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Paciente com câncer sem cura desafia os próprios limites ao completar a Corrida de Reis

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Paciente com câncer sem cura desafia os próprios limites ao completar a Corrida de Reis

Arquivo Pessoal

Vanda Corrida de Reis

Maria Vandelice completou a corrida e comemorou a vida

Em 2015, Maria Vandelice de Souza Galvão, 45 anos, descobria estar com um câncer raro chamado “mieloma múltiplo”. A expectativa de vida para esse tipo de câncer é de três anos, mas, batalhadora desde sempre, ela não desistiu de viver e neste domingo (07), três anos após o diagnóstico, completou a Corrida de Reis e comemorou a vida.

Essa foi a primeira corrida da qual Vanda, como ela gosta de ser chamada, participou. Ela contou ao LIVRE que antes da doença já praticava esportes, mas nunca foi muito dedicada.

“É a primeira vez que participo, eu estou desafiando os meus próprios limites, porque na realidade, se você for pesquisar, é como se eu tivesse no máximo três anos de vida após a descoberta da doença, e eu estou muito bem, muito além do que a medicina esperava”, contou.

A sensação de participar da corrida depois de três anos de tratamento, segundo Maria Vandelice, foi inexplicável.

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Vanda Corrida de Reis

Ela fez todo percurso com o sorriso no rosto

“Foi inexplicável, quando eu cheguei lá embaixo, na ponte Sérgio Motta, que vi aquele mar de gente… passou um filme na cabeça. Porque há três anos eu estava na Santa Casa nesse período, internada, sem ver o sol”, lembrou.

Ela contou que, na época da internação, teve uma missa na capela da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá, em que ela participou. E que ao abrir a porta do local, começou a chorar.

“Me perguntaram por que eu estava chorando, falei ‘gente, estou chorando porque vi o sol’, eu pensei que eu não ia ver o sol mais. E hoje foi assim, passa um filme na cabeça, uma gratidão muito grande, uma permissão de vida, de estar viva e de mostrar, para quem está no mesmo tratamento, que nós também podemos ter qualidade de vida”, disse.

Um dos motivos que levaram a nordestina a participar da corrida é mostrar para as pessoas que estão passando por uma doença a importância de não desanimar. ”Tenho como objetivo levar essa informação às pessoas que estão no Hospital de Câncer”.

Aliás, esta não é a primeira vez que ela se torna notícia. Com sua sede de viver, em setembro de 2017 Maria Vandelice e o marido emocionaram os demais pacientes e médicos do Hospital do Câncer em um lindo casamento na capela do Hospital do Câncer.

Ao lembrar da cerimônia, Vanda fez questão de dizer que nem ela imaginou que seria tão lindo. Ao marido, que esteve ao seu lado desde o início da doença, ela é só elogios.

“É uma pessoa maravilhosa, companheiro maravilhoso. É mais estimulo de vida mesmo”, disse.

O diagnóstico

Maria Vandelice nasceu no sertão nordestino, mas, depois de uma grande seca, foi ainda criança, com cinco anos, para São Paulo. Lá cresceu e se casou.

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Vanda Corrida de Reis

Modelo criado e costurado por Maria Vandelice antes da doença

Após um divórcio, veio para Mato Grosso e abriu um ateliê de costura, em que fazia vestidos de festas. O negócio deu tão certo que ela conseguiu trazer os pais e fazer a vida em Cuiabá, mais exatamente no Bairro CPA.

Em 2012, começou a sofrer com dores cada vez mais fortes e cansaço nas pernas. “Eu acreditava que o cansaço era por eu ter o ateliê de costura, aí resolvi dar um tempo e fazer só a faculdade”, contou.

Porém, a pausa no trabalho não foi suficiente e as dores só aumentavam. Depois de três semestres na faculdade de moda, precisou trancar.

Em 2015, realizou uma cirurgia invasiva, em que retirou dois tumores, o útero, os ovários, as trompas e um pedaço do intestino.

“Aquele cansaço era por causa de duas bolas enormes dentro de mim, que foram retiradas. Ai fiz a cirurgia e descobri o tipo de câncer raro, que não é comum na minha idade”, disse.

No princípio, ela praticamente perdeu a capacidade de andar. Ela conta que a dor era tão grande que, se andasse 50 metros, já precisava sentar. Foram dois anos e meio em uma cama.

Em junho de 2017, depois de parar a quimioterapia, deixou de sentir a dor nas penas e retornou à vida normal, ou como ela mesma disse, muito melhor do que antes.

Ela segue em tratamento, mas com a excelente resposta do organismo, deixou de precisar tomar medicação. Em fevereiro terá apenas uma consulta de acompanhamento.

O segredo para a melhora? “O que faz a pessoa ter a qualidade de vida melhor é a mudança de sentimento, de pensamento”, disse.

“As pessoas, só pelo simples fato de saber que não têm cura, já entram em depressão e desanimam, não querem mais saber de nada. E eu não, foi um dia que eu chorei e depois falei ‘não, se é para viver com isso, vamos viver’; e eu estou muito bem, com a qualidade de vida muito boa”, completou.

Assim que voltou a andar, disse à médica que queria se preparar para uma corrida e teve como resposta que essa não era uma ideia muito prudente.

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Vanda Corrida de Reis

Mesmo contra a recomendação da médica ela se preparou por quatro meses para a corrida

“Mas como boa nordestina que sou, não desisto. Falei com uma amiga personal e ela me ensinou passo-a-passo para eu fazer meus treinos no Parque das Águas”, contou, aos risos.

Em setembro começou os treinos. Caminhava cinco minutos e corria 30 segundos. Tudo os poucos, para não sofrer nenhuma lesão. Neste domingo, conseguiu completar a corrida correndo dois minutos a cada cinco caminhados.

E ela já planeja os novos desafios, que são as corridas da polícia. Além disso, em 2018 também voltará a exercer sua profissão e talento natural: a costura.

Para os pacientes que ainda lutam contra o câncer, principalmente os que pesquisam os riscos e tempo de vida na internet, ela fez questão de deixar uma mensagem:

“A gente tem que mudar o sentimento e a forma de pensar, isso é uma estatística, eu não sou dessa daí, eu vou criar minha própria estatística. Então você muda sua forma de pensar e é nisso que ganha força, incluindo a fé junto, a fé em um Deus superior que te deu a vida. Isso tem que andar junto: a fé e a força de vontade”.

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