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Mato Grosso pode colher 20% a mais nas atuais áreas plantadas

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Mato Grosso pode colher 20% a mais nas atuais áreas plantadas
(Divulgação)

O manejo correto da fertilidade dos solos mato-grossenses, com suas características peculiares, pode e deve resultar num incremento de 10% a 20% na produtividade dos talhões de soja. Dados oficiais apontam que Mato Grosso produziu 31,8 milhões de toneladas do grão na safra 2017/2018. Com um manejo tecnicamente mais adequado e assertivo, essa produção, que já projeta o Estado como o número 1 do Brasil, pode se elevar para o patamar de 35 milhões de sacas nas atuais áreas plantadas.

Isso porque análises empreendidas pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) apontam que a produtividade média de soja registrada nos últimos anos, de 54 sacas por hectare, tem campo para subir para 60 sacas/ha. Um dos fatores decisivos para que esse ganho potencial se efetive em superávit no bolso dos sojicultores passa pelo incremento na utilização do calcário nas lavouras mato-grossenses.

A aplicação de calcário, a chamada calagem, é usada para corrigir solos naturalmente ácidos, como é o caso de Mato Grosso, onde o cerrado impera nos principais polos produtores. O baixo custo desse insumo agrícola gera boa resposta para a agricultura, tornando o insumo fundamental ao agregar uma série de benefícios ao empresário rural, incluindo a melhora no aumento do pH do solo, neutralização do alumínio toxico e fonte de cálcio e magnésio.

A acidez do solo mitiga a absorção do fósforo pelas plantas – principal nutriente para o processo vital das culturas. Um solo considerado com pH equilibrado apresenta um índice na faixa de 6,5. A calagem em doses adequadas, quando corrige o solo ácido, possibilita condições favoráveis para o desenvolvimento das plantas, proporcionando melhor aproveitamento dos nutrientes disponíveis. Com a calagem, o fósforo (que tem um alto custo na planilha de produção), torna-se 90% disponível, contra apenas 50% disponível nas aferições feitas em solos de pH 5,5, índice considerado baixo.

Hoje, alguns produtores rurais com atividades em Mato Grosso já conseguem obter uma média de produtividade de 60 a 65 sacas/há, utilizando boas práticas de manejo de solo, enquanto uma grande parte dos agricultores alcança resultados abaixo de 50 sacas/ha.

Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso, campus de Sinop, reforça que a aplicação de calcário nas lavouras aumenta a produtividade e a renda dos sojicultores. O estudo é liderado pelo professor doutor e pesquisador Anderson Lange. “Não adianta ter uma variedade de soja de ótima qualidade se o alimento para ela for deficitário”, destaca o pesquisador, engenheiro agrônomo por formação.

“Raio-x” comprova déficit nas aplicações e perda de produtividade

Levantamento liderado pelo professor doutor da UFMT de Sinop Anderson Lange e dois laboratórios de análises químicas, com a coleta de mais de 70 mil amostras de solo das mais diversas regiões do Estado, constata que, em média, os solos apresentam uma carência muito grande por calcário.

Prova de um verdadeiro déficit nas doses tradicionalmente aplicadas por sojicultores mato-grossenses, que costumam seguir receituários técnicos aplicados ao Sul e Sudeste do país (regiões com características de solo totalmente diferentes dos encontrados em Mato Grosso). O estudo científico reforça que, caso essas terras sejam corretamente corrigidas em sua acidez, elas podem proporcionar, ao final do ciclo produtivo da safra, ganhos de produtividade que vão de 10% a 20%.

O estudo, que começou em 2014, é realizado numa propriedade rural localizada em Sinop e também em vasos numa estufa no campus da UFMT. Com base na pesquisa, aumentando as doses de calcário para até cinco toneladas por hectare, constatam-se resultados melhores de produção com o chamado V% (saturação por base) entre 60 e 65. A saturação de bases na solução do solo reflete na maior disponibilidade de nutrientes para a nutrição da planta, como cálcio e magnésio.

As recomendações usuais de calcário não atingem o V% calculado, sendo necessário dobrar a dosagem recomendada para conseguir atingir o V% ideal para o solo ácido do cerrado mato-grossense.

No experimento, verificou-se, ainda, que altas dosagens de calcário em superfície não oferecem risco às plantas. Algo que contrapõe, com a segurança da ciência, o temor de muitos agricultores. “Chegamos até a doses de 5 toneladas por hectare em uma única aplicação superficial, obtendo ganhos significativos de produtividade. Isso é fato, comprovado cientificamente”, pontua Anderson Lange. Está na previsão de experimentos do professor o teste com doses ainda maiores de calcário em superfície, chegando até a 9 toneladas por hectare, conforme o planejamento das próximas etapas da pesquisa científica, agora na safra 2018/2019.

Mais aplicação, mais produtividade

Para uma lavoura bem corrigida, estima-se que a taxa de reposição de calcário seja entre 1 a 1,2 toneladas do insumo por hectare ao ano. Assim, o agricultor que costuma aplicar calcário a cada 2 ou 3 anos, teria que aplicar o necessário para corrigir a terra e mais o que será consumido nos próximos dois anos, pois, apenas para repor o calcário que a planta irá consumir, já seriam necessários 2 a 3 ton/ha de calcário.

Para se fazer a reposição da calagem, cogita-se um investimento médio de 2 sacas/ha de soja ao ano. Conforme o estudo científico, mantendo a aplicação constante, chega-se a um ganho de 7 sacas/ha ao ano-safra da soja. Na safrinha de milho, o ganho na escala de produtividade chega a 20 sacas/ha.

Na contramão do manejo de solo mais assertivo para impulsionar a produtividade nas lavouras, há propriedades em que não há uma nova correção do solo por três anos a fio. Com isso, a produtividade começa a cair em decorrência do “esgotamento” do solo. “Por isso, é importante manter o V% estável entre 60 e 65. Dessa forma, a correção do solo deve ser anual ou bianual”, recomenda o professor doutor.

 

Com Assessoria

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