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Coronavírus: mais união, menos politicagem

OPINIÃO | "A dimensão política tem dominado a pauta e comandado o desenrolar da crise", avalia o presidente da Fiemt, Gustavo de Oliveira

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Coronavírus: mais união, menos politicagem
O presidente da Fiem pede união em tempos de enfrentamento ao coronavírus (Ednilson Aguiar/O LIVRE)

Há uma semana expus uma opinião à sociedade sobre a questão do coronavírus, defendendo que se tratava de uma crise de três dimensões: uma crise óbvia de saúde, com consequências econômicas e um grande efeito social.

Como habitante do mundo prático, imaginei que a dimensão política da crise seria menos relevante do que ela realmente foi na última semana. Foi um equívoco: a dimensão política tem dominado a pauta e comandado o desenrolar da crise.

Digo isso porque na semana que passou, pudemos ter diversos exemplos de como a dimensão política pode influenciar de maneira imperativa as decisões a ser tomadas pelas autoridades democraticamente empoderadas para comandar importantes posições públicas neste momento tão delicado da economia do país.

Em âmbito nacional, presidente e governadores não se entendem sobre aspectos fundamentais da crise, seja sobre qual a melhor estratégia de enfrentamento à epidemia, seja sobre a necessidade e o tempo das decisões de restrições à operação de atividades econômicas. Enquanto eles não se entendem, o vírus se prolifera e a epidemia avança.

Esse mesmo cenário se repete em âmbito estadual. Pudemos assistir nos últimos dias a uma profusão de prefeitos municipais tomando medidas em nome da saúde pública, sem ter sido efetivamente demandados a tomá-las por nenhuma autoridade na área de saúde.

Baseados em um efeito manada, criado por um senso comum de que a melhor estratégia é o isolamento total dos indivíduos em uma determinada localidade, diversos prefeitos disparam medidas de interdição de atividades produtivas sem que indicadores vitais para o acompanhamento da epidemia fossem observados para recomendar estas ações.

No jargão popular, queimaram na largada ao decretar um lockdown (o chamado fecha tudo) sem uma coordenação de saúde a solicitar tal medida.

Ciente de que não há como o setor público ter suficientes recursos para suportar o caos econômico que se aproximava com graves consequências sociais, o Governo do Estado publicou o Decreto 237/2020, visando orientar aos gestores municipais sobre a necessidade de observar o que dizem as autoridades de saúde antes de paralisarem a economia em seus municípios e, por consequência, no Estado.

Um decreto rico em orientações que buscam o melhor interesse social, mas infelizmente incapaz de trazer a todos o principal elemento necessário para o enfrentamento de uma crise gigantesca com esta que estamos vivendo: a noção de que o bom senso deve prevalecer.

Inflados por uma decisão do ministro Marco Aurélio de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou que todos os entes podem legislar sobre o tema, muitos prefeitos continuam agindo de maneira descoordenada.

Com isso temos, na abertura desta terceira semana da crise do coronavírus em Mato Grosso, um cenário politico tenso: governadores em queda de braço com o presidente de República, o Congresso Nacional e o Poder Judiciário também em desacordo com estes.

E os prefeitos municipais, em ano de eleição nas cidades, pressionados a tomar decisões que podem impactar muito o destino político de todas as cidades do país em uma eleição que ainda não se sabe se ocorrerá.

Na agenda desta semana dos agentes públicos, precisamos ter muitas horas de conversas, de debates, de discussões – mas todas elas com foco em um consenso sobre a estratégia adequada para o enfrentamento da crise.

É isso que a sociedade espera. É isso que empresários e trabalhadores esperam. É contando com isso que entidades como o Sistema Fiemt continuam atuando, firmes, contribuindo da melhor forma possível na busca por soluções práticas, que respeitem a saúde da população, com o menor impacto possível à economia e, principalmente, à dimensão social.

Com um inimigo tão poderoso já disseminado em nossa sociedade, fazendo diariamente vítimas nos hospitais, nas filas de desempregados e nos pedidos de assistência social, a discórdia e a disputa não podem ser servidos como prato principal nesses encontros. Não é hora de disputa. A hora é de união.

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