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Mulher larga trabalho como “peão de obra” e hoje fatura como “personal bronzer”

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Mulher larga trabalho como “peão de obra” e hoje fatura como “personal bronzer”
 bronze na laje
Pagar para tomar sol em Cuiabá? Tem gente que topa. (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Era o final da tarde da última quinta-feira (17/08) e Sueli Rodrigues de Almeida, 32 anos, não tinha certeza se a entrevista daria certo. O clima, quase sempre ensolarado de Cuiabá, tinha resolvido virar justamente naquele dia. Para receber a reportagem, ela queria o espaço lotado de “Delicinhas”, a marca registrada de Suzy Bronze, como é mais conhecida.

A sexta amanheceu com céu parcialmente nublado. Das 7h30 às 8h30, o termômetro registrava pouco mais de 24 graus. É o período em que os portões da casa cercada de muros no bairro Altos da Serra I – periferia de Cuiabá –, ficam abertos para a chegada das clientes.

Suzy chegou a dispensar quatro mulheres, mas elas apostavam que as nuvens iriam embora. Para sorte da equipe do LIVRE e dela, que faturou R$ 160 no dia, as clientes insistiram. Deu certo.

Mais tarde, o sol se fez presente. Antes das 11h, os corpos deitados em macas de madeira no quintal já exibiam marquinhas de biquini. Mas ninguém ali usava trajes de banho.

Ednilson Aguiar/O Livre

 bronze na laje

Para se refrescar e aguentar a sessão, um providencial regador 

Rainha das Delicinhas

Ao som de cantores gospel, tocando num rádio cujo volume já não pode mais ser controlado, Suzy encobre a nudez das meninas com fitas adesivas.

Para as de pele mais branca, esparadrapo. As mais morenas aguentam a fita isolante, que retém mais a luz solar e, por isso, esquenta. Biquínis não reproduzem o mesmo efeito, diz a rainha das Delicinhas. “A luz passa pelo tecido”, afirma.

Duas querem corrigir marcas não tão perfeitas, feitas na concorrência. Suzy explica que não teve como atendê-las dias atrás. Com 12 garotas, o quintal estava lotado. Por isso, procuraram outra “personal bronze”.

A procura é grande, mas Suzy teve que reduzir o limite de clientes que atende simultaneamente. Antes, eram até 30 ao mesmo tempo. “Mas não dá para dar a atenção que elas precisam e que me faz ser conhecida”, justifica.

Ednilson Aguiar/O Livre

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Para incrementar o bronze, uma tatuagem solar

Sonhos realizados

Antes de se transformar em Suzy Bronze, ela passou dez anos como “peão de obra”, como define. E não é força de expressão. Funcionária de uma grande construtora, rejuntava pisos por um salário que não chegava a R$ 1 mil.

Hoje, o trabalho dela rende R$ 40 por sessão – e o expediente vai de segunda a segunda. É o suficiente para Suzy manter três filhos, o marido e reformar a casa, que também é local de trabalho.

No lugar do chão batido, onde, em 2012, as primeiras clientes deitavam em tábuas, agora há uma piscina. Um sonho realizado. Um muro a separa do local onde ficam as macas, e já não é mais necessário pendurar lençóis na grade para criar um ambiente reservado para as clientes.

O próximo passo é pintar as paredes com temas do Pantanal. “Porque em Cuiabá não tem mar né?!”, brinca.

As mudanças vieram por acaso. Sueli virou Suzy Bronze depois que uma sobrinha pediu ajuda para fazer uma marquinha de biquíni no corpo, antes de uma festa.

O resultado foi melhor que o esperado, e o marido deu força. “Ele me disse que eu levava jeito”, conta, pontuando que seu leque de clientes inclui gays e travestis. “Também já atendi um gogo boy, mas nesse dia meu marido não gostou muito”, lembra.

Ednilson Aguiar/O Livre

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A assistente de Susy entra em cena para hidratar as clientes

Mercado em expansão

Um curso online, oferecido por uma representante dos produtos cosméticos que Suzy utiliza nas clientes, foi o que forneceu as instruções necessárias para o nascimento da Rainha das Delicinhas.

A representante dos produtos, agora amiga de Suzy, divulga o mesmo curso para pessoas que querem investir no negócio. Só em Cuiabá e Várzea Grande, segundo ela, são mais de 100 “personal bronzers”. Como os espaços costumam ser limitados, há mercado para todos, ela garante.

As sessões costumam durar pouco mais de uma hora e meia. Primeiro, o bronze é feito na parte da frente do corpo, depois, atrás.

Além da fita adesiva, responsável pela tão sonhada marquinha, o serviço inclui aplicação de cosméticos que aceleram o bronzeamento da pele e refrescam o corpo quando a sessão termina.

Suzy também inclui no pacote o “banho de lua”. Uma composição de produtos que clareiam os pelos do corpo. O toque especial é a canela em pó, que reduz o cheiro forte do cosmético em questão.

O protetor solar é aplicado só nos braços e pernas. Mas Suzi não se alonga no assunto. Sustenta que os demais produtos são aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e que as sessões ocorrem apenas no período da manhã, horário em que é recomendável se expor ao sol.

Já na primeira sessão, é possível ver resultado. A Rainha das Delicinhas sustenta que é possível fixar as marcas por até seis meses. Para isso, recomenda uma manutenção, repetindo o procedimento quatro vezes, sendo uma por semana. Nos três primeiros dias após a exposição, nada de piscina e sol.

Ednilson Aguiar/O Livre

 bronze na laje

Susy Bronze: vida de peoa de obra ficou para trás

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