Depois que o governo de Mato Grosso assumiu a substituição do VLT – Veículo Leve sobre Trilhos – pelo BRT – Bus Rapid Transit -, as diferenças entre as gestões do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), e do governador Mauro Mendes (DEM) acabaram exaltadas. Enquanto um deixa claro que a emoção é um dos fatores de suas decisões, o outro atribui tudo à razão. E, neste jogo, os dois acabam assumindo os custos políticos dessas escolhas.
Entre o risco de ser desacreditado ou tido como pouco sensível às angústias dos eleitores, os dois trocam farpas constantemente na imprensa. Uma oposição de princípios necessária, segundo o historiador Suelme Evangelista, e que evidencia o que foi ofertados por ambos quando candidatos aos cargos que hoje ocupam.
Evangelista lembra que, desde as eleições, nenhum deles foi “sorrateiro” diante da questão. Pinheiro exaltou o sentimento cuiabano nas duas campanhas à prefeitura das quais participou e acabou reeleito.
Já Mendes, apresentou como diferencial as expertises gerenciais adquiridas no mundo dos negócios e na sua gestão como prefeito, que nem de longe manteve uma relação afetiva com a população e, mesmo assim, o fez chegar ao governo do Estado.
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Entre o populista e o popular
Mauro Mendes enterrou o projeto do VLT em 21 de dezembro de 2020, poucos dias antes do Natal. Anunciou que o modal seria substituído pelo BRT, por conta de um estudo que mostrava a inviabilidade econômica da obra.
Para o prefeito reeleito, a decisão foi unilateral e jogou um “balde de água fria” na população, que aguarda há quase 9 anos para usar os vagões e vê diariamente os esqueletos da construção pela cidade.
Emanuel rebateu afirmando que não é populista e, sim, popular, tocando mais uma vez na “ferida” de Mendes: a falta de afetividade com a população.
Mas, espera um pouco. Vocês sabe a diferença entre populismo e popular?
Suelme Evangelista esclarece que as palavra são parecidas, mas os significados muito diferentes. Ser popular tem relação com o carisma do político e da imagem que ele mantém de proximidade com o povo.
Já o populismo é algo mais denso, porque se trata de um estratégia de governo, na qual se usa da demagogia para conduzir e liderar a massa diante das decisões tomadas.
“É a manipulação de massas por meio de uma suposta ameaça oculta, que põe em xeque seus propósitos de ajudar aqueles mais necessitados. É comum um plano de comunicação e de gestos que sinalizam essa ‘popularidade’ constantemente para se garantir no poder”, explica.
O historiador lista exemplos clássicos deste modelo político no Brasil. Entre eles está Getúlio Vargas, João Goulart, Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.
Abrindo o leque para o exterior, o modelo foi visto durante o governo de Evo Morales, na Bolívia, Viktor Orbán, na Polônia, e Nicolás Maduro, na Venezuela.
“O populismo usa medidas demagógicas e impossíveis para resolver problemas complexos e está mais preocupado com a opinião pública e ‘jogar pra plateia’ do que com a racionalidade da administração”, finaliza Evangelista.
Diante desta explicação, dá para entender porquê Emanuel Pinheiro ficou tão irritado com o título e logo se posicionou, pegando no “calcanhar de Aquiles” de Mauro Mendes.