonomia e, portanto, ter parâmetros claros que vão demarcar o que poder dito e cantado.

E, nesse sentido, fazer a primeira reunião do novo sindicato na sede da secretaria municipal de estado e cultural é um sinal ruim.

André Luís Ribeiro e Lacerda – Sobiobiólogo e psicólogo, professor de sociologia da
UFMT, campus Cuiabá.

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