Os católicos de Cuiabá ao mesmo tempo que comemoravam 30 anos da vinda do Santo padre, o Papa Joao Paulo II, foram surpreendidos com a notícia da morte de um dos mais fervorosos devotos de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, o cuiabano Nilson Paulo Santos Arruda, que carinhosamente era chamado de Baíco.

Segundo conta a história de São Benedito, quando jovem o santo negro foi mandado para o Mosteiro da Sicília, dos franciscanos capuchinhos, Benedito entrou como irmão leigo, assumindo uma função tida como secundária, a de cozinheiro. São Benedito, porém, fez da cozinha um santuário de oração e fervor, vivia sempre alegre e com muita mansidão conquistando a todos com sua comida saborosa e seu carisma. Aproveitava-se dessa situação para doar as sobras da comida para os mais pobres, matando a fome de muita gente necessitada. Foi assim que operou verdadeiros milagres de fartura.

Alguns milagres de multiplicação de alimentos aconteceram na cozinha de São Benedito Brasil á fora, por isso, ele é tido carinhosamente pelo povo como o santo protetor da cozinha, dos cozinheiros, contra a fome e a falta de alimentos.

Por esse motivo nas casas das famílias cuiabanas o nicho do santo é colocado na cozinha e é de costume oferecer a primeira xícara de café do dia a São Benedito, para que não falte alimento na mesa.

Inspirado nos ensinamentos de São Benedito, Nilson que era de todos os Santos, dedicava-se com exclusividade para os assuntos da igreja, era sempre convidado para ser festeiro em inúmeras festas espalhadas em Cuiabá, apesar de sua preferência por São Benedito.

Sua dedicação pelas festas de São Benedito, rendeu-lhe uma importante homenagem em 2015, onde a Câmara Municipal de Cuiabá concedeu-lhe o título honorífico da Ordem do Mérito Legislativo São Benedito.

A tradição da festa de São Benedito deixou de ser realizada nas grandes casas das famílias cuiabanas entre os anos na década de 1970, sendo a última realizada na casa de Dona Bem Bem, passando então a ser realizada na própria Igreja. Desde 1991, pelo menos, lá estava todos os anos, Nilson a comandar a cozinha, aos 29 anos de idade, cuidando dos temperos e medidas da comida oferecida aos fiéis se tornou uma espécie de guardião do livro secreto e sagrado de culinária de São benedito.

A quase tricentenária Irmandade dos Pretos de São Benedito ontem estava de luto e no cortejo funeral houve muitas homenagens. Nilson foi o primeiro cozinheiro negro ordenado Chefe Geral da Cozinha de São Benedito, cargo de enorme distinção e respeito entre os membros da irmandade.

A despedida foi cercada de muita emoção, a Igreja de São Benedito lotou para a missa de encomendação da alma de Nilson e em seguida o cortejo seguiu até o Cemitério da Piedade formada por membros da irmandade e amigos das várias comunidades religiosas, muitos com as bandeirinhas da festa para fora dos carros, como último adeus.

Fiquei pensando na volta para casa quantas pessoas humildes como seu Nilson ao invés de reclamar das dificuldades, passam a vida inteira a praticar caridade e a ajudar o próximo, inspirados pela história do Santo? Quantas festas de aniversários, batizados, reuniões de domingo entre as famílias em que a mesa posta esteve sobre as bênçãos de São Benedito e as mãos abençoadas de Mestre Nilson?

Lembrei das inúmeras matriarcas negras com as famílias em roda dos fogões ou das mesas das cozinhas nos domingos nos quintais cuiabanos, todo mundo coloiado, unidos pela fé e pela deliciosa gastronomia herdada dos ancestrais.

Fato intrigante e curioso que chamou atenção de todos na hora de sepultá-lo foi que exatamente em frente da porta do túmulo dedicada ao Nilson, de maneira espantosa tinha uma imagem de São Benedito, recepcionando-o.

Soubemos então que era uma coincidência abençoada, pois aquela imagem fazia parte de um túmulo do lado que estava em reforma e tinha uma justamente na tampa uma homenagem a São Benedito em azulejo.

Alguém me disse: São Benedito não abandona nunca seus filhos caridosos na hora da sua morte! Esse foi o recado e a mensagem que levei de sua partida.

Bendito sejais São Benedito que nos deixou o exemplo!

Bendito sejais Mestre Nilson, descanse em paz!

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