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Já esteve em uma delegacia? Estrutura torna trabalho da polícia ainda mais perigoso

Para os policias que atuam na região metropolitana de Cuiabá, prender o suspeito é só o começo da peleja

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Já esteve em uma delegacia? Estrutura torna trabalho da polícia ainda mais perigoso
(Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Policiais civis e militares atuam em condições insalubres e que beiram o risco de vida na Central de Flagrantes do bairro Verdão, em Cuiabá. Todas as viaturas da Capital, Acorizal, Nossa Senhora da Guia, São Vicente, além de outros municípios da região metropolitana, vão para lá fazer o registro das ocorrências.

Em alguns momentos, principalmente nos períodos noturnos, feriados e finais de semana, quando as demais delegacias estão fechadas, forma-se uma fila indiana de suspeitos e policiais do lado de fora, todos protegidos apenas pelo beiral do telhado.

Quando chove, os militares retornam com o preso para dentro das viaturas e, depois, voltam para a posição de espera.

“É preciso ficar atento porque há risco de fuga. Como poucos policiais podem garantir que todos fiquem no lugar por horas?”, pergunta um deles.

Caso o preso venha de Acorizal, o policial pode demorar até um dia inteiro para fazer uma ocorrência. Depois de passar pelo local do crime e pegar os envolvidos, ele os coloca na viatura e dirige por 70 km.

Em seguida, entrar na fila para o registro do boletim de ocorrência e começa o caminho de volta com a vítima para a cidade de origem.

Vale ressaltar que é necessário esperar do lado de fora porque a sala, onde ficam dois policiais militares, responsáveis por confeccionar os BOs, não ultrapassa a medida de quatro por dois metros.

Quando não chove, o beiral do prédio serve de abrigo enquanto a fila não acaba (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

“Imagina quando o fato tem mais de cinco envolvidos e ainda a vítima e as apreensões de armas, drogas e demais objetos. Fica muito difícil”, relata um militar que não quer se identificar.

Ele ainda lembra que ouvir os envolvidos é uma tarefa árdua, já que todos falam ao mesmo tempo no cubículo.

Além de pequena, a sala é insalubre e tem pouca ventilação.

Área da Polícia Civil

A falta de espaço e efetivo faz com que presos, apreensões e policiais dividam o mesmo espaço, o que deixa todos em um estado de insegurança.

Depois de passar pelo atendimento, os presos são encaminhados para a Polícia Civil, onde serão mantidos até a audiência de custódia. E o primeiro procedimento é a revista, feita sem nenhum Equipamento de Proteção Individual (EPI).

Vítimas, policiais, acusados, apreensões. Tudo fica amontoado em um cubículo (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Luvas, álcool e qualquer outro apetrecho só são usados quando o próprio investigador compra.

Os produtos são considerados essenciais já que na revista, eles têm contato com pessoas que podem ser portadoras de doenças infecciosas ou que estão ensanguentadas, por exemplo.

Drogas e demais substâncias também são manipulados com as mãos descobertas, o que representa risco.

Os servidores também precisam colocar a mão em bolsos, sapatos e demais peças de vestuário sem saber se existem agulhas, objetos cortantes ou qualquer outro tipo de contaminação.

“É perigoso. Podemos levar doenças para dentro de nossas casas e contaminar as nossas famílias”, lembra o policial.

Risco de invasões

Os investigadores ficam em uma sala no interior do prédio e todo o controle do que acontece fora, vinha por câmeras de segurança. Mas elas não funcionam mais. O sistema queimou há meses e nada foi feito.

“Chegamos é estar com figuras importantes do tráfico, com grandes quantidades de droga. Pessoas que podem ter um resgate organizado em poucos minutos”, afirma o servidor.

O risco acompanha os investigadores também no momento de levar os presos para a audiência de custódia. São raras as situações nas quais é possível colocar dois investigadores para cada preso.

“Nos dias que temos que levar 10 presos e estamos em cinco investigadores, não temos nem como mandar mais de três porque os demais procedimentos da delegacia precisam ser feitos”, declara um investigador.

Pouca cela para muita gente

Falta espaço e equipamento para proteção dos policiais (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

O prédio tem três celas, sendo uma delas sem latrina e que, por muitas vezes, chegou a abrigar dezenas de presos. Um dos servidores conta que, quando entre os detidos está uma mulher, um menor ou homossexuais a situação se complica.

Eles precisam ter celas separadas e, por vezes, é mais seguro deixá-los na sala de investigadores, algemados a uma cadeira.

E, em meio a esta confusão, estão as vítimas, que entram na central e, muitas vezes, são intimidadas pelos parentes do preso na recepção, já que não há espaço reservado para elas.

“Ouvimos o barulho aqui e quando vamos à recepção, a confusão está armada”.

A comida que ninguém come

Os servidores da polícia civil reclamam ainda da qualidade da comida servida pelo Estado, o que os obriga a pagar pela refeição fora da delegacia.

Para quem quer trazer comida de casa, o problema é a infestação de baratas na cozinha.

O LIVRE esteve duas vezes na unidade esta semana para falar com os policiais e não os identificou porque eles temem retaliações.

O que diz a Polícia Civil?

A Polícia Civil informou, por meio de nota, que tem conhecimentos dos problemas da Central de Flagrantes e tem projeto para a construção de um novo prédio.

“A Polícia Judiciária Civil é consciente das dificuldades de estrutura da Central de Flagrantes de Cuiabá e está buscando recursos e parcerias para construção de um prédio destinado exclusivamente a abrigar a unidade policial, que reúne atendimentos de flagrantes registrados pela Polícia Civil e Polícia Militar na Capital.

A instituição já tem projeto básico para um novo prédio, contudo, necessita de recursos para dar sequência à proposta. Para este ano, a PJC está empenhada em buscar uma alternativa para solucionar a questão estrutural do prédio, que passa por orçamento disponível para tal demanda.

Em relação ao efetivo, a Secretaria de Segurança Pública informa que o Estado está impossibilitado de realizar concurso público, em função da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que já ultrapassou o limite estipulado para gastos com pessoal.”

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