Bem Estar

Dor crônica: quando a dor é mais que sintoma e não tem cura

Doença atinge 56% da população mato-grossense e não tem cura, mas pode ser aliviada com a ajuda do médico fisiatra, especialista em dor

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Dor crônica: quando a dor é mais que sintoma e não tem cura
(Imagem: INOR)

Ao completar 50 anos, a doutora em história Dulcinéia Silva Martins viu sua vida tomar um rumo inesperado e doloroso. Ela passou a conviver com dores intensas por todo o corpo. Começaram nas extremidades – mãos, tornozelos e pés – e se espalharam rapidamente. O diagnóstico de artrite reumatoide ativa veio dois anos depois, para então uma nova doença se manifestar, a capsulite adesiva.

O sofrimento só começou a diminuir 10 anos depois. “Passei por tratamentos sem resultados, meu braço ficou sem movimento, tive dores por 24 horas dia após dia. Não dormia, não me alimentava direito, perdi quase 10 quilos nesse processo. Só quando encontrei um especialista em dor consegui recuperar minha dignidade e alegria de viver”, relata.

Dulcineia Silva Martins (Foto: arquivo pessoal)

Um amigo quem comentou com Dulcinéia a existência de médicos que se especializam no tratamento da dor. Em menos de um ano, ela retomou movimentos perdidos, mudou medicamentos e investiu em terapias complementares, como hidroginástica e fisioterapia. “Sou outra pessoa hoje”, afirma.

Dados publicados pela Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor mostram que a dor crônica afeta cerca de 45% da população brasileira, com maior prevalência em mulheres na faixa etária de 45 a 65 anos. Em Mato Grosso, o índice sobe para 56%.

“Quando a dor é persistente por mais de três meses além do tempo normal de cura de uma lesão, ou está associada a algum processo patológico crônico, temos o diagnóstico de dor crônica”, explica Marcela Santa Rosa, médica fisiatra e especialista em dor do setor de Oncologia do Hospital Santa Rosa.

Marcela salienta que se trata de muito mais do que um simples sintoma. O quadro contínuo de dor pode levar a estresse físico e emocional, gerando altos custos financeiros e sociais, e podendo provocar outros problemas de saúde, como imobilidade, depressão, alterações do sono, nutrição e medo.

“Atualmente, temos vários estudos mostrando que as pessoas que sofrem dor crônica passam por mudanças genéticas e cerebrais, o que tem nos levado a tratá-la como uma doença específica”, pontua a médica, que integra a equipe do Hospital Santa Rosa.

Marcela Santa Rosa é médica fisiatra especializada em Dor Crônica (Foto: Arquivo pessoal)

Para diagnosticar a dor crônica, os fisiatras, especialistas em dor, consideram a história clínica do paciente e realizam exames físicos. Para tanto, os médicos adotam um olhar global para o paciente, considerando seu estado emocional e aspectos como a ergonomia no trabalho e os hábitos de sono, entre outros fatores.

Marcela Santa Rosa revela ainda que existem várias opções de tratamento, como medicamentos orais e tópicos, bloqueio de nervos e infiltrações articulares e a desativação de pontos “gatilho”. Os médicos fisiatras também podem lançar mão de opções mais novas, como o uso de canabidiol e toxina botulínica e de tratamentos menos convencionais em casos de dores mais graves, como a neuromodulação.

Em alguns casos, porém, uma simples orientação pode melhorar a vida do paciente. “Um exemplo comum são os pacientes com síndrome do túnel do carpo, uma neuropatia que causa dormência entre a mão e o antebraço. No fim das contas, orientar o paciente sobre seu posicionamento no trabalho pode causar muito alívio”, afirma a médica.

Alívio, pois não há uma cura definitiva para a dor crônica, alerta Marcela. “Nosso foco é melhorar a qualidade de vida do paciente. Buscamos as alternativas de tratamento e o paciente deve investir em uma vida mais saudável, mais ativa. Mesmo que não haja cura definitiva, é sempre possível ganhar mais qualidade de vida”, argumenta a médica fisiatra.

Leide Dayane, de 32 anos, passou a sofrer com a dor de cabeça crônica desde os 20 anos de idade. Era um tormento: a dor a privava de uma vida normal, limitando suas atividades diárias. “Trabalhar era complicado. Eu dormia e acordava com dor”, relata.

Leide Dayane também recebeu o diagnóstico de Dor Crônica (Foto: arquivo pessoal)

Em 2020, ela procurou um neurologista em São Paulo e apostou em novos tratamentos. Mas os resultados não vieram. Até que, ano passado, Leide sofreu uma crise de dor intensa que durou seis meses. As idas e vindas a São Paulo começaram a comprometer seu orçamento e o deslocamento não ajudava com a melhoria do quadro.

Diante do cenário de crise, o neurologista paulista a incentivou a buscar um fisiatra em 2022. “Até então, nem sabia que existia um doutor especialista em dor”, lembra ela. Após a consulta, Leide ficou internada por um período, iniciou um novo tratamento e sua vida começou a mudar.

“O fisiatra não trata só daquela dor específica. É um médico que tenta te ajudar de todas as maneiras possíveis. A gente começa a procurar todos os gatilhos da dor e investiga o que pode ser feito para aliviar. Comigo tem dado certo, não largo da minha fisiatra e minha qualidade de vida é outra”, comemora.

(Com Assessoria)

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