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“O país precisa mostrar sua cara”, diz Novacki

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“O país precisa mostrar sua cara”, diz Novacki

Divulgação Mapa

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Ele é o braço direito do ministro da Agricultura, Blairo Maggi. E não é de hoje. Há pelo menos 14 anos, desde que o empresário assumiu pela primeira vez o governo de Mato Grosso, o paranaense Eumar Novacki, 40, tem ocupado um papel que lhe assegura voz, influência e poder.

Durante a gestão estadual (2003-2010), comandou postos-chave: foi chefe de gabinete e assumiu o comando das secretarias de Comunicação e da Casa Civil. Quando Maggi chegou ao Senado, Novacki o seguiu até Brasília: foi novamente chefe de gabinete e recebeu indicação para uma cadeira no Conselho Nacional de Segurança Pública.

No ministério da Agricultura, é o atual secretário-executivo -o que, na estrutura da pasta, equivale ao posto de vice. Por isso mesmo, quando o titular se lança em viagens a trabalho pelo mundo, é Novacki quem assina como ministro interino.

Ele próprio tem participado de missões comerciais para, segundo ele, “abrir novos mercados”. Recentemente, esteve em Moscou, na Rússia, para tratar da ampliação do comércio bilateral de carnes, lácteos e grãos.

Coronel da Polícia Militar, patente que alcançou com apenas 33 anos de idade, Novacki gosta de dizer que a disciplina aprendida na corporação é uma de suas ferramentas de trabalho no campo da administração pública.

Em entrevista exclusiva ao LIVRE, ele revelou detalhes dos bastidores do ministério, os desafios propostos por Maggi e o futuro do agronegócio do país.

 

O LIVRE – Como está a receptividade do país e dos produtos brasileiros no mercado internacional? Mudou a forma como o Brasil é visto no exterior?
Novacki – Acho que sempre faltou um posicionamento mais sério do Brasil em relação à forma como fazemos agricultura e pecuária. Existe um estigma muito negativo. A imagem do agronegócio brasileiro é muito ruim fora do Brasil e isso, obviamente, porque somos grandes produtores de alimentos e existem interesses econômicos envolvidos. Isso deixa qualquer país reticente em relação aos nossos produtos.  Mas começamos a desmitificar isso no momento em que mostramos, com base em dados científicos, que eles estão equivocados. A melhora no ambiente de negócios é uma constante.

O LIVRE – Qual é a participação do Brasil hoje no mercado agropecuário internacional e como ampliá-la?
Novacki – O ministro Blairo Maggi, quando chegou aqui, estabeleceu o objetivo de, em cinco anos, sair de quase 7% de participação para 10% do mercado. Para isso, precisamos nos preocupar com a questão interna da produção, ou seja, diversificar a nossa pauta e incentivar o pequeno e o médio produtores para que eles possam também fazer parte dessa cadeia. Com a expansão, mostraremos ao mundo que nós produzimos de modo eficiente, com respeito ao meio ambiente e com responsabilidade social.

O LIVRE – Por que acreditar que haverá mais espaço?
Novacki – Agora é diferente. Durante muito tempo, o Brasil ficou esperando. Você quer um comprar um produto? Vem aqui e peça então. Antigamente era assim. Hoje, isso mudou. Somos proativos, estamos batendo à porta dos mercados e oferecendo: nós temos o produto que você precisa, de boa qualidade e produzido com respeito às leis ambientais e sociais.

O LIVRE – Em quais mercados podemos considerar que o país já obteve progressos?
Novacki –  Conseguimos, por exemplo, abrir o mercado da carne nos Estados Unidos, que era uma negociação que vinha acontecendo há muito tempo. Melhoramos a relação com a Rússia, e esperamos para abrir uma visita do vice-ministro daquele país e, neste momento, iremos discutir a pauta das exportações que queremos ampliar. Quem está disposto a vender também tem que estar disposto a comprar. Com a China, também tivemos melhorias. Abrimos ainda o mercado Indonésio, a África do Sul e estamos trabalhando a Tailândia e o Vietnã.

O LIVRE – As missões para 2017 do Mapa já estão programadas? Quais os destinos?
Novacki – Sim, o Brasil precisa estar presente em feiras importantes nos EUA, Canadá, Europa e Ásia. Este último é um mercado bem importante. Então o país precisa mostrar sua cara e o governo, por sua vez, precisa ir para deixar sua marca. Levar uma mensagem clara de como se faz a produção agrícola no Brasil.

O LIVRE – Em termos de grãos, a China é hoje o principal parceiro comercial do país. Com as medidas de caráter protecionista anunciadas pelo novo presidente americano Donald Trump, acha possível que surjam novas peças neste tabuleiro?
Novacki –  Os EUA têm sido um competidor direto do Brasil na produção de grãos e carne. Com essa movimentação do novo governo acreditamos em novas possibilidades sim. Um exemplo claro é o México. Há muito tempo tentamos estabelecer uma relação comercial mais sólida com o México, que sempre foi um grande parceiro dos EUA. Com os atritos entre os países, seus representantes já se propuseram a visitar o Brasil. Nos próximos dias, uma comitiva do ministério da Agricultura daquele país fará uma visita ao ministro Blairo. A possibilidade de uma relação bilateral forte, é grande. Nós iremos vender muito e comprar alguns produtos mexicanos.

O LIVRE – Ou seja, o novo discurso da Casa Branca pode contribuir com a economia brasileira?
Novacki – Com essa movimentação do Trump, alguns mercados que hoje são cativos dos EUA estão se abrindo também o Brasil. Agora, mais do que nunca, é possível que a gente atinja, de fato, uma participação de 10% no mercado internacional em um curto espaço de tempo. Imagine dobrarmos as nossas exportações em cinco anos? Isso não é uma tarefa fácil, mas os EUA estão nos ajudando. Eu estou falando de algo em torno de R$ 30 bilhões de dólares que podem vir para a economia do país. Isso vai gerar emprego, renda e qualidade de vida à população brasileira.

O LIVRE – E qual é o papel de Mato Grosso nesse crescimento?
Novacki –  Mato Grosso tem tudo para expandir sua participação. Já está consolidado nos mercados existentes, principalmente os de carne e grãos, mas pode abrir novas matrizes. Queremos incentivar a pequena e a média cadeia leiteira, por exemplo. No futuro, enxergamos o Brasil sendo autossuficiente em leite e também como exportador. Outro setor é o pescado. Temos apenas meio por cento do mercado mundial hoje e isso é incipiente. Nossa meta é chegar a pelo menos 7 ou 8% até 2021. É ousado, mas é possível.

O LIVRE – Como ficou a situação do antigo ministério da Pesca e sua fusão com a Agricultura?
Novacki – Era um ministério com 990 funcionários que virou uma secretaria. Acabaram com os cargos e a estrutura. Veio para o Mapa com 90 pessoas, completamente desestruturada, sem pessoal, sem recursos, mas com as demandas crescentes e sérias denúncias e investigações sendo realizadas. Foi a secretaria que mais nos deu trabalho. No início da gestão, o ministro determinou que fizéssemos um mutirão para dar conta das situações emergenciais, como foi o caso da pesca industrial da lagosta e da sardinha, cujas licenças não estavam sendo emitidas. Isso se refletia em desemprego no setor, pois não havia matéria-prima. Hoje, os problemas ainda são muitos, mas estamos juntos com o setor produtivo, ouvindo as demandas, expondo também nossas dificuldades, simplificando e desburocratizando a pesca. Estamos conseguindo avançar, mas não na velocidade que gostaríamos.

O LIVRE – Nestes dez primeiros meses de ministério, qual foi o maior desafio?
Novacki – De modo geral, o Mapa estava organizado, mas padecia de um mal da administração pública: o excesso da burocracia. Além de definirmos o nosso objetivo, também foi preciso definir como chegar lá. Então lançamos o plano AGRO +, visando a modernização e a desburocratização do ministério. Ouvimos o setor e chegamos à conclusão de que o maior problema que atrapalha o setor produtivo brasileiro é o excesso da burocracia. Identificamos tudo aquilo que estava em leis federais, decretos, instruções normativas, e começamos a fazer uma simplificação de procedimentos. Mas chegou num ponto em que nos resolvíamos aqui, mas, nos Estados acabávamos novamente esbarrando na burocracia. Foi então que levamos o plano aos Estados. O primeiro a aderir foi o Rio Grande do Sul, São Paulo aderiu no último dia 20 e Rondônia está prevista para o dia 13 de março.

O LIVRE – Foram muitos os processos eliminados?
Novacki –  O último balanço que fizemos no final de janeiro reunia 380 problemas do setor produtivo. Todos relacionados à burocracia. Nós já solucionamos 308 deles. Neste mês, o ministro assinou uma Instrução Normativa que estimula a pequena produção agroindustrial de lácteos e mel. Os produtores vinham sendo sufocados com regras da grande indústria. Então era preciso pensar em algo específico para o pequeno e isso foi feito.

O LIVRE – Quando o Agro+ chega a Mato Grosso?
Novacki – A data vai ser no momento em que o Estado sinalizar. Nós conseguimos fazer um diagnóstico, conseguimos levantar problemas e estamos corrigindo. O governador Pedro Taques já demonstrou boa vontade.

O LIVRE – O ministro Blairo Maggi tem citado a possibilidade de privatizar os armazéns da Conab. Isso deve ocorrer?
Novacki – O que nós queremos é pensar no serviço. Tudo aquilo que o Estado não precisa fazer e que a iniciativa privada consegue fazer melhor, e com custo menor, porque eu tenho que abraçar? Nós entendemos que temos que caminhar nesta linha sim.

O LIVRE – Em relação à logística no país, nós temos grandes gargalos ainda. Mas existem expectativas de que obras importantes sejam licitadas, como é o caso da Ferrogrão. O ministério tem acompanhado esses projetos?
Novacki – Hoje temos um estudo de logística e transporte pensando no agronegócio brasileiro, em parceria com a Embrapa. A empresa está fazendo um monitoramento para que, com base em dados científicos, nós possamos indicar e apontar quais intervenções logísticas darão maior ganho ao país e com menor custo. Esse é o papel que o Mapa está fazendo.

O LIVRE – A Ferrogrão está nesse pacote?
Novacki –  Sim. Ela está nos estudos. O seu traçado nós estamos analisando. Insisto em dizer que o Mapa está fazendo esse estudo porque entendemos que agronegócio precisa ser visto de modo diferente. A agricultura e a pecuária sustentam a economia do país. Mesmo com problemas logísticos e burocráticos, conseguimos ser competitivos no mercado internacional. Imagine então se a gente consegue fazer algo que possa realmente trazer mais ganhos?

O LIVRE – Quando esse estudo deve ser revelado?
Novacki – Ele está em andamento. Tão logo seja concluído, o ministro Blairo deve apresentá-lo ao presidente Michel Temer e ao ministro dos Transportes. Pensamos no Brasil a longo prazo, planejamos o país para frente.

O LIVRE – A formação militar interfere de algum modo no seu trabalho?
Novacki – Eu trouxe muitas questões que aprendi dentro da Polícia Militar. São valores que eu não abro mão, como lealdade, disciplina, seriedade, honestidade e integridade. São valores que vem de família e que eu pude aperfeiçoar na PM. O estilo de ser, mais prático e objetivo, tem trazido ganhos. O ministro também é muito prático, claro, objetivo e transparente. Então além de trazer a questão do profissional militar, trouxemos também os valores de pessoas que são importantes para nós.

O LIVRE – Qual marca a dupla Novacki e Maggi espera deixar no ministério?
Novacki – Meu principal objetivo no Ministério da Agricultura é fazer com que as determinações do ministro sejam cumpridas. Ele dá um Norte e cabe a mim fazer com que as secretarias e o Ministério como um todo trabalhem para atingir aquele objetivo. Então eu brinco que nós traçamos as estratégias em conjunto, mas sou obrigado a fazer com que a execução seja exatamente de acordo com as orientações do ministro Blairo. Quanto ao nosso legado, nós pensamos em deixar um país melhor para as futuras gerações, sem pensar nas próximas eleições. Isso significa que tomaremos medidas duras, mas pensando no bem do país.

O LIVRE – O ministro Blairo não pensa em concorrer à presidência da República em 2018?
Novacki – O setor produtivo está muito empolgado com a ideia. Mas hoje o projeto do ministro Maggi é ser candidato à reeleição ao Senado Federal. Esse é o projeto dele hoje. Volto a dizer, o que estamos fazendo hoje não é pensando em futuras eleições, mas, no legado que deixaremos para as futuras gerações.

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