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Símbolos e tempo

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Símbolos e tempo
(Foto: Divulgação/O Livre)

Por Amini Haddad

Concluímos um ciclo e com ele temos as necessárias reflexões dos ensinamentos que nos foram ofertados. O tempo não oportuniza interrupção. Ele nos coloca frente a frente ao espelho, então categorizado por espaços que foram sedimentados, construídos, alcançados.

Qual o grau de coerência que temos diante das existências humanas compartilhadas?

Estamos inseridos em uma comunidade. Estamos inseridos em uma família. Somos frutos de algo que veio antes de nós e, portanto, nos individualiza como pertencentes a uma trajetória que nos habilita também a descrever cronologias atuais e de nossa ancestralidade. Mas, para além dessas categorias há algo que nos põem descalços diante do tempo da vida, diante da trajetória a ser delineada por ações e condutas.

O que podemos dizer na visão impressa nesses passos?

Fato é que almejamos sempre viver em um mundo sem guerras, sem violações a direitos humanos básicos, sem atrocidades que desfocam “o ser” e projetam monstruosidades que somente redobram ódios, discórdias, contendas e vinganças.

Há um projeto coletivo que nos condiciona a um mesmo plano simbólico, num permanente ansiar de equilíbrios, na dimensão das balanças do nosso tempo ou de amanhãs. Isso poderia ser descrito, nos ensinamentos da hermenêutica de HEIDEGGER, em um “porvir” projetado em sua finitude de possibilidades temporais, com a descrição múltipla linguística bem avençada por GADAMER, no teste da linguagem-coerência como simbolismo, então inerente e central, a descortinar realidades.

Sem desconsiderar o simbólico do todo, há uma dimensão individual que não pode ser jamais perdida, sob pena de não sermos coerentes com o projeto intitulado “coletividade”, ao entendermos que há um programa calcado na percepção de responsabilidade nessas construções. Estas ultrapassam zonas imaginárias e categorizam realidades, ainda que em discursos de uma contemporaneidade representativa, bem descrita aos nossos olhos.

Onde estamos inseridos?

Qual a nossa parcela contributiva?

Não se pode desconsiderar que a coletividade se perfaz de inúmeras individualidades somadas que podem majorar forças, conjunturas comunitárias e oportunidades à vida, em sua coexistência. Entender, compreender é uma forma de contribuir com a humanidade. Mas, não somente nessa projeção globalizada. Esse esforço interno se perfaz em uma autopercepção, compreensão que nos delimita como indivíduos com cotas de responsabilidades, na descrição do projeto externo, inerente a este tempo e de algo ainda a ser desenvolvido como projeção de uma atualidade em um futuro próximo.

Portanto, há algo simbólico a ser perquirido. Os signos podem ser identificados por suas referências (índices), por seus ícones (figuras típicas e atípicas insertas nas culturas) e por sua significação (significados que apontam para algo). Uma camiseta que tem um desenho de um cachimbo não é o próprio objeto presente na vestimenta, mas retrata um ícone representativo de uma significação posta em um dicionário.

Com essa estruturação metodológica, é possível identificar partes da nossa temporalidade em uma representatividade que “imbuímos ser”.

Mas, devemos ser sinceros para uma leitura mais próxima da realidade possível. É exatamente pelo simbólico referenciado, em sua máxima categoria reflexiva, que poderemos desfrutar da condição humana, em um viver consciente de nós mesmos.

O tempo está aí. Está aqui. Dele não se pode escapar.

Há uma dimensão existencial que urge em nosso peito, na nossa alma e nos chamará à realidade antes do apagar das luzes.

Assim, é mais sensato compreender a si no máximo projeto individual de responsabilidade coletiva. Assim, não seremos assombrados pela última hora, onde cobrados, deveremos apresentar a coerência que imprimimos na nossa linguagem existencial, registrada nos passos da vida.

Não se trata de registros na areia. O tempo é impactante. Dele ninguém poderá se eximir em sua parcela condicionante do todo.

Portanto, qual seria o seu símbolo ou símbolos temporais de existência?

Diante dessa ordem reflexiva, vem-me ao pensamento SANTO AGOSTINHO, quando almeja descobrir a verdadeira vida, no sentido do amor. Ele edifica campos vastos e redobra consciência a partir dos ensinamentos das escrituras (1Coríntios 13).

Mas, a ordem de pensamento ainda pode ser mais efetiva no desfrutar concreto das vivências humanas, quando da leitura da destacada tese de doutoramento de ARENDT, em um projeto de percepção da caridade, no conceito de amor.

É pela doação, em percepção do outro, sua dor e realidade, que haverá contextualização do que denominamos respeito, em sua máxima. Ademais, as escolhas são individuais, ainda que possivelmente maximizadas por uma orientação, em um dado conceito coletivo.

Por hora, compete-nos uma reflexão sobre símbolos e tempo, sem perdermos a consciência de que… sem amor, nada terá sentido.

Amini Haddad é Juíza e Professora Pós Doutora em Ações Coletivas e Direitos Sociais pela Universidad Salamanca. Doutora em Processo Civil e Efetividade do Direito pela PUC/SP. Doutora em Direito (Direitos Humanos, Multiculturalismo e Gênero) pela Universidad Católica de Santa Fe. Mestre em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC/RJ, MBA em Poder Judiciário pela FGV-Rio, com intercâmbio judicial nas Cortes Americanas. Graduada e Laureada pela Universidade Federal de Mato Grosso. Escritora, com obras publicadas nacional e internacionalmente. Membro da Academia Mato-grossense de Letras, da Academia Brasileira de Direito, da Academia Internacional de Cultura e da International Association of Women Judges – IAWJ. É Juíza Auxiliar da Presidência do Conselho Nacional de Justiça – CNJ e Coordenadora do Núcleo de Estudos Científicos sobre as Vulnerabilidades da FD-UFMT.

 

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