Comportamento

Fora de moda? Talvez não! Famílias de MT resgatam tradição de ter muitos filhos

Para essas famílias, o compromisso de criar várias crianças faz parte de um propósito e vale todo o sacrifício

7 minutos de leitura
Fora de moda? Talvez não! Famílias de MT resgatam tradição de ter muitos filhos
(Foto: Alexandro David / Pexels)

Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos apontam que a taxa de fecundidade – ou seja, a média de quantos filhos as mulheres têm ao longo de sua vida reprodutiva – vem caindo no Brasil. Nos anos 1940, essa média era de 6,16. Em 2010, chegou a 1,87. E as projeções do governo federal apontam que, por volta de 2030, essa média deve chegar a 1,5 e se manter assim até 2050.

Mas há quem vá na contramão dessa tendência considerada moderna e se abra, de modo responsável, a “quantos filhos Deus quiser”. A reportagem do LIVRE encontrou quatro famílias mato-grossenses que se abriram à experiência de ter vários filhos, como aquelas que víamos há algumas gerações.

5 aqui e 2 no céu

Kelly Santos Brito é “aberta à vida” e já é mãe de 7 filhos (Foto: Acervo pessoal)

Primeiramente, no início da juventude, ser mãe não era um plano, pois a proposta era se manter uma “mulher moderna e livre”, lembra Kelly Santos Brito, de 42 anos. Todavia, aos 18 anos, a assistente social se tornou católica e aos 21, a ideia de ter filhos passou a ser considerada com o primeiro namoro.

“Eu não me lembro do momento em que desejei ter todos os filhos que Deus quisesse enviar, foi algo muito natural que aconteceu antes do casamento. Mas eu me lembro de um livro ‘O amor que dá a vida’”, conta.

Quando conheceu o homem que hoje é seu marido, Kelly se surpreendeu, pois ele compartilhava do mesmo propósito de ter uma grande família.

“Ele até já tinha os nomes para três filhos e o primeiro era o que eu também tinha pensado desde a infância, que é Sávio”, conta aos risos. O casamento aconteceu em 2014 e, logo nos primeiros meses, Kelly engravidou e Sávio nasceu.

A partir de então veio, praticamente, um filho por ano, tanto que as crianças têm hoje 7, 6, 4, 3 e 2 anos. As gravidezes da criança que teria 5 anos e um outro bebê que estaria prestes a nascer nestes dias não evoluíram.

“Eu estou aberta à vida, mesmo que as gravidezes sejam muito difíceis por conta da fibromialgia e outros diagnósticos que causam dores musculares muito fortes, além dos sintomas intensos da gestação, como os enjoos, que persistem durante os nove meses”, comenta.

“Porém, quando olho para os meus filhos, vejo que todo o sofrimento valeu e vale a pena. Pois foram justamente estes dias de sofrimentos que me deram cada um dos meus filhos. Faria tudo novamente, com certeza”, garante.

De zero a 5

Simone Guedes não planejava ter filhos, mas agora é mãe de 5 (Foto: Acervo pessoal)

Simone Guedes, de 33 anos, não planejava ser mãe. Queria ser comissária de bordo para trabalhar viajando e conhecer o mundo. Em sua mudança de Nova Olímpia (215 km de Cuiabá) para a Capital, a hoje assessora parlamentar, começou a frequentar uma paróquia e ali percebeu o quanto o propósito do casamento era um compromisso a ser assumido com seriedade. Nesse mesmo ponto, estaria a decisão do casal em se abrir à vida, para quantos filhos Deus quiser enviar. Isso a deixou ainda mais distante da ideia de ser mãe.

Nesse meio tempo, Simone conheceu o marido que, logo no início do relacionamento, informou o plano de casamento e o interesse em formar uma família, quem sabe, com dois filhos, mas sem uma certeza quanto ao número exato de crianças.

“Eu ainda pensei: ‘Xi, não vai dar certo, então’, mas fui conhecendo mais os pensamentos da religião Católica e entendendo os ensinamentos. Nos casamos e engravidei durante o primeiro ano de união”, conta.

Três anos depois, foi a vez de chegar mais uma criança, desta vez, uma menininha. A terceira gravidez, narra Simone, veio em um momento complicado financeiramente para a família. Mas deu tudo certo. Até que, neste ano, durante a campanha eleitoral, foi descoberta a quarta gravidez.

“Foi um susto. Eu estava em tratamento para ansiedade e depressão, em meio a campanha política. Acolhemos aquele bebê, mas ele acabou não resistindo”, diz. “Pouco tempo depois, descobri que estava grávida novamente e em abril de 2023, nascerá o João”, aguarda a família.

Trabalhando fora, Simone explica que ela e o marido, que é jornalista, se organizam para dar conta da rotina dos filhos. Uma babá que fica durante os dias úteis da semana auxilia nos dias úteis no cuidado com as crianças e até mesmo com a casa.

“Há um julgamento, inclusive por parte de outras mulheres, quando a mulher tem muitos filhos”, avalia. “Quando o casal não quer ter filho está tudo bem também, mas parece que é uma decisão mais aceita do que quando se abre à vida”, analisa.

Recém-chegado

Para Brunna, a família é o que traz paz e aconchego ao coração (Foto: Acervo pessoal)

Há quase dois meses João Miguel chegou e tornou realidade o plano de Brunna Morizzo Guimarães, de 31 anos. A advogada, desde muito jovem, sonhava em ser mãe de três crianças e o marido, que é filho único, também pensava em ter mais de um filho.

“Vivemos o presente e hoje, somos pais de três crianças e estamos construindo essa nova rotina”, diz a advogada, que tem ainda outras duas filhas também pequenas. Mas a família pode aumentar, caso seja a vontade divina.

Ter três crianças pequenas em casa é trabalhoso, afirma Brunna, mas vale a pena porque é esse tipo de relação que traz paz e aconchego ao coração, em um momento onde a sociedade passa por uma grande inversão de valores.

“As pessoas estão muito focadas em ter e não em ser. Estão se esquecendo da sua essência, dos princípios e valores, colocando objetivos materiais a frente da construção de uma família, evitando ou optando por não ter filhos”, pontua.

Plano maior

Ter uma família numerosa, para Isadora, faz parte de um propósito (Foto: Acervo pessoal)

Esse amor, define Isadora Astrissi Gravina, de 27 anos, é “maior que tudo.” Grávida de dois meses de seu terceiro bebê, a estilista comenta que a decisão de não limitar um número de filhos assusta muitas pessoas, principalmente, por conta da mentalidade capitalista e os custos que surgirão com as crianças.

A jovem reconhece que a rotina é bastante cansativa mesmo contando com a ajuda de uma babá e do marido nas horas vagas e de lazer. O casal, que sonha com uma família numerosa, entende que isso faz parte de um propósito.

“Temos que nos lembrar que a vida tem duas dimensões, sensível e sobrenatural. Se encararmos apenas o mundo sensível, não teremos filhos por muitas questões. Mas olhando pelo outro lado, o amor é maior do que tudo”, define.

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