Em uma longínqua distopia futurista, na esquina obscura de uma cidade duramente vigiada na qual o crime anda livre, ao contrário das idéias, um estudante está voltando para casa para casa quando:

— Ei, ei… E aí, garoto, ‘tá a fim de ler um livro?

— Não, não, ‘tô de boa. Valeu.

— Tem certeza? É que caiu de um caminhão…

— Ah, caiu de um caminhão? É literatura da boa?

— Psssss, fala baixo, pode ter Lacrador por perto, eles se tornaram onipresentes. É da boa, sim. Vai querer o quê? Um Monteiro Lobato?

— ‘Tô a fim de viajar legal, será que não tem algo mais pesado não?

— Meu irmão… tenho aqui um H.P. Lovecraft, um Joseph Conrad… usa, mas pega leve.

— ‘Cê tem A Fantástica Fábrica de Chocolate, adoro Roald Dahl?

— Rapaz, você é dos corajosos! Mas esse aí é difícil de achar.

— Assim, só entre nós, e um C.S. Lewis, um J.R.R. Tolkien…?

— Aí não, pirralho, tudo tem limite!!! Qual vai ser a próxima pergunta, se tem a Bíblia?!?! ‘Tá maluco???

— ‘Cê tem razão… Mas um George Orwell e um Aldous Huxley rola?

— Mas claro que sim, esses aí claro que tem, é a nossa realidade… Fica 400 contos cada.

— Rapaz, mas ‘tá caro isso aí, hein?

— É o imposto. Hehehe Mas ‘cê acha que é fácil vender livro hoje em dia? É viver nas sombras com medo do perigo. Cada hora passa algum deles querendo apreender, prender e arrebentar sem nem processo, sabe como é, Estado Democrático de Direito… de Taubaté.

— É, ‘tá caro mas também não ‘tá fácil de achar… vai, toma, pega aí a grana e cuida porque está difícil ter dinheiro na mão com tudo eletrônico, aí podem rastrear a gente.

— Tranqüilo, na próxima vem que te arrumo um 007 bacanudo, Ian Fleming daquele jeito! Até ‘vô te dá um desconto.

— Caraca, se a minha mãe me pegar usando isso aqui…

— Oh, toma cuidado garoto, ‘tão todos sem censura!

— ‘Tá com cheirinho de livro novo.

— Qual foi, moleque?! Não cheira esse bagulho perto de mim, não; ‘tá querendo que eu vá em cana? Acabar com minha vida? Além de ser preso perder meus bens, ser banido da sociedade e ver minha família perseguida! Fica esperto.

— Foi mal aê.

— Vai, vai, agora mete o pé! Daqui a pouco a Patrulha passa e sabe como são as coisas na Trans-Democracia em que o amor venceu.

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