Comportamento

Violência sexual: por que algumas vítimas ficam paralisadas diante da agressão?

Entre o medo de ser descreditada e a incredulidade de ver uma pessoa próxima como algoz

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Violência sexual: por que algumas vítimas ficam paralisadas diante da agressão?
(Foto: Dương Nhân / Pexels)

Muitas vítimas acham inacreditável serem abusadas ou assediadas por uma pessoa que deveria trazer segurança a elas. E, por isto, chegam a duvidar de si mesmas e têm medo de denunciar. Para alguns, isso pode parecer exagero, mas quando se pensa que 80% dos autores de abusos sexuais são entre pessoas próximas da vítima, incluindo o pai, o entendimento muda de figura.

A porcentagem vem dos dados coletados pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e nos faz pensar sobre situações em que após a primeira denúncia, muitas outras começam a aflorar como aconteceu em um box de crossfit de Cuiabá, após uma atleta denunciar o abuso por parte do instrutor.

O efeito cascata muitas vezes vem da consciência sobre o que aconteceu e por conta da constatação que o ocorrido não foi normal, como costumam dizer os agressores. A psicóloga Caroline Weiss explica que os assédios e abusos geralmente acontecem em locais que remetem à segurança e por pessoas que ocupam postos sociais que trazem respeitabilidade.

Em 80% dos casos, o criminoso está dentro dos círculo de pessoas próximas a vítima, entre elas o pai. Foto: Reprodução

Uma ação que geralmente acontece de surpresa e que uma resposta rápida, em milésimo de segundos, é algo individual, porque leva em conta várias questões, entre elas o tempo para processar o que está acontecendo, as relações sociais e familiares e o medo de ser alvo de piadas, constrangimentos e, até mesmo, ser tida como “louca”, um jargão que se popularizou quando se trata de mulher.

Associando a teoria ao caso, Weiss faz o seguinte questionamento: – será que o acusado, por ter um cargo profissional e ser uma pessoa de status naquele lugar social, não estaria próximo demais da vítima para ela vê-lo como agressor? E será que ele justifica a abordagem como ao “normal”, por conta de seu lugar profissional, não é coerente?

Na avaliação da psicóloga, todo caso de denúncia de abuso deve ser investigado e as medidas protetivas com relação à vítima precisam ser aplicadas. A apuração dos fatos faz com que outras pessoas se sintam encorajadas a entender que, independentemente de quem seja, o corpo delas não pode ser violado. Mostra ainda que este tipo de comportamento não é aceito mais pela sociedade.

Quem são os culpados do silenciamento dos crimes sexuais?

A confusão no entendimento dos casos de abuso geralmente vem combinado com as palavras do próprio agressor. A psicóloga conta que já atendeu várias pessoas que passaram por situações de assédio ou violência sexual na infância que deixaram marcas profundas e reverberam na vida adulta.

O medo de ser desacreditada ronda essas pessoas e vem associado ao discurso de “é só um carinho”, “eu lhe quero bem”, “eu gosto muito de você” e “é algo normal”. Um cenário que se agrava quando se trata de uma família carente e o agressor também é o benfeitor, alguém que ajuda até mesmo financeiramente os parentes.

Ficar calado, explica Weiss, é favorável porque deixa tudo tranquilo e pacificado. O agressor permanece em situação confortável e a sociedade não precisa se movimentar, rever relações, investigar e agir. “O silêncio é hipócrita e produz mulheres doentes. Então, precisamos falar sobre os tabus, porque eles também são uma forma de controle social”.

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