“Ele me traiu, me agrediu, quebrou meu tablete e ainda jogou um martelo nas minhas costas”. Esse é o trecho de um dos inúmeros boletins de ocorrência registrados em Sinop (500 km de Cuiabá) denunciando um caso de violência doméstica.
Em todo o país, de acordo com números da Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180), só entre janeiro a fevereiro, 11 mil denúncias foram registradas. Mais de 7 mil delas davam conta de violência física, outras cerca de 2 mil relataram violência moral e 877 violência psicológica. Os dados apontam para um crescimento de 19% em relação ao mesmo período do ano passado.
[featured_paragraph]“Ele me deu vários tapas, socos nos rostos. Eu precisava me defender”, Sinop, 15 de março de 2019.[/featured_paragraph]
Maria Madalena, 50 anos, é uma entre essas tantas vítimas. Ela sofreu ameaças e agressões durante oito anos. Hoje, articula em Sinop o projeto Promotoras Legais Populares (PLPs) em defesa da mulher, que visa ajudar outras vítimas de violência doméstica.
“Eu vivi em comunhão estável durante quatro anos. A partir do terceiro ano a situação começaram as proibições. Estava começando o ciclo do cárcere privado. Depois da separação, achei outro companheiro, com a esperança de que as coisas fossem mudar, porém, voltei a ser agredida”, conta Madalena.
Ela explica que muitas mulheres se prendem a certos relacionamentos porque não possuem estabilidade e auxílio. Em seu caso, ela ainda não tinha nem emprego.
“Quando nós vamos nos relacionar com uma pessoa, ouvimos promessas de que tudo vai ficar bem. Até iniciar as agressões verbais, a pressão psicológica, torturas e, em muitos casos, a morte. Quando eu comecei a reagir, tudo piorou, inclusive as tentativas de homicídios”, relata.
Madalena lembra que, quase sempre, o agressor mostra uma dupla personalidade e acaba persuadindo as vítimas com promessas de mudança.
“O agressor nunca é totalmente ruim, às vezes, ele é carinhoso e seu amigo. Na maioria dos casos, ele aproveita dos seus sentimentos e pede perdão, criando um ciclo que pode durar anos”, explica.
[featured_paragraph]“Ele queria entrar, só Deus sabe o que teria acontecido se ele tivesse conseguido”, Sinop, 9 de março de 2019.[/featured_paragraph]
Para o responsável pela delegacia da Mulher em Sinop, Joacir Batista, a criação da divisão no município fez com que os números de registros aumentassem.
”A instituição está presente aqui desde setembro de 2018 e conta com uma equipe de assistentes sociais, psicólogos e profissionais da saúde. Tudo para garantir apoio e dar segurança para que as vítimas possam fazer as denúncias”, diz.
O delegado ainda adianta que, em abril, terá início um projeto de palestras de conscientização sobre violência doméstica. A ideia é levar as ações a escolas e outros pontos da comunidade.
[featured_paragraph]“Ele me ameaçava. Eu temo pela minha vida”, Sinop, dia 10 de março de 2019.[/featured_paragraph]
A quantidade alarmante de casos de violência doméstica também é confirmada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Sinop. Segundo a presidente da Comissão dos Direitos das Mulheres, Cintia Belini, 14 medidas protetivas foram registradas no município entre janeiro e março.
“Os índices estão crescendo. É essencial que exista a denúncia nesses casos. Outro ponto muito importante é que a vítima seja atendida por profissionais como psicólogos e assistentes sociais”, lembra.
Pensando nas vítimas, a Comissão está realizando uma campanha preventiva e informativa. “Promovemos palestras com as crianças em escolas, então, elas acabam levando as informações para dentro de casa. Esse processo também é realizado com as mulheres nos Centros de Referência da Assistência Social (Cras)”.
A advogada ressalta que ainda que as orientações jurídicas são oferecidas sem custo algum. “Basta que a pessoa nos procure. Iremos disponibilizar advogadas para fornecer informações, orientações e o que mais for necessário”.