Cidades

Longe e arriscado: como é chegar de ônibus aos polos de vacinação em Cuiabá

Com comorbidade, morador do Pedra 90 atravessou quase 21 km no transporte coletivo para chegar até um dos locais de aplicação

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Longe e arriscado: como é chegar de ônibus aos polos de vacinação em Cuiabá
(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre )

Atualmente, Cuiabá tem seis pontos de vacinação contra a covid-19. Nem sempre foi assim. Tumultos causados pela centralização “empurraram” a prefeitura a tomar a decisão de abrir outros. E mesmo assim, a distância de alguns destes polos das principais rotas de movimentação dos cuiabanos ainda é uma incógnita.

Na última quinta-feira (27), a reportagem do LIVRE acompanhou a saga de quem precisa ir ao primeiro deles a ser implantado: o do Centro de Eventos do Pantanal. No local, conheceu o cabeleireiro, Charton Heston, 48.

Charton chegou para ser vacinado às 10h da quinta-feira. Ele mora no Pedra 90, a quase 21 km do Centro de Eventos. A viagem para chegar até o posto de vacinação começou ainda na quarta-feira (26).

Ele decidiu dormir na casa de um amigo, que fica no Parque Amperco. O bairro fica mais próximo do local da aplicação. Ainda assim, Charton levou cerca de 50 minutos para cumprir o trajeto de ônibus.

Charton Heston, 48, é travesti e preferiu ser chamado pelo pronome masculino (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre )

“É difícil chegar até aqui. É a demora, a distância e as dificuldade que quem é pobre enfrenta. Não tenho dinheiro para pagar um táxi ou aplicativo. Mesmo com o risco de vir de ônibus, não dá para perder a vacina. É álcool em gel o tempo todo”.

A maioria chega de carro

O número de pessoas que vão de carro ao Centro de Eventos é, percentualmente, maior. Mas nem todos vão no veículo próprio. A grande maioria depende da boa vontade de uma carona ou podem pagar por uma corrida num carro de aplicativo.

Trabalhadora de serviços gerais, Sandra Lima, 50, foi receber a dose no Centro de Eventos porque o polo fica perto do seu local de trabalho, mas não da casa dela. Sandra voltaria para casa – no Coxipó – de ônibus se o genro, que tem um carro, não pudesse buscá-la.

“Até disse que se fosse atrapalhar ou ele estivesse muito longe, eu voltaria de ônibus. Por sorte, na verdade, ele já estava por aqui. Se tiver ir de ônibus, iria. Mas, a gente sabe que o risco e a exposição é maior”, reflete.

Uma senhora que a reportagem não teve tempo de descobrir o nome, não teve a mesma sorte.

Quem se vacina no Centro de Eventos enfrenta uma longa espera pelo ônibus (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

No ponto de ônibus, ela aguardava a linha 251 que, enfim, apontava no fim da avenida. Depois de ser vacinada, tinha que voltar ao Bairro Novo Colorado, onde mora. Eram 9h20, cerca de 30 minutos desde que o último circular havia passado por ali.

Com pressa para não perder este ônibus, ela disse entrando no veículo: “demora muito e é perigoso. Todo cuidado é pouco, mas é isso, né?!”.

Moradora usa ônibus para ir até local de vacinação (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre )

Vários obstáculos até a seringa

E o ônibus não é o único obstáculo para se ter acesso à vacina. Charton tem comorbidade e, ao comemorar a imunização, contou ter perdido o primeiro agendamento. Não tinha crédito no celular para acessar a internet e conferir a data, hora e o local da vacina.

Vestido com uma blusa, segundo ele, escolhida ao acaso e que estampava várias bandeiras do Brasil, Charton recomenda a vacina e espera que mais pessoas sejam imunizadas em breve.

“Quero voltar para o salão onde eu trabalhava, que me afastou por causa da comorbidade. Agora só faço bicos nas casas dos clientes”, diz.

Para Charton, enfim, a espera acabou (Foto: Ednilson Aguiar / O Livre)

O que diz a Prefeitura de Cuiabá?

A reportagem do LIVRE questionou a prefeitura sobre a descentralização e criação de novos polos de vacinação, mas não obteve resposta. O espaço para manifestação permanece aberto.

Hoje, os centros de vacinação de Cuiabá estão localizados no Centro de Eventos do Pantanal, Senai, UFMT, Sesi Papa, ALMT e Sesc Balneário.

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