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Francisquito se torna fonte de renda para haitianas em Cuiabá

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Francisquito se torna fonte de renda para haitianas em Cuiabá

Rodrigo Vargas/O Livre

Haitianas

A migrante haitiana Yoleine Jean: dezesseis meses de desemprego em Cuiabá

Há cerca de cinco anos, quando a estudante Yoleine Jean chegou a Cuiabá, o cenário era de otimismo, crescimento e grande demanda por mão de obra.

Uma situação exatamente oposta à que havia deixado em sua terra natal, o Haiti -país mais pobre das Américas, devastado pela guerra civil e por catástrofes naturais.

Sozinha, sem compreender sequer uma palavra em português, foi à rua e conseguiu se engajar nas muitas frentes de trabalho abertas na construção civil naquela época.

Não se falava em crise. A capital de Mato Grosso, por exemplo, respirava Copa do Mundo, com suas ruas e avenidas fechadas e esburacadas em dezenas obras de preparação.

Aquele tempo passou. E deixou muitos migrantes como ela em uma encruzilhada. “Estou há 16 meses sem trabalho. Está muito difícil”, relata ela.

Sem condições nem para voltar ao país de origem, ela conta que suas despesas básicas (alimentação, energia elétrica e aluguel) são hoje bancadas por familiares que ficaram por lá.

O caso de Yoleine não é isolado entre os haitianos, mas integra um recorte populacional ainda mais vulnerável, segundo quem trabalha diretamente com o tema: o das mulheres migrantes.

“Para elas é mais difícil conseguir trabalho. As vagas na construção civil, por exemplo, geralmente são preenchidas por homens”, conta Eliana Vitaliano, coordenadora do Centro de Pastoral para Migrantes (Casa do Migrante).

Algumas delas foram deixadas pelos maridos, que seguiram para tentar a sorte no México e nos Estados Unidos. Outras, como Viliane Louis, enfrentam o desemprego junto com o companheiro.

“Quando viemos, há dois anos e seis meses, diziam: no Brasil é bom, tem emprego. Mas, nesse tempo, consegui trabalhar só seis meses”, relata.

Rodrigo Vargas/O Livre

Haitianas

Viliane Louis: boatos sobre grande oferta de empregos no Brasil se tornaram frustração

Em razão deste perfil, Viliane, Yoleine e outras 28 mulheres haitianas foram selecionadas e hoje integram um projeto piloto que busca construir uma alternativa conjunta para a geração e renda por meio da gastronomia.

“Foi uma demanda que partiu delas, pela experiência que muitas já possuíam no país de origem”, diz a psicóloga Bianca Pistório, consultora da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que financia a iniciativa.

Batizado como “Mulheres do Haiti”, o projeto reúne ainda o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait-MT), a Casa do Migrante e o curso de Gastronomia do Centro Universitário de Várzea Grande (Univag).

Francisquito
A primeira etapa após a seleção consistiu em aulas práticas sobre panificação e produção de pratos típicos da culinária brasileira e cuiabana. A elas também foram apresentados conceitos de economia solidária, direitos humanos e a legislação brasileira.

Depois disso, como primeira experiência comercial, as alunas decidiram apostar em uma iguaria tradicional: o francisquito, biscoito à base de trigo e gordura que faz parte da memória afetiva da cuiabania.

Rodrigo Vargas/O Livre

Haitianas

À base de trigo e gordura, francisquito ganhou um toque haitiano: amendoim

“É uma receita fácil, barata e que pode ser feita em uma cozinha simples”, relata a consultora a OIT.

A coordenadora do curso de gastronomia da Univag, Adriene Paiva, diz que as alunas se revelaram ótimas cozinheiras e que, por conta própria, decidiram acrescentar um toque haitiano ao biscoito tradicional: o amendoim. “Deu muito certo”, afirma.

O próximo desafio, segundo ela, é padronizar a receita, criar rótulos e embalagens próprios para que o francisquito haitiano ganhe o mercado com um aspecto profissional.

Autoestima
Para Marilete Girardi, auditora do Trabalho e representante do Sinait, a simples participação nas aulas já trouxe resultados positivos para a autoestima das haitianas.

“Quando vêm ao Brasil, eles costumam gastar muito pouco por aqui. Quase todo o dinheiro que ganham vai para a família que ficou no Haiti. Então, quando isso não é possível, a frustração é muito grande”, relata.

De acordo com a consultora da OIT, outro objetivo do projeto é a definição de uma metodologia que possa ser replicada em outros lugares do Brasil.

“Não apenas a OIT, mas outros órgãos interessados em apoiar grupos vulneráveis, poderão usar essa metodologia e, consequentemente, combater o desemprego”.

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