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Casos de violência contra a mulher aumentaram 13% em Mato Grosso

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Casos de violência contra a mulher aumentaram 13% em Mato Grosso

Marcelo Jr/Agência Brasil

violência contra mulher

 

O caso da empresária Aline Camila Piran, de 30 anos, que teria sido agredida com um soco na boca pelo empresário José Carbel Maluf no elevador do Goiabeiras Shopping, no último domingo (17/9), não foi uma exceção.

Registrado no boletim de ocorrência como “lesão corporal e ameaça”, o episódio faz parte de uma amarga realidade em Mato Grosso. O número de situações de violência contra a mulher aumentou aproximadamente 13% neste ano na comparação com 2016.

De janeiro a junho, foram contabilizados 19.804 casos, ante 17.714 no mesmo período no ano passado, conforme dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). A quantia refere-se às denúncias que chegam às delegacias espalhadas pelo Estado.

Neste ano, situações envolvendo ameaças e lesão corporal, como as que Aline vivenciou, lideram a lista com 9.929 e 4.862 ocorrências, respectivamente. Na sequência, aparecem injúria (2.335), difamação (1.526), calúnia (836), tentativa de homicídio (156), estupro (125) e homicídio (35).

Para Jocilene Barbosa, presidente do Conselho Estadual de Direitos da Mulher, entidade vinculada à Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos, o aumento nas denúncias formalizadas junto aos órgãos competentes evidencia tanto um crescimento real dos casos de violência, como também o fato de as vítimas estarem se sentindo mais seguras para procurar ajuda.

Parte dessa segurança, segundo ela, se dá em função de medidas como a consolidação da Lei Maria da Penha e o surgimento do próprio Conselho e das delegacias especializadas. A amplificação do debate na sociedade civil sobre assuntos relacionados ao direito das mulheres também é visto por Jocilene como fundamental na busca do público feminino por maior autonomia e atitude frente aos abusos.   

Culpabilização da mulher 

Os avanços, contudo, não encobrem o contexto patriarcal que se revela no cotidiano, por exemplo, no costume de se minimizar os casos em que a vítima sofre violência verbal e psicológica do parceiro/agressor. Outro ponto é a culpabilização da mulher pelos abusos cometidos contra ela mesma.

Por muitos anos, Júlia* (nome fictício) se sentiu responsável pelas crises de ciúme e explosões do então marido, com quem manteve dois anos de namoro e cinco de casamento. Durante esse período, foi xingada, chamada de louca e acusada constantemente de ser infiel.

“Acho que os problemas mais sérios começaram depois de um ano de casados. Ele era extremamente ciumento e possessivo. Tinha ciúme dos meus colegas de trabalho, amigos e qualquer um que não fosse da família. Sempre reclamava que eu dava em cima de outros caras. Se eu chegasse mais tarde em casa falava que eu devia estar transando com alguém do meu trabalho”, contou.

“Depois de um tempo, as brigas começaram a ficar mais feias. Ele se estressava facilmente e a culpa era sempre minha, por ter provocado. Ele dizia que só estava reagindo porque eu tinha feito ele ficar bravo”, disse.

As explosões sempre vinham seguidas de pedidos de desculpas e declarações de amor no outro dia. Esse bom comportamento durava alguns dias e depois voltava tudo de novo. O ápice da humilhação foi em uma discussão em que ele me disse que não me queria mais, que eu estava gorda e ‘muxibenta'”, relatou.

Júlia detalhou que, com o tempo, as discussões foram ficando cada vez  mais violentas, mas que nunca chegou a ser agredida fisicamente. Em uma das brigas, por causa de um violão que ela não queria levar na moto, após ser xingada pelo agressor, ele quebrou o instrumento, batendo-o na parede. “Eu fiquei com medo e, no final, ainda pedi desculpas”, afirmou.

Depois, foi agredida verbalmente muitas vezes ainda, até conseguir o divórcio no final de 2015. “Foi um alívio”, ressaltou. Atualmente, Júlia faz terapia com uma psicóloga para tratar problemas de auto-estima, além de crises e transtorno de ansiedade. “Tomo remédios controlados e vou levando a vida”.

A vítima contou que o terrorismo psicológico parou somente após ela ameaçar levar o caso para a polícia e que, durante todo o tempo, não teve apoio nem mesmo dos familiares. “Achavam que eu estava exagerando”.

Ajuda

Para dar um suporte às mulheres alvo de constantes agressões, físicas, verbais ou psicológicas, e que se sentem fragilizadas ou desamparadas, o Conselho se coloca a disposição para levar adiante as denúncias às autoridades, em busca de providências.

“Recentemente, atuamos com firmeza no caso em que um professor da Universidade Federal de Mato Grosso filmou uma aluna no banheiro. Ele foi demitido”, destacou Jocilene.

“É importante que as mulheres estejam atentas às mais diferentes formas de violência, que não naturalizem situações de abuso, por mais sutis que sejam. Temos que ir atrás de ajuda e procurar fazer valer os nossos direitos”, argumentou.

O contato do Conselho Estadual de Direitos da Mulher é: (65) 3613-9934.

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