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Papo tattoo: saiba mais sobre arte na pele

12 minutos de leitura
Papo tattoo: saiba mais sobre arte na pele

Arte milenar e expressiva, a tatuagem se manifesta em diferentes estilos, traços, tamanhos, e desperta a curiosidades daqueles que gostam e de quem não conhece. Questões como dor, preço e confiança, sempre surgem quando o assunto é tatuagem, arte que está saindo das margens e conquistando os cuiabanos. Para tirar as dúvidas de muita gente, o LIVRE conversou com alguns profissionais jovens e veteranos que explicaram sobre mercado, tendências e deram dicas para quem quer ser riscado.

Ainda não conhece o trabalho dos tatuadores de Cuiabá? Confira também alguns estúdios que visitamos.

Ednilson Aguiar/Olivre

 Estúdio de tatuagem

Cecília Junqueira e Edson Ferreira afirmam que aceitação de trabalhos autorais tem sido bem maior

Comercial ou autoral?

Existe uma diferença muito grande quando se trata de tatuagens comerciais e autorais, principalmente para trabalho do tatuador. Um trabalho comercial envolve reproduções, desenhos prontos ou os mais clássicos. Já os autorais é consequência do processo de criação, estilo e referências do profissional. Não são todos os tatuadores que desenham e criam, mas a tendência de um público mais antenado é a exigência de trabalhos criativos.

Veterano em arte na pele em Cuiabá, Edson conta que quando começou, a quantidade de profissionais no mercado que trabalhavam com criação era muito restrita. Tatuagem era uma atividade de reprodução. “Antigamente existiam catálogos nos estúdios e o pessoal tinha que escolher entre aqueles desenhos que estavam ali”.

O tatuador também acredita que o cenário em Cuiabá mudou muito nesse aspecto e afirma que a aceitação de trabalhos autorais tem sido bem maior. “No meu tempo se você falasse autoral a pessoa já ia para outro estúdio”, brinca.

A companheira de estúdio, Cecília Junqueira, explica que a procura pelo trabalho autoral envolve uma identificação do cliente com o profissional e é resultado da adaptação de ideias. “Muita gente me fala ‘eu quero flor tal, mas eu gosto do seu traço e você pode fazer no seu estilo’, então eu vou fazendo e mostrando para pessoa que também adapta”.

A tatuadora Eliz Haddad explica que a criação demanda tempo, o que agrega valor simbólico e monetário ao trabalho, mas ela acredita que o público já está sabendo valorizar esse aspecto no trabalho do profissional.

Ednilson Aguiar/Olivre

 Estúdio de tatuagem

Jean Siqueira: “tendências mudam muito, mas alguns estilos sempre ficam”

Estilos

Realismo, realismo colorido, preto e cinza – muita sompra e pouca cor –, blackwork, aquarela – sem contorno –, old school – linhas grossas e limitação de quatro cores, neo trad – um old school mais moderno e detalhado – e etc. Assim como qualquer trabalho visual, existe uma diversidade de possibilidades estéticas para a arte na pele. Sugerimos dar um Google para conhece-los melhor.

A maioria dos tatuadores concordam que existem tendências de estilos que variam de contextos e da demanda de determinados grupos. “Eu já percebi que varia até de região. Quando alguém de um estúdio é premiado em determinado estilo, a galera é pirada nesse estilo”.

Hoje a grande procura é pela tatuagem blackwork. “Só no preto ou com pouca cor”, explica Eliz. Jean Siqueira concorda: “Hoje está rolando muita tatuagem blackwork e minimalista, com muitas linhas, texturas e pontos. Mas muda muito e tem estilos que ficam sempre. O tradicional old school, o preto e cinza, por exemplo, sempre tem muita procura”.

Fazendo de tudo um pouco, a tatuadora também percebe preconceitos quando o assunto é o estilo de trabalho de homens e mulheres. “Quando eu faço um tipo de trabalho que as pessoas acreditam que mulheres não fazem, como o realismo e o preto e cinza, a pergunta é sempre quem é o tatuador”, conta.

Ednilson Aguiar/Olivre

 Estúdio de tatuagem

Eliz Haddad: “Se está na dúvida, cor você não tira, o contrário você faz”

Cor

O que mais diferencia os trabalhos, além do estilo e como resultado deles, é a utilização da cor. A tatuadora Eliz Haddad que sempre priorizou os trabalhos coloridos, mas faz de tudo, acredita que este é um dos principais fatores no momento de decisão. “Existe uma grande diferença de foco nesses dois tipos de trabalho”.

A tatuadora também é categórica ao afirmar que a pessoa precisa gostar muito de cor para tatuar no corpo esse tipo de trabalho. E aconselha: “Se você está em dúvida, espera, faz no preto e cinza e depois você pode colorir, porque você não tira a cor, o contrário você faz”.

Quando a questão é a tatuagem colorida, as pessoas geralmente se preocupam com a influência do tom da pele no resultado da cor do desenho, o que, segundo Eliz, realmente deve ser considerado. “A tatuagem funciona de forma transparente sobre a pele, então o tom da pele vai influenciar diretamente no resultado da tatuagem”, afirma.

Muito procurada pelo estilo aquarela, ela também acredita que mesmo com as tendências, a procura pelo trabalho colorido nunca cessa.

Ednilson Aguiar/Olivre

 Estúdio de tatuagem

Cry Baby, barbearia e estúdio de tattoo

Traço

Uma das principais preocupações de quem procura fazer uma tatuagem é a espessura do traço. São muitos os aspectos que o definem, como a agulha utilizada, o estilo da tatuagem e até mesmo a habilidade e a mão do profissional.

“O traço está muito relacionado com o estilo da tatuagem, a old school e a neo trad, por exemplo, precisam de traços mais grosso e marcados, senão você descaracteriza o estilo”, explica a tatuadora Eliz Haddad.

Mesmo sendo resultado do estilo do trabalho, Jean Siqueira, que já está no mercado há 13 anos, acredita que qualquer bom tatuador faz um traço fino que exige firmeza, independe do estilo que mais faz ou se identifica.

No entanto, Eliz afirma que muitos mitos relacionam a espessura do traço com a qualidade do trabalho. Um bom tatuador faz um traço fino, mas não somente. “Eu percebo que a grande procura por traços finos na verdade é uma procura por traços uniformes, o que não tem a ver com a espessura do traço”.

A agulha utilizada é o que determina, mas Cecília Junqueira acredita que a identidade do trabalho do profissional também está muito presente no resultado. “Eu acho que é mão, cada estilo tem um traço que você vai usar uma determinada agulha, mas também vai da pegada e a firmeza de cada um. O mesmo desenho que eu ou o Edson tatuar vai ficar diferente”, explica.

Ednilson Aguiar/Olivre

 Estúdio de tatuagem

 

Preço

Visitando alguns estúdios de Cuiabá, o LIVRE percebeu que os preços mínimos variam entre de R$100 a R$150. A questão do valor, no entanto, é muito relativa para todos os tatuadores, geralmente calculado pelo trabalho que o artista terá com o desenho. O tamanho, portanto, não é necessariamente o principal fator. “Às vezes pode ser uma tatuagem pequena com muito detalhe que vai custar mais”, explica Jean.

Segundo o tatuador, o local também interfere na dificuldade. Desenhar na costela, atrás da orelha, no rosto, nas mãos e dedos, por exemplo, são mais demorados. “O profissional e o cliente tem pouco apoio e a pigmentação precisa de mais reforço e paciência”.

“Não existe uma tabela para o preço. A gente tem uma base de valor mínimo que chega a ser próxima, mas como é uma arte e está relacionado ao trabalho, não é um produto que você compra”, explica Eliz Haddad. “Preço é o que você cobra por aquilo, valor é o que você enxerga que vale, então isso é muito pessoal”, completa.

O trabalho autoral, por exemplo, exige um tempo maior de pesquisa, sendo assim, mais valorizado.

Ednilson Aguiar/Olivre

 Estúdio de tatuagem

Hiasmyn Lorraynne: “Há dez anos atrás você não precisava necessariamente desenhar para ser um tatuador e hoje muita gente que desenha resolveu tatuar”

Profissionalização

Os tatuadores cuiabanos comemoram a profissionalização do ramo na região e são otimistas quanto a valorização do trabalho. “Hoje as pessoas estão tendo uma visão de arte, antigamente a tatuagem era um trabalho muito marginalizado”, ressalta a tatuadora Raiza Peralta.

A maioria acredita que tem mais gente entrando no mercado das tatuagens que está muito fértil para os artistas visuais. Hiasmyn Lorraynne trabalha com ilustração há 4 anos e com tatuagem há pouco mais de um ano e conta que no estúdio onde ela e mais dois ilustradores trabalham, a tatuagem é mais lucrativa que o desenho em papel. “A gente vende menos quadros do que tatua”, afirma.

“Eu acho que sempre passa na cabeça de quem trabalha com arte ou criação a ideia de tatuar” completa a tatuadora Eliz Haddad.

Para Edson Ferreira, essa qualificação do profissional da tatuagem e do próprio público é consequência de um maior acesso à informação. “Para você comprar material e trocar informação sem internet, por carta ou telefone, era muito demorado”, conta. “Antigamente era quase impossível você reproduzir um trabalho até os 90%. Se você levasse um trabalho no estúdio e ficasse 30%, o resultado já era o melhor”, completa.

Além disso, o público está muito mais cauteloso quanto aos profissionais, materiais utilizados e cuidados necessários. Os estúdios por sua vez, também buscam a profissionalização. “Se tivesse dez estúdios legalizados eram muitos”, afiram Edson.

Para ele, aprender também está mais fácil e o crescimento do mercado é consequência da união de artistas. “Cuiabá está crescendo e se a gente fizer igual antigamente que tatuador não podia se encontrar na rua que faltava brigar, nunca vai crescer e arte não vai ser vista como arte. As pessoas novas estão querendo aprender e eu mesmo sempre abri a porta para todo mundo”.

Ednilson Aguiar/Olivre

 Estúdio de tatuagem

Trabalho do tatuador Neto no Tattoo Gallery

Dor

A maior preocupação de quem vai fazer a primeira tattoo é a dor. Ser riscado dói, mas profissionais garantem que a questão bem relativa. “A dor é uma preocupação geral, mas é bacana porque na primeira tatuagem a pessoa vem esperando muito mais dor do que elas sentem”, revela.

O tatuador Dark Jordão explica que a dor é um conjunto de fatores físicos e psicológicos, mas os locais do corpo onde a pele é mais fina geralmente são mais sensíveis, porque são mais próximas ao osso, o que varia de pessoa para pessoa.

Eliz Haddad ainda ressalta que a dor deve ser encarada com uma processo ritualístico. “A gente condiciona o que a gente suporta, é um processo ritualístico, tudo o que a gente tem que lidar com o autocontrole da situação”, tranquiliza.

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