Crônicas Policiais

Feminicídios em MT deixaram 92 filhos sem mãe em 2022

Quatro das crianças também perderam o pai nos crimes e algumas presenciaram os assassinatos

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Feminicídios em MT deixaram 92 filhos sem mãe em 2022
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

A violência contra mulheres deixa marcas em todo o círculo familiar das vítimas. Quando se trata dos crimes de feminicídio, as consequências são ainda mais dolorosas, com crianças e adolescentes órfãos e famílias desestruturadas. Um estudo, realizado pelo terceiro ano seguido pela Polícia Civil de Mato Grosso, identificou que 42 das 47 mulheres vítimas de feminicídios no ano passado no estado eram mães. Crimes que deixaram 92 filhos e filhas órfãs, sendo que 4 deles também perderam o pai.

A paraense Liliane Barbosa da Silva tinha apenas 27 anos e foi vítima do primeiro feminicídio registrado em 2022 no estado. Ela foi morta pelo ex-companheiro na frente do filho de 7 anos, na madrugada do dia 5 de janeiro, em Colíder (635 km de Cuiabá). Liliane havia solicitado medida protetiva contra o autor do crime, de 23 anos. No mês anterior, ele chegou a ser preso por descumprir a determinação judicial de se manter afastado da vítima.

No dia do crime, o ex-companheiro de Liliane pulou o muro da residência onde ela morava com os dois filhos pequenos, arrombou a porta da casa e mandou a vítima ficar em silêncio. Ela chegou a pedir que ele não fizesse nada à filha, de 4 anos. O criminoso atacou a vítima com golpes de faca e depois fugiu do local, deixando o filho dela, de 7 anos, gritando por ajuda. O autor do crime foi preso em flagrante, horas após o feminicídio.

Os números reunidos no diagnóstico “Mortes Violentas de Mulheres e Meninas em Mato Grosso” mostram que entre as 47 vítimas de feminicídios, 15 delas tinhas filhos com os autores dos crimes.

O relatório analítico, produzido desde 2020 pela Diretoria de Inteligência da Polícia Civil, é realizado com base nos dados dos boletins de ocorrência e em inquéritos policiais e traz números sobre o local e meio empregado nos homicídios, solicitação de medidas protetivas, perfis das vítimas, vínculo entre vítimas e autores dos crimes e os efeitos da violência contra mulheres.

Perfil das vítimas

Do total de 101 mulheres mortas no ano passado, a maioria estava em plena idade produtiva, 62% delas tinham entre 18 e 39 anos.

Em relação às vítimas de feminicídios, ou seja, cometidos por razão de gênero ou violência doméstica, 44% delas foram mortas pelos companheiros ou namorados; 28% tinham ensino fundamental ou médio e 56% eram pardas.

Os crimes ocorreram em sua maioria no ambiente doméstico, ou seja, 52% foram em residências; outros 22% foram em vias públicas.

O principal meio empregado foi a arma de fogo, em 45% e em 31% dos homicídios foram usadas armas brancas (faca, canivete, facão).

A delegada Mariell Antonini Dias destaca que o estudo ajuda a compreender melhor o fenômeno da violência doméstica, deixando claro o risco a que as mulheres estão submetidas quando vivem em situação de violação de direitos em casa e não procuram ajuda da Polícia.

“Muitas mulheres pensam que o agressor não terá coragem de tirar a vida delas e que as ameaças são vazias. Mas as estatísticas demonstram o contrário, pois mais da metade das mortes de mulheres ocorre em casa, cometidas por pessoas que possuem vínculo com elas. É necessário que todas entendam que a violência pode ser progressiva e cada vez mais letal. E, por isso, devem buscar auxílio para o problema que está dentro de casa, tornando visível para o Estado um fato que apenas quem está na relação tem conhecimento”, observa a titular da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Várzea Grande.

Os familiares também são importantes nesse processo de rompimento do ciclo da violência e tem o dever moral de auxiliar a vítima, buscando o aparato estatal.

“O aplicativo SOS Mulher MT é uma tecnologia muito avançada em prol da mulher, possibilitando que ela acione a Segurança Pública onde quer que esteja, com o simples clicar de um botão. Temos também a Patrulha Maria da Penha em muitas cidades, com acompanhamento da efetividade das medidas protetivas pela Polícia Militar”, pontua Mariell.

(Da Assessoria)

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